Durante depoimento ao STF, Baptista Júnior afirma que Bolsonaro sabia da integridade das eleições e tentou interferir na divulgação de relatório
Do Jornal GGN:
Ex-comandante da Aeronáutica revela pressão de Bolsonaro para adiar relatório sobre lisura das urnas e detalha reuniões golpistas
O ex-comandante da FAB, Carlos Almeida Baptista Junior, que negou apoio ao golpe de Bolsonaro. Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil
O ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, afirmou nesta quarta-feira (21) que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi informado de que não havia fraudes no sistema eleitoral brasileiro. A revelação foi feita durante depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação que apura tentativa de golpe de Estado liderada em 2022.
De acordo com o brigadeiro, Bolsonaro recebeu essas informações por meio do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. “Sim, [Bolsonaro foi informado disso] através do ministro da Defesa. Além de reuniões que eu falei, o ministro da Defesa que despachava sobre esse assunto”, declarou Baptista Júnior ao procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Pressão para adiar relatório que atestava segurança das urnas
Baptista Júnior também confirmou que Bolsonaro tentou adiar a divulgação de um relatório das Forças Armadas que atestava a integridade do sistema eleitoral. “O relatório foi entregue no dia 9. Eu ouvi que sim [houve pressão para adiar a divulgação], certamente outras testemunhas poderão dar isso com mais precisão”, afirmou o militar.
Reuniões golpistas no Alvorada e no Ministério da Defesa
O ex-comandante da Aeronáutica detalhou encontros realizados após o segundo turno das eleições de 2022, nos quais foram discutidas alternativas para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).Em uma reunião no Palácio da Alvorada, segundo o brigadeiro, foram debatidas ações como a decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Estado de Defesa ou Estado de Sítio — medidas previstas na Constituição, mas que estariam sendo cogitadas com fins inconstitucionais.
Ainda segundo o relato, o então comandante do Exército, general Freire Gomes, chegou a ameaçar prender Bolsonaro caso a trama fosse adiante.
Minuta golpista e resistência de militares
Segundo Baptista Júnior, em dezembro, uma nova reunião no Ministério da Defesa que escancarou a gravidade das intenções golpistas. Na ocasião, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, apresentou aos comandantes militares uma minuta que previa o impedimento da posse de Lula.
“Perguntei: ‘O documento prevê a não assunção no dia 1º de janeiro do presidente eleito?’ Ele disse: ‘Sim’. Eu disse que não aceitava nem receber esse documento. Me levantei e fui embora”, relatou.
Na mesma reunião, segundo o brigadeiro, o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier dos Santos, declarou que colocaria as tropas à disposição da tentativa de ruptura institucional.
Sem apoio unânime, golpe fracassou
Baptista Júnior também revelou que foi alvo de ataques após resistir à tentativa golpista, ataques que teriam sido articulados por Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e vice na chapa de Bolsonaro. Ele destacou que as medidas antidemocráticas não foram adiante porque não houve adesão unânime das Forças Armadas.
“Foi essa falta de apoio total que impediu que o golpe avançasse”, concluiu.
Baptista Júnior é ouvido na condição de testemunha de acusação da PGR e de defesa dos réus: Bolsonaro, Almir Garnier e Sérgio Nogueira.
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