sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Caetano Veloso sobre os leitores de Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho


Caetano Veloso está certo sobre os leitores de Reinaldo Azevedo



Obs.: O texto original de Caetano Veloso está reproduzido ao fim do primeiro, o comenário de Paulo Nogueira


Texto de Paulo Nogueira

Caetano Veloso machucou Reinaldo Azevedo. Magoou. Feriu.
Em sua coluna no Globo, ao falar sobre direita e esquerda no Brasil, ele disse que Azevedo parece se alegrar em ser lido por malucos que acham que a Globo está a serviço do comunismo internacional.
Foi uma definição dura, precisa e nada lisonjeira do público que Reinaldo Azevedo gosta tanto de invocar.
Num texto sobre as revelações de Glenn Greenwald veiculadas no Fantástico, muitos leitores de Azevedo disseram que a Globo estava cada vez mais à esquerda.
Pausa para risada.
Semanas atrás, sobre o mesmo assunto, eu dissera algo parecido sobre as pessoas que frequentam o blog: Reinaldo Azevedo escreve coisas repulsivas para leitores repulsivos.
Tinha me chamado a atenção, particularmente, o conteúdo homofóbico, preconceituoso e ignorante dos leitores de Azevedo ao comentar um texto sobre o parceiro de Greenwald, que fora detido em Heathrow.
Caetano fez uma conexão entre os leitores de Azevedo e os do filósofo, aspas, Olavo de Carvalho. Para os últimos, de acordo com Caetano, o NY Times é um perigoso agente do comunismo.
Nova pausa.
Outro blogueiro da Veja, Rodrigo Constantino, entrou na briga. Sua maior contribuição – além de sugerir que Caetano está senil – foi apoiar a hipótese de que o NY Times é realmente subversivo.
Bem, sobre o comunismo da Globo Constantino silenciou.
Reinaldo Azevedo parece transmitir a seus leitores com desvelo a chamada ignorância enciclopédica. Nos últimos dias, por exemplo, foi cômico vê-los combater, como se fossem Cíceros, as bases do voto com o qual Celso de Mello aprovou os embargos infringentes. Não sei se Mello agradeceu pelas aulas recebidas, em jurisdiquês, de Azevedo e amigos de jornada.
No texto que doeu em Reinaldo Azevedo, Caetano Veloso citou uma frase de Paulo Francis. Francis, em sua monumental arrogância, dizia que leitor que escreve carta para jornal só entrava a bala em sua casa.
É um absurdo, naturalmente. Mas no caso específico dos leitores de Reinaldo Azevedo – um grupo pequeno e ruidoso que costuma perder todas as eleições e cujo poder de convencimento fora do gueto exíguo é zero – a frase de Paulo Francis até que faz sentido.
Eles são grosseiros, toscos, desinformados, egoístas, maldosos. Torcem fanaticamente pelo câncer dos “petralhas”. Parecem acreditar que vivemos numa ditadura “bolivariana” e que os médicos cubanos são espiões comunistas.
Como o padrão dos comentários é constante, suponho que sejam sempre as mesmas pessoas que se conectam o tempo todo ao blog e ali se animam a compartilhar diariamente suas convicções com a humanidade.
O nível conta muito sobre o próprio Reinaldo Azevedo, uma vez que é ele quem aprova – ou censura – cada comentário. O que ele publica é, portanto, o que ele tem de melhor a oferecer no que diz respeito ao cérebro de seus seguidores.
Caetano Veloso não poderia estar mais certo.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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Interessante


Caetano Veloso

Fonte:   http://oglobo.globo.com/cultura/interessante-9962814


O espaço para comments na internet é, em geral, um paraíso para os que têm parafusos a menos

RIO - Gostaria de ter tido tempo para refletir antes de escrever. Mas aconteceu o contrário. Trabalhos dobrados se sobrepõem à montanha de assuntos de que eu queria poder tratar aqui hoje. Então vai tudo sem reflexão mesmo (não que isso seja uma novidade nesta notoriamente caótica coluna). Claro que vi um bom número de tweets ofensivos à minha pessoa por causa da foto com máscara tipo Black Bloc. E posts longos de blogueiros variados. 

