sábado, 29 de outubro de 2016

‘A juventude brasileira encontrou seu futuro em Ana Julia Ribeiro’, diz texto da Revista Forbes



Texto de Shannon Sims comenta o discurso da estudante na Alep e sinaliza que “a crise educacional” do Paraná “é particularmente aguda” desde que professores foram reprimidos pelo Governo de Beto Richa (PSDB) em uma manifestação.
Informação – Por Rafael Bruza no Independente
A estudante secundarista Ana Júlia Ribeiro(16) discursa na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep) / Foto – Reprodução (Alep)

A estudante secundarista Ana Júlia Ribeiro(16) discursa na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep) / Foto – Reprodução (Alep)


“As notícias do Brasil tendem a ser duras. Turbulência política, escândalos de corrupção, roubos, estupros, mortes e ultraje. Pode ser desgastante cobrir o Brasil como um jornalista; imagine quão exaustivo deve ser viver no Brasil como brasileiro. Mas hoje, boas notícias vieram de um lugar improvável. Nas últimas 24 horas, o Brasil se familiarizou com o que muitos brasileiros acreditam que é a voz mais promissora que ouviram nos últimos anos. E, notavelmente, é a voz de uma menina de 16 anos chamada Ana Júlia Ribeiro”.
Assim a jornalista Shannon Sims introduziu o texto em que apresenta o discurso da estudante secundarista do Colégio Estadual Manuel Alencar Guimarães. Ana Julia falou na tribuna na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep) nesta quarta-feira (26), sobre as visões dos estudantes que participam das mais de 800 ocupações feitas em escolas do estado e se opõem à PEC 241 de teto de gastos, à MP de Reforma do Ensino Médio e ao Escola sem Partido.
“É um insulto a nós (estudantes), que estamos lá nos dedicando e procurando motivação todos os dias, sermos chamados de doutrinados. É um insulto aos estudantes. É um insulto aos professores”, disse a estudante, que também apontou culpa dos representantes do Estado na morte do estudante Lucas Mota dentr de uma ocupação.
“Ontem eu estive no velório e não recordo de nenhum desses rostos aqui. Nós sabemos que nós estávamos preocupados. Vocês estão aqui representando o Estado. A mão de vocês está suja com o sangue do Lucas. Não só do Lucas, como de todos os adolescentes e estudantes que são vítimas disso. O sangue do Lucas está nas mãos de vocês! – exclamou a estudante na tribuna da Alep.
“Então, o que está acontecendo aqui”? – questiona a jornalista no texto da revista Forbes. “Ana Júlia está se dirigindo aos líderes do governo do estado do Paraná sobre a escalada da crise que assola muitos – mais de 1.000 – de escolas do país. Com um forte sotaque paranaense, ela começa seu discurso com uma pergunta que já apareceu várias vezes em mídia social brasileira: ‘De quem é a escola’? Ela continua a responder a sua pergunta retórica explicando por que ela acredita que o movimento de ocupar escolas – que é ideologicamente associado ao de esquerda – é legal e legítimo”, afirma a jornalista no texto.
“Com honestidade surpreendente, ela (Ana Julia) admite que é um desafio para os jovens estudantes para ser capaz de digerir todas as políticas e políticas apresentados nos meios de comunicação e, em seguida, determinar se eles vão favorecer ou combatê-los”, escreve a jornalista, que cita a estudante.
“A nossa dificuldade em conseguir formar um pensamento é muito maior do que a de vocês. Nós temos que ver tudo que a mídia nos passa. Fazer um processo de compreensão, de seleção, para daí conseguir ver o que vamos ser a favor e o que vamos ser contra. E é um processo difícil. Não é fácil para os estudantes, mas mesmo assim decidimos fazer isso. Não estamos lá para fazer baderna, não estamos lá de brincadeira. Estamos lá por um ideal. Estamos lá porque acreditamos no futuro do nosso país. Nós sabemos pelo que estamos lutando. A nossa bandeira é a educação. A nossa única bandeira é a educação”, afirmou Ana Lucia no discurso.
