segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Explicação de Flávio Bolsonaro está prejudicada por dados revelados pela Folha de São Paulo



Se as matérias da Folha estão correta, Flávio tomou um empréstimo de R$ 1 milhão da Caixa para quitar um apartamento comprado na planta, em 2014, por R$ 565 mil
Somente a investigação do MP-RJ poderá dizer se Flávio falou a verdade na Record ou se os R$ 96 mil que entraram no seu bolso têm origem nos saques feitos da conta de Queiroz
Jornal GGN - A explicação que Flávio Bolsonaro deu em entrevista à Record, na noite de domingo (20), ficou prejudicada por uma reportagem feita pela Folha de S. Paulo há exatamente 1 ano e por outra matéria, publicada nesta segunda (21), com base em documentos obtidos em cartórios do Rio de Janeiro.
Se as matérias da Folha estão correta, Flávio tomou um empréstimo de R$ 1 milhão da Caixa para quitar um apartamento comprado na planta, em 2014, por R$ 565 mil.
Na entrevista à emissora do Bispo Edir Macedo, Flávio disse que o dinheiro vivo que o ex-motorista Fabrício Queiroz depositou em sua conta bancária - total de R$ 96 mil, fracionado em 48 depósitos de R$ 2 mil - tinha origem na venda de um apartamento que ele havia adquirido com financiamento da Caixa Econômica Federal.
Ele não quis dar detalhes ao jornalista da Record, mas a Folha trouxe à tona números que lançam ainda mais dúvidas sobre a versão de Flávio.
O IMÓVEL NA LARANJEIRAS
O apartamento em questão fica no bairro Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Segundo a Folha de 7 de janeiro de 2018, Flávio declarou, em 2014, ter comprado o apartamento por R$ 564 mil. Em 2016, o mesmo imóvel comprado na planta foi declarado por R$ 846 mil, e o ex-deputado afirmou à Justiça Eleitoral que detinha 50% (ou R$ 423 mil) da propriedade na Rua Pereira da Silva, nº 197. A unidade valorizou-se mais duas vezes: terminou registrada por R$ 1,7 milhão e foi vendida por R$ 2,4 milhões.
A Folha usou este caso para ilustrar uma matéria sobre como Flávio ficou rico no mercado imobiliário, em atividades paralelas ao mandato de deputado estadual. 
Segundo a explicação de Flávio na Record, para comprar o apartamento na plata - que não quis informar endereço nem valor específico - ele recorreu aos “juros mais baixos” da Caixa para financiar cerca de R$ 1 milhão. 
Quando vendeu o apartamento, o pagamento foi feito por meio de uma permuta: ele recebeu uma sala comercial (a Folha não revela o valor mas, para fechar a conta dos R$ 2,4 milhão, a sala deveria custar cerca de R$ 300 mil), um apartamento na Urca de R$ 1,5 milhão e - o dado que Flávio "esqueceu" de contar na Record - mais R$ 600 mil em dinheiro, sendo um cheque de R$ 50 mil e R$ 550 mil em espécie.
É desse montante de meio milhão de reais em dinheiro vivo que Flávio indicou ter tirado os R$ 96 mil que Queiroz depositou, picado, na conta do senador.
É de se perguntar se Flávio pediu para o ex-motorista depositar o total de R$ 550 mil com esse método fracionado, considerado suspeito pelas autoridades por ser um dos métodos de lavagem de dinheiro, ou como guardou ou aplicou a diferença.
O senador diz que a imprensa não é o foro certo para ser totalmente transparente, mas o Ministério Público. Ao mesmo tempo em que se queixa dos vazamentos e da "falta de oportunidade" para se explicar aos promotores, Flávio evita ir aos depoimentos agendados por estratégia de sua defesa. E ainda recorre ao Supremo Tribunal Federal para tentar anular as provas da investigação contra si e contra Queiroz, alegando ocorrência de supostas arbitrariedades.
Não é dado menor que Queiroz é investigado pelo Ministério Público do Rio no caso Coaf pela suspeita de operar uma “conta de passagem”, ou seja, ele recebia diversos depósitos em dinheiro, de outros funcionários e ex-funcionários da Assembleia do Rio, em sua conta e, no mesmo dia ou poucos dias depois, sacava o dinheiro no caixa eletrônico da própria Alerj.
Somente a investigação do Ministério Público poderá dizer se Flávio falou a verdade na Record ou se os R$ 96 mil que entraram em seu bolso têm origem nos saques feitos da conta de Queiroz.
Certo é que, em 2017, segundo a Folha desta segunda (21), Flávio vendeu apenas 1 apartamento por R$ 2,4 milhão. Na declaração de bens à Justiça Eleitoral em 2018, seu patrimônio total era de R$ 1,7 milhão. Constam, entre outros ativos, investimentos que somam R$ 558 mil, uma sala comercial por R$ 150 mil e um apartamento na Tijuca (endereço não especificado) por R$ 917 mil. 
Há ainda uma cota de R$ 50 mil numa loja de chocolate (Kopenhagen) que fica num shopping no Rio. Flávio divide a empresa "Bolsotini" (nome jurídico), que tem capital de R$ 200 mil, com apenas mais um sócio, Alexandre Ferreira Dias Santini.
O IMÓVEL NA BARRA
Há ainda outras informações reveladas pela Folha que não batem claramente com o declarado por Flávio à Justiça Eleitoral.
Na declaração de 2016, está registrada a fatia de 50% de um apartamento na Avenida Lúcio Costa, nº 3.600, pelo valor de R$ 851 mil. O total do valor deveria ser, portanto, equivalente a R$ 1,7 milhão, mas a Folha desta segunda (21) aponta que Flávio comprou este imóvel por R$ 2,55 milhões, de acordo com documentos obtidos em cartórios.
Para essa compra, tomou outro empréstimo, só que do Itaú, no valor de R$ 1,074 milhão.
OUTRAS VENDAS
Entre 2014 e 2017, Flávio vendeu outros dois apartamentos, sendo um em Copacabana e outro também na Urca, e levantou um total de R$ 2 milhões com as duas transações. A esposa dele detém metade do patrimônio. O percentual de Flávio neste ganho não está registrado claramente na declaração à Justiça Eleitoral em 2018.
A Folha ainda lembrou que Flávio já negociou 19 imóveis em 13 anos, sendo 12 deles salas comerciais do edifício Barra Prime.
Todas as 12 salas foram vendidas de uma só vez para a mesma empresa, a MCA Participações, que tem entre os sócios uma firma no Panamá.
As salas foram negociadas em novembro de 2010, numa "transação relâmpago", pois Flávio havia adquirido 7 das 12 salas apenas 45 dias antes. Segundo o jornal, só com essa venda ele lucrou R$ 300 mil.
O senador pode dizer que é empresário porque tem um loja de chocolates no Rio, mas é nos negócios imobiliários que Flávio precisa se esforçar mais se realmente está tentando ser transparente e se livras das críticas.


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