quarta-feira, 10 de novembro de 2021

A plataforma midiática pré-montada de Sérgio Moro: fazer promessas para reconstruir o País que ele próprio ajudou a detonar. Artigo de Cíntia Alves

 


A plataforma Moro: promessas para reconstruir o País que ele próprio ajudou a detonar

Sergio Moro se coloca à disposição para concorrer à Presidência pelo Podemos e promete "erradicar a pobreza" e defender o "livre mercado"

Sergio Moro filia-se ao Podemos e lança candidatura à Presidência. Foto: Reprodução/canal no Youtube do Podemos
Sergio Moro filia-se ao Podemos e lança candidatura à Presidência. Foto: Reprodução/canal no Youtube do Podemos

É oficial. Filiado ao Podemos na manhã desta quarta-feira, 10 de novembro de 2021, Sergio Moro finalmente rasgou a fantasia entrando para a política partidária e confirmou a disposição de ser candidato à Presidência da República em 2022.

Ciente de que poderá ser turbinado pelo establishment como “terceira via”, Moro até já convidou outros partidos a “aderir ao projeto de País” que ele pintou durante seu discurso de filiação.

“Nunca tive ambições políticas, sempre quis ajudar o País. Mas eu tiver que assumir a liderança desse projeto, meu nome sempre estará à disposição”, disparou o ex-juiz declarado parcial pela Suprema Corte.

Minutos antes, no púlpito de um auditório lotado de lavajatistas em Brasília, o senador Álvaro Dias explicitou as pretensões do Podemos: “Queremos que [Moro] seja presidente.”

Moro admitiu que “há outros bons nomes” cotados na terceira via. Eventualmente, disse ele, estes que se colocam ao “centro” de Lula e Jair Bolsoaro terão de se unir em torno de um projeto comum. E o maestro da Lava Jato deixou claro que, para apoiá-lo ou receber seu apoio, políticos precisarão seguir uma plataforma mínima.

O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), prestigia o ato de filiação de Sergio Moro ao Podemos. Foto: reprodução/Youtube

AS PROMESSAS DE MORO

Nos momentos finais do discurso, Moro resumiu sua plataforma em poucas sentenças. “Combater a corrupção como meio de viabilizar as reformas, erradicar a pobreza, diminuir as desigualdades, controlar a inflação, fomentar empregos e desenvolvimento sustentável; prover saúde, educação e segurança de qualidade. Proteger a família, cultivar as liberdades e o respeito ao próximo”, resumiu Moro, minutos antes de ser prestigiado pelo ex-colega de Esplanada, Luiz Henrique Mandetta, potencial candidato à Presidência pelo DEM.

Mas Moro apresentou também outras ideias para “reconstruir” o País que a Lava Jato, sob sua batuta, tomou de assalto e ajudou a afundar.

“Por acreditar no potencial de cada um, defendemos o livre mercado, a livre empresa, a livre iniciativa, sem que o Estado tenha que interferir na vida das pessoas”, disse Moro sobre a economia. “Reformar impostos e privatizar estatais ineficientes” estão nos planos.

“Precisamos proteger a família brasileira da violência, desagregação e drogas”, defendeu, enfatizando a necessidade de uma “sólida formação moral e cidadã”.

“Nossos valores cristãos exigem que a desigualdade seja superada. A nossa prioridade é erradicar a pobreza, acabar com a miséria. Isso deveria ter sido feito anos trás”, disse Moro, prometendo juntar técnicos em uma “força-tarefa”.

O ex-juiz só esqueceu de citar que foi durante os governos petistas – que ele criminalizou algumas vezes em seu discurso – que o Brasil finalmente saiu do mapa da fome. Mas voltou já no andar do governo Temer e viu a situação se deteriorar mais ainda na era Bolsonaro, com direito ao pobre encarando fila do osso e pelanca para sobreviver.

Bradando “chega de Mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha e chega de orçamento secreto”, Moro prometeu retomar o combate à corrupção, que teria sido, segundo ele, desmontado por Bolsonaro – e foi assim que ele justificou sua saída do governo.

Moro prometeu retomar a discussão da prisão em segunda instância, acabar com a reeleição para presidente da República, pautar o fim do foro privilegiado e criar uma “corte nacional anticorrupção”, que seria composta de juízes e servidores escolhidos para a missão.

Ele saiu em defesa da imprensa e chamou qualquer projeto de “regulação da mídia” de censura, e mirou no “combate à criminalidade violenta, crime organizado e tráfico internacional”.

Além disso, falou de uma sociedade “inclusiva” ao promover o trabalho da esposa, Rosangela Moro, com pessoas com deficiências e doenças raras.

“Não é só projeto para reconstruir combate à corrupção. Vai além. É projeto de reconstrução de País. Não há espaço para medos, nem timidez”, disse Moro. “É um projeto de País aberto à adesão de todos os demais partidos”, convidou. “Eu lutaria sozinho, seria Davi contra Golias, mas ao ver esse auditório, tenho certeza que não estarei sozinho”, acrescentou.

Moro alegou que “após um ano morando fora, resolvi voltar pois não podia ficar quieto, sem dizer o que penso, sem tentar, mais uma vez, ajudar o Brasil. Resolvi fazer do jeito que me restava, entrando para apolítica, corrigindo isso de dentro para fora.”

Por tudo e tanto, Moro mostrou-se um verdadeiro Bolsonaro de sapatenis.

Se apresentou como “guardião dos interesses do povo”. Mas deixou claro que, uma vez no poder, seria tão autoritário quanto foi na Lava Jato, além de acenar ao mercado com uma agenda tão neoliberal e desestatizante que deixaria Paulo Guedes orgulhoso.

Falou em sociedade inclusiva, mas não direcionou uma palavra sequer às mulheres, negros, homossexuais, indígenas e outras minorias.

Seu discurso de filiação e a coragem de lançar-se candidato a presidente depois da terra arrasada deixada pela Lava Jato, só mostram que Moro já nasceu com os vícios da velha política que ele criminaliza.

Para conhecer o verdadeiro Sergio Moro, assista ao documentário abaixo:

Leia também:

Como a Lava Jato abriu espaço para a maior corrupção da história, por Luis Nassif

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