sábado, 15 de novembro de 2014

A Guerra Fria da PF, em especial a paranaense, contra o PT e o porque de os delegados também devem ser investigados

Os três textos à seguir foram extraídos do Diário do Centro do Mundo:


I - A guerra fria da PF contra o PT





Texto de Paulo Nogueira, publicado em 14/112014


Coincidências acontecem, mas …

Mas a superoperação da Polícia Federal no caso Petrobras nesta manhã de sexta feira parece feita sob medida.

O estardalhaço tende a desviar as atenções das denúncias – frescas  e de alta relevância — sobre o comportamento brutalmente partidário dos delegados encarregados das investigações.

As informações sobre o antipetismo estrondoso dos delegados da PF colocaram uma sombra copiosa de dúvida sobre a qualidade das apurações da PF.

Ódio partidário influencia qualquer investigação. Inimigos são tratados com extremo rigor e amigos podem ser convenientemente engavetados caso alguma coisa comprometedora apareça.

O caso do Helicoca é exemplar: como a PF conseguiu não apurar nada, com tantas evidências? Como a ligação com os Perrellas, os donos do helicóptero, foi tão rapidamente descartada?

Aparentemente, a nova fase da operação Lava Jato assinala uma guerra fria entre a PF e o PT.

Há similitudes no comportamento da PF e da mídia. Grandes organizações jornalísticas, quando alguém as aborrece, costumam promover uma retaliação imediata na qual não são poupados os feridos.

A Globo é mestra nisso, mas está longe de ser um caso único.

Num mundo menos imperfeito, as coisas não seriam assim. Mas, no Brasil 2014, são.

A PF tem que ser reinventada. Tanto a PF como as polícias militares são, para usar a grande expressão de Brizola, filhotes da ditadura.

A mentalidade dominante ali é aquela segundo a qual a esquerda come criancinhas.

É o tipo de pensamento com o qual a imprensa, a Globo de Roberto Marinho à frente, intoxicou mentalmente os brasileiros na época dos militares.

As polícias brasileiras são dominadas por uma cultura, ou falta de cultura, de extrema direita.

É esta cultura que tem que ser enfrentada com disciplina, método – e rapidez.

Ou teremos sempre, na PF, investigações partidarizadas – e por isso suspeitas — quando, como no caso da Lava Jato, políticos estiverem de alguma forma envolvidos.

Leia mais: Os delegados da Lava Jato agem como políticos e não como policiais

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Sobre o Autor

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

II - Por que os delegados da Lava Jato devem sim ser investigados


Texto de Paulo Nogueira, publicado hoje, dia 15/11/2014

Dilma usou várias vezes – mais do que deveria, é certo – o adjetivo “estarrecedor” nos debates com Aécio no segundo turno.

Imagino que seja por isso que uma nota do PSDB sobre os delegados da PF na operação Lava Jato tenha, logo no começo, exatamente essa expressão: “É estarrecedor”.

Mas o que é “estarrecedor” para o PSDB?

Bem, ficamos sabendo que o que supostamente causa horror ao PSDB é a decisão do ministro de Justiça de investigar os delegados da PF da Lava Jato que no Facebook, em grupo fechado, trocaram durante a campanha mensagens torrencialmente insultuosas contra Dilma, Lula e o PT.

O caso se limitaria simplesmente à questão de atentado à honra se não se tratasse dos delegados que estão investigando o episódio Petrobras.

Bastaria talvez aos agredidos processá-los na Justiça por calúnia e difamação.

Lula foi chamado de “anta”, e uma caricatura de Dilma com os dentes incisivos de fora ilustra um grupo do qual um delegado da PF faz parte.

Mas o assunto é muito mais complicado e muito mais grave.

Como policiais apaixonadamente antipetistas podem cuidar de um caso que exige completa isenção partidária para não se transformar num panfleto político?

Quem acredita que o antipetismo fulgurante dos policiais não vai interferir nas investigações – e nos vazamentos para a mídia – acredita em tudo, para usar a grande frase de Wellington.

Transporte os trabalhos, para que você tenha uma ideia da dimensão do problema, da polícia para a imprensa.

Como a Veja, por exemplo, se comportaria numa reportagem investigativa sobre o mesmo tema?

Com isenção? Levando ao leitor tudo que descobriu?

Ou, pelo furor antipetista, seria tentada a jogar luzes sobre o que lhe interessa e engavetar o que entende que possa prejudicar seus amigos e aliados?