Não vou evitar comentar: resumo dizendo que tudo parece maluquice pura. E lembrando que Paulo Francis dizia que quem escreve cartas para a redação é doido: o espaço para comments na internet é, em geral, um paraíso para os que têm parafusos a menos. Mas coisas mais interessantes do que eu mesmo se impõem. Um comentário de acompanhante de famoso blog direitista (o do Reinaldo Azevedo, que, não sei por que, se alegra em fazer sucesso com aquele tipo de plateia) protesta contra a manobra “esquerdista” da TV Globo ao pôr no ar, no “Fantástico”, reportagem sobre a espionagem americana no Brasil. Para ele, a TV Globo é um veículo da conspiração comunista internacional. O que, para nós brasileiros, soa mais estapafúrdio do que as reiteradas afirmações de Olavo de Carvalho sobre o “New York Times”, que ele retrata como uma espécie de braço do movimento comunista. A Globo, que os blogs de esquerda — e muitos manifestantes de rua — chamam de líder da mídia golpista, da trama que o venerável Mino Carta, dono da “Veja” do Lula, denuncia semanalmente. (O fato é que compro sempre uma “Veja” e uma “Carta Capital” para ler no avião — além da “The Economist” — quando tenho de cantar “Abraçaço” em distantes cidades brasileiras ou não brasileiras: preciso saber o que dizem os chamados dois lados para poder me manter centrista aqui.).

Porém, mais do que essas loucuras propriamente brasileiras, me impressionou um documentário russo que vi na internet, prefaciado por um nosso compatriota que se diz comunista. Para um velho como eu, parecia um pesadelo que se passasse na Guerra Fria. É tudo tão louco que não sei se o link para tal vídeo me foi enviado por alguém que foi comigo e Sidney Waismann falar com Beltrame ou se foi sugerido por outro comentarista do Azevedo (perdi muitos e-mails dos diálogos com a turma boa que foi à Central — e procurar no blog da “Veja” o comment em que talvez estivesse a sugestão me tomaria horas que não tenho). Mas dei busca no YouTube e achei: trata-se do site chamado “comunista” (www.comunista@spruz.com), e o documentário é da TV russa. Soldados do exército regular da Síria aparecem dançando passos folclóricos da região, empurrando crianças em balanços sob árvores, namorando à beira de riachos límpidos. Depoimentos de cidadãos civis sírios dão conta de que o país era, até a entrada dos rebeldes, um exemplo de paz e tolerância, sem nenhum traço de tensão entre grupos religiosos, um ambiente de doce camaradagem. Os rebeldes, segundo a versão da TV russa, não têm nada que se pareça com a Primavera Árabe, nem mesmo com a Síria, sendo todos mercenários a soldo do Qatar e dos EUA. O prefaciador brasileiro diz que essa é uma visão mais realista da guerra civil síria, que a imprensa ocidental só diz que os rebeldes lutam pela democracia. Bem, eu leio muita coisa da imprensa ocidental e, da “Economist” à “Carta de Mino”, passando pelo “Globo” e a “Folha”, nunca fiquei com a imagem de que os levantes sírios — por mais simpáticos que parecessem logo ao eclodirem — fossem harmônicos e tivessem a democracia como motivação única (ou mesmo principal) e como meta indisputável. Mas o crítico da imprensa ocidental que fala no vídeo não se peja de reafirmar o que diz o documentário pós-soviético: que os rebeldes sírios são homogeneamente maus e motivados apenas pelo dinheiro que recebem de fora.

É incrível que um documentário tão demagógico em seu tom quanto os filmes de propaganda do 
período stalinista seja anunciado como revelador da verdade que a imprensa “livre” oculta.

Hoje (sexta) acordei para as notícias de que Putin propõe que Assad entregue as armas aquímicas (ué, mas não disseram que não havia e que tudo era invenção dos americanos, como no caso do Iraque?) e que o supermandante sírio responde com o pedido de prazo de um mês, o que o governo americano não aceita.
Enquanto isso, 5x5 no STF, sentimentos cruzados no petismo e no antipetismo. Se houver ainda manifestações, ou seja, se nós da classe média (que, ao contrário de Marilena, eu respeito e amo) não desistirmos de gritar por medo dos BBs de Cora, o que será dito sobre Barroso e Barbosa? Não resta dúvida de que vivemos um tempo preocupantemente interessante. Talvez demais para o meu gosto.


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