Contexto
Após apresentar o discurso de Ana Julia, a jornalista da revista Forbes explica o contexto em que as ocupações de estudantes estão ocorrendo.
“No estado brasileiro do Paraná, a crise educacional é particularmente aguda. Atualmente, 850 escolas estão ocupadas neste pequeno estado. E a questão da educação e protestos no Paraná tem uma história difícil. Foi em Curitiba, capital do Paraná, que cerca de um ano atrás escola pública professores encheram as ruas em protesto contra mudanças em seus planos de pensão. Seu protesto foi recebido com violência do estado (controlado pelo governo de Beto Richa, do PSDB), e mais de 100 professores ficaram feridos. Cenas de policiais batendo em professores enviaram ondas de choque ao redor do país e lançaram as bases para o discurso de Ana Júlia”, escreve a jornalista.
Sims também ressalta que a postura de Ana Julia é políticamente contrária ao Governo de Michel Temer e que a eleição municipal de outubro de 2016 “foi uma derrota para os esquerdistas do Brasil”.
“Cidades que antes eram lideradas por progressistas andando de bicicleta, como São Paulo, votaram em líderes centristas usando o botão direito no mês passado”.
O texto também comenta a morte de Lucas Mota, “encontrado com ferimentos de faca em seu peito, supostamente causada por outro estudante após uma discussão sobre as drogas”, e diz que o assassinato teve efeito duplo.
“Por um lado, a sua morte reafirmou a posição de quem acusa o movimento de ser um criador de problemas que tira vantagens do Estado. Ao mesmo tempo, a morte de Mota adicionou combustível para o movimento da ocupação, que anteriormente era um protesto que caiu mais sob a égide de um protesto contra as políticas do governo, mas que cada vez mais se tornou, para os seus apoiantes, um protesto sobre os direitos humanos. Ou, mais especificamente, sobre os direitos dos alunos”, afirma o texto.
Momento dramático
A jornalista Shannon Sims também disse que o “momento mais dramático” do discurso ocorreu quando a estudante falou sobre a morte do estudante Lucas Mota e acusou os representantes de estarem com as “mãos sujas de sangue”.
A jornalista da revista Forbes disse que o presidente da casa, Ademar Traiano (PSDB), que representa “um partido de centro-direita”, segundo a jornalista, interrompeu a sessão após a declaração contra os deputados e ameaçou fechar a sessão.
“Você não pode atacar os parlamentares aqui”, diz Ademar Traiano “com raiva de Ana Julia”, segundo a jornalista da Forbes. “Aqui ninguém tem as mãos manchadas de sangue”, conclui o deputado.
Sims também relata o que houve após a interrupção feita pelo presidente da casa.
“A adolescente não tenta gritar com o presidente da sessão, ela não tenta desrespeitá-lo ou se envolver em uma discussão. Em vez disso, ela fica fria em si mesma e emite calmamente a crítica mais contundentede todas. ‘Peço desculpas, mas o Estatuto da Criança e do Adolescente nos diz que a responsabilidade para os nossos adolescentes – os nossos alunos – encontra-se com a sociedade, a família, e o estado’.
“A palavra ‘estado’ cai como uma gota no microfone da sessão”, relata a jornalista, que depois explica por que o discurso da jovem foi bem recebido.
“Enquanto ela representa uma opinião política que muitos não concordam, a forma como ela se apresenta é tão segura de si que tem atraído a respeito até mesmo brasileiros que pode não concordar com a sua posição”, diz o texto.
É por isso que há um coro gritando “Ana Julia me representa!”, segundo a jornalista.

Jornalista formado em Madri, retornou ao Brasil em 2013 para lançar um meio de comunicação próprio. Formou uma parceria com um programador e lançou o Indepedente. Acredita que a mudança no mundo está dentro de cada um e trabalha para que seus leitores tenham uma visão realista, objetiva e construtiva do planeta Terra.

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