sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Como funciona o consórcio midiático-judicial que está enterrando a democracia brasileira



globo-ditadura

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
O editorial de 18 de agosto do Globo (A simbologia de dois presidentes investigados), que trata da abertura de inquérito contra Dilma, Lula e outras pessoas por tentativa de obstrução da Justiça, é o exemplo perfeito de como funciona a articulação entre mídia, Judiciário e MPF para criar o clima propício ao golpe de Estado que será chancelado pelo Senado nos próximos dias.
Façamos uma pequena recapitulação dos fatos para demonstrar como se dá essa articulação, e como ela é essencial para que a direita alcance seus objetivos antidemocráticos.
Todos os vazamentos seletivos e ilegais da Lava Jato para a mídia detonar os inimigos políticos com manchetes garrafais durante a campanha de 2014 não foram suficientes para evitar a derrota de Aécio.
No momento em que foi confirmada a derrota do candidato orgânico da direita já começaram os preparativos para o golpe - nos comentários sobre o resultado, no dia do segundo turno, o programa da Veja em vídeo já falava em impeachment -.
A estratégia continuou a mesma, mas com objetivo diferente: os vazamentos seletivos e as manchetes enviesadas visavam não mais mudar os rumos da eleição, mas convocar o exército de manipulados às ruas para que o discurso de que "a voz do povo deve ser ouvida" pudesse ser usado pelos golpistas do parlamento.
Quando Dilma nomeou Lula para a chefia da Casa Civil os conspiradores sentiram que o ex-presidente poderia mudar o jogo em favor do governo e não tardaram a agir.
Moro divulgou, no mesmo dia da nomeação, áudios oriundos de grampo no celular de Lula.
A Globo pegou um desses áudios, no qual Lula conversava com Dilma sobre a assinatura do termo de posse, e deu a interpretação forçadíssima de que os dois estariam com pressa para que Lula pudesse fugir de uma eventual prisão ordenada por Moro. Com direito a caras e bocas dos apresentadores do Jornal Nacional interpretando os diálogos.
A convulsão social almejada e alcançada com a divulgação dos áudios deu o amparo necessário para que Gilmar Mendes concedesse liminar suspendendo a nomeação de Lula.
De lá para cá o golpe foi consolidado e só um milagre impede que ele seja consumado.
Mas a história do áudio continua rendendo frutos ao consórcio midiático-judicial.
Rodrigo Janot manteve o pedido de abertura de inquérito para investigar a suposta tentativa de obstrução das investigações da Lava Jato, mesmo após a anulação dos áudios por Teori Zavascki.
Aqui cabe um parêntese sobre a questão da obstrução em si. Jânio de Freitas foi cirúrgico na Folha, hoje:
Dilma e Lula não fizeram e não tentaram fazer obstrução à Justiça, nem sequer à Lava Jato. Obstruir, aplicada ao caso, seria obstar impedimentos, totais ou parciais, efêmeros ou definitivos, à efetivação de procedimentos judiciais. Mas ministros não desfrutam de imunidade. Por lei, bem entendido, que não faltam outros caminhos –estes, fora do alcance de Lula, Dilma e qualquer petista.
Se nomeado ministro, inquéritos e possíveis julgamentos de Lula não seriam evitados nem sustados em seu decorrer. Apenas subiriam de instância no Judiciário, passando a tramitar no Supremo Tribunal Federal. Não mais na mesa, nas gavetas e nas celas do juiz Sergio Moro em sua primeira instância.
Mesmo sendo absurda sob qualquer aspecto a hipótese de que Lula e Dilma atuaram para obstruir a Lava Jato, Teori Zavascki acatou o pedido de Janot na última terça-feira, convenientemente garantindo as manchetes do dia contra o PT, no momento em que se aproxima a hora final do julgamento de Dilma pelo Senado.
E então chegamos ao editorial de hoje do Globo.
Com a abertura do inquérito inicia-se a fase da coleta de provas, para que o julgador posteriormente pese-as e tome sua decisão.
Mas quando a coisa envolve Lula, Dilma ou o PT o editorialista dos Marinho sabe muito bem o que fazer: ignorar essa história de provas e declarar a culpa dos malditos petralhas inapelavelmente.
O subtítulo do editorial é essa pérola: "Dilma e Lula passam a ser suspeitos de tramoias contra a Justiça, em inquérito no STF, e patrocinam algo de que não se tem notícia na República".
Outro trecho: "Uma trama de alto escalão que perpassa os Três Poderes. Exemplo bem lapidado de como, nestes últimos anos, além de se assaltar empresas públicas como a Petrobras, manobrava-se sem limites para intervir no Judiciário, a fim de soltar empreiteiros companheiros detidos em Curitiba."
O julgamento no tribunal midiático já está concluído. Sem direito à apelação.
E o público, bombardeado por anos com a narrativa de que o PT "institucionalizou a corrupção" e de que Lula é um bandido, aceita sem questionamentos.
A sequência e o entrosamento são claros: Moro começa a jogada vazando os áudios para a Globo; a Globo recebe o passe, interpreta à sua maneira os áudios, encena-os em horário nobre, cria a convulsão social desejada e passa a bola para Gilmar Mendes; o tucano do STF dá sequência à tabelinha impedindo a posse de Lula; Janot pega a bola e insiste na abertura de inquérito; Teori não se opõe e a Globo finaliza a jogada decretando a culpa dos petistas em editorial.
Muitos dos que compram essa narrativa na verdade estão também alinhados ideologicamente à Globo e às castas burocráticas do Judiciário e do MPF.
Mas muitos realmente acreditam na narrativa midiática. E a participação destes, crentes de que estavam combatendo a corrupção ao ir para a rua protestar contra o governo, foi essencial para o sucesso do golpe.
Um dia eles hão de saber que os paladinos da moral da mídia, da Justiça e do MPF na verdade atuaram em conjunto para corromper o sistema de justiça e atingir seu objetivo político: colocar de joelhos uma das maiores democracias do mundo ocidental.

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