segunda-feira, 8 de julho de 2019

A Lava Jato e os anjos da morte, por Luis Nassif



Qual o processo psicológico que faz com que pessoas aparentemente normais, tomem medidas que colocam em risco milhões de pessoas, com a mesma frieza de carrascos profissionais. O que fazem depois disso?


A Odebrecht já havia alertado que o vazamento das delações, especialmente contra países estrangeiros, não apenas prejudicaria as investigações como colocaria em risco a vida de seus executivos e familiares.
Hoje, no Painel da Folha (aqui), há mais detalhes sobre as consequências da leviandade do vazamento. Funcionários da Odebrecht e advogados que negociavam acordo na Venezuela, foram alvos de ameaça. O governo venezuelano disparou alerta vermelho de captura, pela Interpol, contra uma advogada e um executivo. Chegou a ser elaborado um plano de fuga para os executivos, que queriam deixar os hotéis em que estavam hospedados e se abrigar na embaixada brasileira.
Em outra frente, os embargos econômicos à Venezuela podem promover um desastre humanitário jamais visto no continente.
Os Estados Unidos confiscaram US$ 30 bi em ativos da PDVSA (a estatal de petróleo), 40 bancos retiveram US$ 5,4 bilhões e a Venezuela está impedida e comprar alimentos e medicamentos (aqui). Pesquisas recentes indicam que 47% dos venezuelanos pretendem sair do país (aqui). É um êxodo semelhante ao provocado pela guerra na Síria, uma tragédia mundial. 
Na outra ponta, um governante, Maduro, irresponsável e descuidado mas, agora, legitimado pelas agressões externas que o país sofre.
Países responsáveis propõem uma mediação que resolva o impasse sem sacrificar a população. É o caso da Noruega (aqui), do Canadá (aqui), de Portugal (aqui).
De repente, tudo isso é atropelado, e se coloca o destino de milhões de pessoas, a segurança de famílias de executivos e advogados, nas mãos de um grupelho de procuradores totalmente irresponsáveis, com a sensibilidade embotada dos carrascos que passam a ter orgasmos com a agonia das vítimas.
Os diálogos do Intercept mostram que, mesmo com alguns colegas alertando para os riscos do vazamento, não se pejaram em armar a jogada, com a frieza encontrada apenas em mentes psicóticas, ou na ignorância crassa.
Qual o processo psicológico que faz com que pessoas aparentemente normais, tomem medidas que colocam em risco milhões de pessoas, com a mesma frieza de carrascos profissionais. O que fazem depois disso? Vão para a casa, almoçam com a família, não deixam os filhos perceber que estão com as mãos sujas de sangue. Ou, como Deltan Dallagnol, irão ao próximo culto e bradarão aos céus que ajudaram na luta para tirar a Venezuela da situação de pecado, ainda que ao custo de milhares de vidas.
Seria somente ignorância crassa, ou o exercício do poder absoluto transformar pessoas aparentemente normais em monstros insensíveis, em viciados em violência, como Torquemada, Robespierre, Leopoldo 2º, da Bélgica, que assassinou 8 milhões de africanos, Cortez que dizimou 15 milhões de Aztecas, Stalin e suas 20 milhões de vítimas.
O processo psicológico é o mesmo. A diferença entre eles é apenas de dimensão. Aqui, são pequenos a quem foram entregues armas mortais para que liquidassem com os inimigos do rei, custasse o que custasse. Tiveram autorização para matar e o único limite seria o da sua própria consciência. 
Mas o poder entregue em suas mãos, era tão desproporcionalmente elevado em relação à sua dimensão profissional, que eles jogaram os pruridos no lixo. Mefistófeles ofereceu-lhes o mundo, o poder de derrubar governos, de afetar a vida de milhões de pessoas, o prazer indizível, para mentes doentias, de humilhar os inimigos, montar armadilhas, usar as armas da mídia para fuzilar reputações. E eles julgaram que era um poder divino e eterno.
Pequenos imbecis!
A tragédia da história não é a forma como cidadãos aparentemente normais, cumpridores de suas obrigações, pios e sinceros, se transformam em monstros irresponsáveis. O drama maior é como um país como o Brasil permitiu esse poder em mãos tão insignificantes e irresponsáveis.
Os verdadeiros responsáveis estão no Supremo Tribunal Federal, nos grupos de mídia que encamparam o discurso de ódio, na malta de deputados que seguiu as ordens de Eduardo Cunha.
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