segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Mauro Lopes: Reforma da Previdência garante aposentadoria de R$ 250 mil mensais de Henrique Meirelles


Brasília- DF15-06- 2016 Ministro Henrique Meirelles durante coletiva depois da reunião de líderes no plnalto. Foto Lula Marques/Agência PT
Henrique Meirelles está satisfeito. Foto Lula Marques/Agência PT
Artigo de Mauro Lopes, no Outras Palavras:
Como sabem meus amigos, não sou economista. Ou as coisas complexas da economia podem ser explicadas em linguagem acessível aos mortais comuns ou eu não entendo nada. Por isso demorei a compreender, mas agora está bem claro para mim e creio que ficará para você também se, como eu, estava com dificuldade de se localizar nessa balbúrdia que o governo e a imprensa armaram: a reforma da Previdência está sendo feita unicamente para garantir que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, continue a receber sua aposentadoria de mais de R$ 250 mil mensais (isso mesmo, duzentos e cinquenta mil reais mensais) do Bank of America Merrill Lynch  –o valor foi revelado pelo senador Roberto Requião dias atrás .
Está bem, é um exagero. Não é para garantir apenas a aposentadoria de Meirelles. É para garantir a dele, a do Ilan Goldfajn, atual banqueiro-presidente do BC, a de altos executivos dos bancos e empresas em geral, a de Miriam Leitão, a do Carlos Alberto Sardenberg e de todos esses que defendem com ardor a reforma da Previdência Social. Eles fazem a maior cena de preocupação com o país, mas estão mesmo é defendendo o deles e, para isso, assaltando os milhões de pobres do Brasil, desta e das próximas gerações.
Esses todos, de Meirelles a Leitão, que têm seus fundos de pensão privados, estão aliados com Temer, que se aposentou aos 55 anos e ganha só dos cofres do Estado de São Paulo R$ 30 mil por mês e com todos os senadores, deputados, juízes, promotores, procuradores e altos funcionários do aparelho de Estado, que têm aposentadorias especiais equivalentes à de Temer –afinal eles são todos muito “especiais”, não é?
Mas o assunto deste breve artigo não é essa malta que com suas aposentadorias especiais sangra os cofres públicos diretamente em detrimento de milhões de brasileiros. Vamos falar sobre Meirelles –e os seus.
O que eles dizem? “Tenho direito, trabalhei para ganhá-la”, foi a declaração de Meirelles em reportagem da Folha de S. Paulo de 2003 para defender sua bolada mensal –leia aqui. É o surrado argumento dos ricos e poderosos, a meritocracia. Caberia perguntar –mas e os milhões e milhões de pessoas que trabalharam na roça, nas fábricas, na casa de gente como Meirelles, nos escritório e oficinas? Por sinal, muito mais tempo que os 29 anos do ministro no Banco de Boston, agora incorporado pelo Bank of America Merrill Lynch.
Mas o tema deste artigo não é meritocracia.
É mostrar para você que, como eu, não é economista, como a aposentadoria de Meirelles, paga por um banco norte-americano, depende de ele aprovar a reforma da Previdência Social no Brasil.
Vamos lá.
De onde vem a fortuna dos grandes bancos globais hoje em dia? Em boa medida da espoliação dos Estados nacionais –escrevi sobre isso em outubro, leia aqui.  Como assim? Simples: eles são os beneficiados maiores pelo pagamento dos juros da dívida pública dos países. É dinheiro grosso e fácil. Não é preciso trabalhar, não é preciso se arriscar, nada. É só comprar títulos da dívida pública e esperar sentado, que o dinheiro vem aos montes para os cofres dos bancos e das pessoas que comprar tais títulos –os rentistas, os tais 1% da população mundial.