Nem a velhinha de Taubaté, o personagem de Veríssimo que acreditava em tudo, confiaria nos resultados do trabalho de um grupo da PF tão tomado de ódio partidário.

Pelas postagens absurdas, ainda que fechadas, os delegados da PF na Lava Jato estão, sim, desacreditados.

O Brasil já viveu mais de uma vez – com Getúlio e Jango – situações em que, em nome do combate à corrupção, se tramou na verdade um golpe contra a democracia.

O combate à corrupção – o real, o genuíno, o vital para o desenvolvimento social do país – é importante demais para ser deixado nas mãos de delegados da PF que parecem muito mais empenhados numa cruzada política do que numa operação policial.

Deve haver na PF delegados com a isenção indispensável para averiguar os fatos, ao contrário dos que faziam campanha anti-Dilma.

Se não houver, teremos um problema infinitamente maior do que o escândalo da Petrobras.

III - Um ano depois, o papel cada vez mais estranho da Polícia Federal no caso Helicoca



O flagrante no helicóptero dos Perrellas no Espírito Santo

 Texto de Kiko Nogueira

Na esteira da denúncia de que delegados da Polícia Federal envolvidos na operação Lava Jato fizeram campanha para Aécio Neves, vale a pena relembrar um episódio recente e rumoroso em que a PF teve um papel, no mínimo, estranho. Falo do Helicoca.

O helicóptero da família Perrella foi apreendido com 445 quilos de cocaína numa fazenda no interior do Espírito Santo em 24 de novembro de 2013. Vai fazer um ano.

Apenas quatro míseros dias depois, a ligação dos Perrellas com o crime foi descartada. Segundo o delegado responsável, Leonardo Damasceno, não existiam indícios de participação dos parlamentares.

“Pará nós, essa questão está encerrada”, disse ele. “O deputado [Gustavo, filho de Zezé] não estava no local e a contratação do frete foi feita pelo copiloto, que subcontratou o piloto”.

No inquérito, o proprietário do local onde ocorreu o pouso foi inocentado também, sem uma explicação convincente. A Superintendência da PF em Minas ouviu Gustavo, mas apenas como testemunha. “Hoje não há nada que indique que ele tivesse conhecimento sobre a droga”, afirmou Damasceno.

Uma escala num hotel fazenda em Jarinú (SP), onde, de acordo com documentos, ficaram 50 quilos do entorpecente, foi ignorada. O juiz federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa relacionou algumas questões sem resposta: “Há realmente diversos aspectos que dependem de investigação, como a origem da droga apreendida, a dúvida sobre a internacionalidade, o papel dos envolvidos e a possível participação de terceiros”.

Quem é Leonardo Damasceno? Ele formou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e é pós-graduado em Direito Público e Processual pela Consultime-Unives, de Vitória. Em 1996, foi nomeado para o cargo de agente fazendário em Belo Horizonte.

Fez carreira em terras capixabas. Em janeiro, assumiu a secretaria de Defesa Social do município de Serra, o mais populoso do ES e um dos mais violentos do Brasil. O prefeito é Audifax Barcelos (PSB), que trabalhou pela reeleição de Renato Casagrande (derrotado). Ambos apoiaram Aécio.

Damasceno ficou cerca de três meses na função e teria saído por causa de conflito de interesses. Ele esteve à frente de operações como “Duty Free”, que desbaratou um bando especializado em crimes ligados à área do comércio exterior, e “Calouro”, que apanhou fraudadores de mais de 50 vestibulares em 30 instituições de ensino superior privadas.

O jornalista Joaquim de Carvalho falou com o policial na série de reportagens sobre o Helicoca publicada no DCM. Escreve Joaquim: “Leonardo Damasceno é de uma família de funcionários públicos. Seu irmão, auditor fiscal em Minas Gerais, ocuparia um cargo de confiança no governo mineiro. Sobre a hipótese de conflito de interesses, já que Zezé Perrella, dono do helicóptero, é aliado político de Aécio Neves, Leonardo diz:

– Não tenho ideia do que fazem meus irmãos. Ilações todo mundo faz. Dizem, por exemplo, que por eu ser Galo (torcedor do Atlético Mineiro) não poderia defender alguém que é do Cruzeiro (Zezé Perrella era presidente do clube).

Parecia empenhado na investigação, mas o fato é que, depois da entrevista em que isentava Perrella, entrou de férias e quem assina o relatório final do inquérito é a delegada Aline Pedrini Cuzzuol.”

Sobre o Autor

Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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