quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Pelos frutos se conhece a qualidade da árvore: O histórico polêmico do publicitário de Temer no ninho tucano, em reportagem de Patrícia Faerman






Jornal GGNA campanha "Gente boa também mata" do Ministério dos Transportes não foi a primeira polêmica de João Roberto Vieira da Costa, conhecido como Bob, responsável pela publicidade do governo. Fiel aliado de políticos do PSDB, ex-secretário de Fernando Henrique Cardoso e ex-marqueteiro de José Serra na candidatura ao Planalto em 2002, Costa tem em seu histórico profissional atuações suspeitas em governos tucanos.
 
Estreitou sua relação com FHC logo em 1997, quando por indicação de Sérgio Motta tornou-se chefe de comunicação social do Ministério da Saúde. Antes disso, conheceu o tucano Sérgio Motta, ainda no governo de Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB), em São Paulo, em 1993.
 
De lá, por intermediação do tucano, Bob passou a atuar junto a FHC, permanecendo nas cadeiras ministeriais até 2002, como chefe de Comunicação de Governo da Presidência da República, onde novas polêmicas surgiram.
 
Reportagem de Kennedy Alencar para a Folha, no início de 2002, mostra que Fernando Henrique Cardoso inflou os gastos publicitários no ano anterior. 
 
"Apesar de o Orçamento da União de 2001 ter estipulado uma despesa máxima em publicidade de R$ 124,6 milhões no ano todo, o governo federal gastou pelo menos R$ 303 milhões, segundo números do Tesouro Nacional. A cifra é 143% maior do que a autorizada pelo Congresso", denunciava a publicação.
 
Para pagar os custos de publicidades e campanhas de divulgação do governo, Fernando Henrique Cardoso usou recursos de outros programas, sem o Congresso sequer autorizar ou saber.
 
Os repasses maiores foram para a Saúde, onde o comando estava nas mãos do atual chanceler José Serra, e então pré-candidato do PSDB à Presidência da República para suceder FHC. O levantamento feito por Kennedy Alencar, à época, traz indícios graves: até dois dias depois de Serra anunciar sua intenção ao Planalto, a pasta que comandava tinha gastado R$ 81,3 milhões do Orçamento de 2001, ao invés da autorização do Congresso de R$ 15,8 milhões. 
 
E essas transferências ocorreram sob respaldo e autorização de Bob Vieira da Costa, Secretaria de Comunicação. No ano seguinte, o então chefe da pasta deixou o governo FHC para se tornar coordenador de campanha de Serra à Presidência da República.
 
Na disputa eleitoral de José Serra, também não passou sem deixar polêmicas.
 
Bob Vieira da Costa foi estrategista da campanha. Antes mesmo de deixar o posto do Planalto, já atuava para levantar o nome de Serra à sucessão presidencial. Uma das medidas foi uma pesquisa encomendada em 1999 pela Comunicação, sob a justificativa de analisar os serviços públicos de saúde no país. Mas nos bastidores falava-se de uma pré-campanha. Bob incluiu nas perguntas as possibilidade de Serra chegar à Presidência.
 
Outra denúncia veio dois anos depois, também relacionada ao futuro pleito eleitoral. O empresário Alexandre Paes dos Santos acusou o Ministério da Saúde, comandado pelo tucano e Bob como assessor de comunicação, de um esquema para forçar empresários a colaborarem com o caixa de campanha de José Serra. Por meio de seu advogado, denunciava Serra de crime de extorsão ou peculato no exercício da função pública.
 
Como resposta, o empresário é que passou a ser investigado por extorsão, pelo procurador da República Marcelo Antonio Serro Azul, estreitamente ligado a Serra. A mudança de fonte da denúncia para acusado foi um pedido de Serra ao procurador, logo após o seu assessor, Bob Vieira da Costa, questionar Santos sobre o que ele sabia dessas supostas pressões feitas pelo tucano a empresários.
 
Os resquícios da atuação do publicitário Vieira da Costa permaneceram mesmo após o fim do governo de Fernando Henrique Cardoso. Em 2007, por exemplo, quando já teoricamente tinha aposentado a atuação direta na política e se dedicava à sua agência de propaganda Nova S/B, chegou a ganhar a conta de R$ 45 milhões do Sedex, nos Correios. 
 
Mas a conquista do aliado de Serra não durou muito. Já durante o governo Lula, na segunda fase da licitação de um total de R$ 90 milhões para a ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), a Nova S/B foi eliminada da concorrência. A própria imprensa divulgou, à época, que as desclassificadas tinham "entre seus sócios profissionais ligados ao governo Fernando Henrique Cardoso".
 
Em 2009, outra polêmica. De volta à atuação junto ao ninho tucano paulista, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio de Janeiro investigou uma suspeita propaganda da Nova S/B para a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), mas em âmbito nacional. E a publicidade divulgava para todo o Brasil as ações do governo de José Serra. Foi por denunciar esta campanha que o jornalista Luís Nassif teve seu contrato com a TV Cultura denunciado pelo então presidente da Fundação Padre Anchieta Paulo Markun.
 
A agência de Bob repassou um total de R$ 7,45 milhões à TV Globo para transmitir a campanha pelo Brasil, duas vezes por dia, de dezembro a janeiro. O TRE-RJ suspeitou do uso ilegal da máquina pública pelo então governador tucano paulista. 
 
Mais recentemente, com o importante posto de Serra no ministério de Michel Temer, em setembro do último ano, o atual chanceler começou a emplacar Bob Vieira da Costa a algum cargo estratégico na Comunicação do governo peemedebista. O movimento também foi aderido pelo chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, obtendo o êxito. 
 
Mas antes do logro de José Serra, a agência de publicidade do fiel escudeiro do tucano tentava ganhar novas contas junto ao Ministério da Transparência, para introduzir um sistema de compliance com base na lei anti-corrupção, em maio deste ano. Os ganhos foram somados as já contas do Banco Central, BNDES, Caixa Econômica, governo do Rio de Janeiro, Metrô e Sabesp para Bob Vieira da Costa.

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