O Brasil é o nirvana para eles. O juros que o governo brasileiro paga aos bancos e rentistas são de 14% ao ano, enquanto os mesmos juros básicos nos EUA e Zona do Euro estão perto de 0%. É o país seu povo a grande teta que sustenta essa turma toda. A dívida pública brasileira duplicou nos últimos dez anos (de R$ 1 trilhão para R$ 3 trilhões, sem correção da inflação) e o governo pagará de juros em 2016 algo perto de R$ 500 bilhões. A Grécia, que quebrou, tem uma dívida três vezes maior que a brasileira na relação com o PIB do país e mesmo assim paga menos da metade de juros.
A propósito, sabe quanto é o gasto com a Previdência Social que eles dizem que está quebrando o Brasil? Em 2015 foi de R$ 436 bilhões, menos que o gasto com juros.  Com a diferença que a Previdência beneficia 30 milhões de famílias (90 milhões de pessoas) como um retorno para as pessoas que trabalham e trabalharam para construir o Brasil, enquanto os juros da dívida são destinados para um seleto grupo que arruínam o país, sem mexer uma palha, nada.
Veja a tabela a seguir com a espantosa evolução dos gastos com os juros da dívida pública vis-a-vis a Previdência Social
tabela
Fonte: IBGE, Sistema de Contas Nacionais, Boletim Estatístico da Previdência Social, Mtb, Ipea e Ipeadata – a tabela integra documento que esta sendo organizado pelo DIEESE e pela ANFIP a ser lançado em janeiro
Bem, voltando para a aposentadoria do Meirelles et caterva. Você sabe qual é a base financeira dos fundos de pensão privados, tantos os de empresas como os abertos às pessoas aqui no Brasil? Exatamente os títulos das dívidas públicas!
Meirelles, Leitão e os ideólogos neoliberais dizem que esses fundos de pensão privados são “saudáveis” porque são muito bem administrados, ao contrário da Previdência Social. É uma meia verdade que esconde uma mentira grossa. A Previdência Social tem problemas óbvios de gestão, está à vista de todos. Mas os tais fundos privados não são bem geridos coisa nenhuma: eles apenas são beneficiários dos juros extorsionários que os governos dos países (e, portanto suas populações) pagam aos bancos e a eles diretamente –especialmente no Brasil. Sim: em 2004, 63% dos recursos dos fundos de pensão eram aplicados em renda fixa (hoje o percentual está ainda perto de 70%), lastreada nos títulos da dívida pública, contra 29% em 1994 (veja estudo aqui).
Quer saber mais? O Bank of America Merrill Lynch é um dealer primário do Banco Central brasileiro, ou seja, tem o privilégio de comprar em primeira mão os títulos de dívida emitidos pelo governo. Portanto, Meirelles tem para si uma blindagem que garante os R$ 250 mil reais mensais sem perder uma noite sequer de sono. Quanto ao escândalo de o banco que paga a ele essa bolada mensal ser um dealer primário do BC no país onde ele é o Ministro da Fazenda, o que dizer? É um escândalo, mas vale tudo hoje em dia.
Um fato é incontestável: se for interrompida a sangria monumental de recursos drenados da população do Brasil no dia seguinte estes tais fundos de pensão privados e mais os bancos e os rentistas entram em parafuso. No dia seguinte. E a tal crise da Previdência Social, fabricada pelas elites, desaparece como tema do dia para a noite. Porque a questão é só de escolher: para onde vai o dinheiro do país? Para os pobres ou para os ricos?
Entendeu? Enquanto o dinheiro for para os ricos, você é quem paga a aposentadoria do Meirelles. Junto com os trabalhadores rurais, operários, empregadas domésticas, faxineiras, funcionários de escritório…
A reforma da Previdência Social, que liquida com o direito à aposentadoria do povo brasileiro, está sendo feita unicamente para garantir o “direito” à aposentadoria de Meirelles e dos ricos do país.

[Por Mauro Lopes, com a ajuda inestimável dos amigos Eduardo Fagnani e Paulo Kliass]

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