Jornal GGN - Conforme adiantou o GGN na última sexta-feira (12), a Polícia Federal concluiu o inquérito da Operação Triplo X, referente ao edifício Solaris no Guarujá. Até então em segredo de Justiça, o documento foi liberado nesta quinta-feira (18) pelo juiz Sergio Moro. Sem provas, a PF não indiciou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas os investigadores indicam que não tiraram a mira de Lula.
Deflagrada com o objetivo de investigar a suspeita de envolvimento do ex-presidente, suposto beneficiado pela construtora OAS, que assumiu a construção do edifício no litoral paulista após a Bancoop decretar falência, o resultado das diligências realizadas desde o dia 28 de janeiros deste ano, com a 22ª fase da Lava Jato, não trouxeram as provas esperadas.
Ao contrário, os investigadores se depararam com indícios de uma das maiores lavadoras de dinheiro no mundo, a Mossack Fonseca, que teve uma de suas offshores figurando como detentora de outro dos apartamentos triplex no edifício Solaris. Os depoimentos prestados, coletas de documentos e provas obtidas desde então só apostavam como alvo a possível relação da aquisição desse imóvel com recursos ilícitos obtidos a partir de corrupção da Petrobras.
Ainda assim, o fato de o ex-presidente ter tido interesse, inicialmente, em comprar um dos apartamentos do condomínio, a partir da aquisição de cotas da Bancoop, levou a equipe da Lava Jato a publicizar Lula como a mira constante dessa investigação.
Não à toa que, agora público o inquérito do caso Triplo X, sem indiciar Luiz Inácio Lula da Silva, nenhum jornal trouxe destaque para a notícia, que foi divulgada como mais uma do noticiário comum.
O Uol, que trouxe mais espaço ao documento dos delegados, publicou que Lula não é indiciado, com um adendo: "O ex-presidente Lula e seus familiares não foram indiciados. A real propriedade do apartamento do Guarujá, porém, é apurada em uma investigação à parte", escreveu o repórter André Shalders.
Em seu twitter, o jornalista enfatizou: "Atenção: Lula não foi indiciado na Triplo X, mas há outro inquérito em curso para apurar o suposto pagamento de propina através de reformas".
A notícia de que o ex-presidente não saiu da mira dos investigadores da Lava Jato, apesar de não divulgada no referido inquérito ou pela voz de nenhum dos procuradores, é um sinal de alerta da imprensa para a equipe de Sérgio Moro: se a Lava Jato quer voltar a ter publicidade, precisará indiciar a pessoa certa - Lula.
Conforme o GGN adiantou na última semana, os autos do inquérito 5003496-90.2016.4.04.7000, que investiga os crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e organização criminosa pela empresa Mossack Fonseca, não indicavam Lula como investigado, apesar de seu nome ser arrolado em todas as fases das diligências, em depoimentos, buscas de documentos, etc.
No lugar dos nomes investigados, a PF preferiu até a última semana restringir-se a informar: "Indiciado: A Apurar", a exemplo de todos os outros processos em investigação contra Lula, como o do sítio em Atibaia, que também não traz o seu nome entre os indiciados. A referência é usada quando ainda faltam informações para concluir o trabalho - o que contradiz com a notícia,antecipada pelo GGN, de que o inquérito final estava pronto.
O INQUÉRITO
Neste processo, com foco na lavadora de dinheiro, foram indiciados a chefe do escritório da Mossack no Brasil Maria Mercedes Riaño, Luis Fernando Hernandez, Rodrigo Andrés Cuesta Hernandez, Ricardo Honório Neto e Renata Pereira Britto, que trabalhavam para a Mossack, e o empresário Ademir Auada, que intermediava negócios da offshore.
Sem provas, o ex-presidente não apareceu como indiciado. Mas o máximo que os investigadores puderam chegar para arrolar o envolvimento dos negócios do condomínio com figuras do Partido dos Trabalhadores, expuseram nos autos.
Quando os delegados narram como chegaram aos indícios contra a Mossack, explicam que o foco inicial estava na compra de um apartamento no Condomínio Solaris por Marice Correa de Lima, cunhada de João Vaccari Neto. Marice que adquiriu a cota por R$ 150 mil no ano de 2011, pela Bancoop, foi apontada como "suspeita" por vendê-lo por R$ 432 mil, "fato extremamente atípico se considerarmos o ganho de capital obtido por Marice em tão pouco tempo", afirma o inquérito.
Explicam os investigadores sobre como começaram a investigar os apartamentos do litoral paulista:
A conclusão tomada foi de que "o CONDOMINIO SOLARIS teria fundamental importância enquanto elemento de conexão entre JOÃO VACCARI NETO, MARICE CORREA DE LIMA e OAS, empresa que se beneficiou dos crimes perpetrados contra a PETROBRAS" - uma das pontes que poderiam levar a Lava Jato a incriminar o ex-presidente.
Mas, ao contrário do que esperavam, tiveram em mãos provas inegáveis contra a Mossack Fonseca, que resultaram no inquérito agora finalizado.
O envolvimento da OAS no caso foi também arrolado posteriormente. Com as buscas e apreensões, os delegados identificaram que a OAS assumiu as obras inacabadas da Bancoop no Solaris e as unidades teriam sido "negociadas em condições aparentemente ilícitas, como as que envolveram a cunhada de João Vaccari Neto, Marice Correa de Lima, e a offshore Murray".
O histórico da própria cooperativa Bancoop foi levantado para fazer as possíveis conexões desse caso com o esquema da Petrobras:
Em mais de 120 páginas de investigação, o nome de Luiz Inácio Lula da Silva é citado duas vezes e o de dona Marisa uma. As únicas citações que os investigadores conseguiram publicar contra o ex-presidente partiu de depoimentos, com informações vagas e sem possibilidades de comprovações.
Em uma delas, a investigada Eliane que atuava como procuradora da Murray disse que assinou o documento "porque confiava em Nelci [real proprietária do triplex da offshore Murray]" e confirmou que acredita que a empresa tinha relação com o apartamento de Nelci, "em um condomínio conhecido na região já que o ex-Presidente LULA também tem apartamento nesse mesmo condomínio".
A segunda vez, trata-se do interrogatório de Nelci Warken, dona do triplex da Murray, offshore da Mossack:
O nome da esposa do ex-presidente aparece em um dos itens apreendidos na OAS: um termo de declaração, compromisso e requerimento de demissão do quadro societário em nome de MARISA LETÍCIA LULA DA SILVA, ou seja, a comprovação de que dona Marisa desistiu da compra do imóvel no Guarujá, pedindo a saída de sua participação no investimento da Bancoop.
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