quinta-feira, 29 de maio de 2025

Gaza – quando as vítimas se tornam carrascos, por Dora Incontri

 


Milhares de pessoas se manifestam em inúmeros países de todos os continentes. Muitas são presas, porque proibidas de serem pró-Palestina


    Foto: reprodução

Gaza – quando as vítimas se tornam carrascos

por Dora Incontri, no Jornal GGN

Um casal de médicos palestinos, perdeu corbonizados, 9 dos seus 10 filhos, sendo um deles bebê, num bombardeio do governo israelense em Gaza. O menino sobrevivente teve sua mão amputada e o pai continua em estado grave, internado. A médica Alaa Al-Najjar encontrou os filhos irreconhecíveis, debaixo dos escombros de sua casa. Há alguma palavra que se possa dizer diante de um massacre desses?

Mais de 18 mil crianças já foram mortas em Gaza, desde outubro de 2023. A estimativa é de que haja 20 mil órfãs. As que estão vivas talvez preferissem não estar, no meio de uma cidade arrasada, sem água e sem comida – Israel não permite a entrada de ajuda humanitária. Conta-se que muitas foram amputadas sem anestesia.

E o mundo? Milhares de pessoas se manifestam em inúmeros países de todos os continentes. Muitas são presas, porque proibidas de serem pró-Palestina, como agora no governo Trump, como na Alemanha, com o seu terrível complexo de culpa diante os judeus. Mas, deve-se dizer: toda guerra no mundo rende dividendos polpudos para a indústria bélica. E os países não cortam relações com Israel por interesses econômicos.

“Não se pode chamar de “guerra”a algo que uma das partes – os palestinos em Gaza – não tem capacidade real de combate contra um dos exércitos mais poderosos e bem equipados do mundo.”  Como se chama então o que está ocorrendo em Gaza? Genocídio! Termo que um dos primeiros chefes de Estado a usar foi o nosso Lula. Essa frase acima é o clamor de um importante historiador israelita, Omer Bartov, justamente especializado no Holocausto judaico e em genocídios.

Bertov, como outros intelectuais judeus de várias partes do mundo, denuncia a instrumentalização do Holocausto promovido pela Alemanha nazista para escapar da justa condenação ao Holocausto palestino, que está sendo operacionalizado por quem? Justamente pelo governo de um povo que já sofreu um genocídio e uma tentativa de limpeza étnica! E há parte do povo israelense protestando essa matança em nome das crianças palestinas mortas.

Foi divulgada hoje uma carta no Brasil, assinada por intelectuais, artistas e políticos, pedindo a Lula que corte relações comerciais e diplomáticas com Israel. Já não é sem tempo. Aliás, já passou do tempo.

O que se vê no mundo é uma paralisia covarde e conivente diante desse massacre que já dura um ano e meio. Já praticamente não existe mais Gaza. Hospitais, escolas, universidades, casas da maioria da população foram postos abaixo. Crianças, mulheres, jornalistas, médicos, funcionários da ONU – mortos.

Para compensar e repatriar (depois de 2 mil anos) um povo que foi perseguido desde sempre no Ocidente, de Portugal a Rússia (controvérsias há se a Rússia é europeia, asiática ou uma síntese) e havia sido submetido ao regime nazista, criou-se o Estado de Israel. Mas essa fundação do Estado de Israel, promovida principalmente pelo Império Britânico, desconsiderou desde sempre o povo que lá habitava, há 2 mil anos: árabes, que consideravam essa terra como sua. Nunca foi reconhecido um Estado palestino e desde então, esses habitantes daquela que era sua terra, têm sido encurralados, perseguidos. E agora, estamos diante da “solução final” – termo usado pelos nazistas em relação aos judeus: que é o extermínio planejado e posto em ação para expulsar definitivamente os que sobraram da terra que era deles. Israel é um Estado expansionista, militarizado, que doutrina suas crianças desde cedo a um supremacismo (quem diz isso é uma professora israelense da Universidade Hebraica de Jerusalém, Nurit Peled-Elhanan).

E a mairoria dos governos do mundo se cala. Como fizeram com Hitler. Não se pode esquecer que houve empresas norteamericanas, houve eugenistas de vários países, houve um governo colaboracionista francês (de Vichy), que se juntaram aos alemães nazistas. Integralistas brasileiros eram pró-fascismo. Sempre houve os que ficaram do lado errado da história, seja por afinidade ideológica, por interesses comerciais, por covardia.

A diferença é que houve um surpresa trágica, generalizada, quando russos e aliados tomaram os campos de concentração nazistas. Suspeitava-se, mas não se sabia ao certo o que acontecia lá. Hoje não. Assistimos a um massacre genocida de um povo, ao vivo e a cores. Nosso silêncio e a paralisia e o retardamento dos governos em tomarem providências ficará como uma mancha histórica para toda a humanidade.

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.

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