segunda-feira, 29 de junho de 2015

Parcialidades, justiceiros e moralistas: da Inquisição à Lava-Jato de Moro


  O juiz Moro sentiu-se sinceramente chocado com o anúncio da Odebrecht porque ele achava que o investigado Odebrecht DEVERIA estar arrependido e penitente e não desafiador como dá a entender o anúncio. O Inquisidor não entende como o herege não lhe agradece pela oportunidade de se arrepender e confessar. Na Inquisição, o arrependimento era considerado salvação da alma, o que não significa a redução da pena na Terra. Era queimado vivo do mesmo jeito mas sua alma estava salva. Voce deve delatar e se sentirá melhor, diria o Inquisidor.



Justiceiros e moralistas, por André Araújo


Por André Araújo, extraído do Jornal GGN

JUSTICEIROS E MORALISTAS - Os tribunais da Inquisição foram instituídos em Portugal em 1536 pela bula papal CUM AD NIHIL MAGIS, do Papa Paulo III. Sua instituição se deu em quatro cidades: Lisboa, Porto, Coimbra e Évora.

O Brasil colônia ficava subordinado ao Tribunal do Santo Ofício de Lisboa. O primeiro Grande Inquisidor foi o Cardeal Henrique, irmão do Rei Dom João III e ele mesmo depois Rei. A supervisão era do Conselho Geral do Santo Ofício, e todo o sistema era bastante estruturado, com Regulmentos e Regimentos e uma escala hierárquica complexa.

O Brasil sofre três VISITAÇÕES ordenadas pelo Tribunal que jurisdicionava a colônia, o de Lisboa. Os arquivos das Visitações estão na Torre do Tombo em Lisboa.

Os quatro Tribunais entre 1540 e 1794 promoveram 689 Autos-da-Fé onde foram queimadas vivas 1.176 pessoas e aplicados castigos a 29.590. Os castigos poderiam ser horríveis mas sempre seriam para o bem do punido.

Todo o sistema baseava-se na DENÚNCIA sigilosa, onde alguém denunciava o vizinho como herege, bruxo ou dado a blasfêmia. A denúncia não tinha contraprova porque era secreta. A delação, intriga e vingança moviam o processo.

O princípio moral da Inquisição era que, ao punir ou queimar o acusado, estava-se SALVANDO SUA ALMA, isto é, a Inquisição estava sendo valiosa para o acusado. A semelhança da Inquisição com os éetodos da Lava Jato é nítida.

O juiz Moro sentiu-se sinceramente chocado com o anúncio da Odebrecht porque ele achava que o investigado Odebrecht DEVERIA estar arrependido e penitente e não desafiador como dá a entender o anúncio. O Inquisidor não entende como o herege não lhe agradece pela oportunidade de se arrepender e confessar. Na Inquisição, o arrependimento era considerado salvação da alma, o que não significa a redução da pena na Terra. Era queimado vivo do mesmo jeito mas sua alma estava salva. Voce deve delatar e se sentirá melhor, diria o Inquisidor.

O mal que os moralistas e justiceiros causaram à humanidade supera ao infinito o custo dos males que eles visaram punir. Na História o lugar mais alto é aquele dos REFORMISTAS, lutadores contra um sistema pela REFORMA e não pelo dedo apontado aos pecadores. Caberia a um grupo de reformistas pregar pela MUDANÇA DO SISTEMA, porque o que dá origem à corrupção é um sistema de governo, não o reformando a corrupção continuará a existir, a SIMPLES PUNIÇÃO de alguns pecadores não faz os demais virarem virtuosos. CEM séculos de História demonstram isso.

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