terça-feira, 23 de julho de 2019

Clã Dallagnol (daquele mesmo) obteve metade de município do MT em área equivalente a Cabo Verde



Família do procurador da Lava Jato teve mais terras em Nova Bandeirantes do que “o maior grileiro do mundo” e clã dos “maiores pecuaristas e destruidores de florestas” do país



Deltan Dallagnol. Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Jornal GGN A família do procurador e coordenador da Lava Jato no Paraná, Deltan Dallagnol chegou a ser proprietária, nos anos 1970, de 400 mil hectares de terras em Nova Bandeirantes, município da região noroeste do estado do Mato Grosso, na região da Amazônia Legal.
O perímetro é equivalente a cerca de dois terços do Distrito Federal ou do tamanho de Cabo Verde, além de ser praticamente metade de Nova Bandeirantes, com área total de 953 mil hectares. Estes dados estão na segunda matéria da série de reportagensOs Latifúndios dos Dallagnol na Amazônia“, produzida pelo site De olho nos ruralistas.
As informações foram possíveis graças a um estudo coordenado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre a situação fundiária no Mato Grosso. O trabalho, coordenado pelo professor Bastiaan Philip Reydon, descobriu também que a família Dallagnol chegou à região de Nova Bandeirantes antes mesmo do processo oficial de colonização do município, iniciado na década de 1980 pela Colonizadora Bandeirantes (Coban).
A Coban foi criada por Daniel Meneghel, diretor da Usina Bandeirantes, na cidade de Bandeirantes, norte do Paraná. A reportagem do site De olho nos ruralistas conta que chegou até os Dallagnol graças ao sobrenome do empresário. Em novembro do ano passado, o portal publicou a matéria “Usineiro que bancou voo de Mourão tem histórico ligado à ditadura; vice foi apoiar o genro dele, ruralista”, falando de Serafim Meneghel, também conhecido como Tigrão, dono de time de futebol e amigo do vice-presidente.
Durante 30 anos, Tigrão foi presidente da Usina Açúcar e Álcool Bandeirantes S.A, no Paraná. A empresa, agora em nome do irmão Daniel Meneghel, foi aberta em 1966.
“É no nome de Daniel Meneghel que estão a Usina Bandeirante e a Coban, uma das empresas que, durante a ditadura, prestou-se a ‘colonizar’ o norte do Mato Grosso. Desse processo se formaram municípios como Colniza, Confresa, Colíder e – em homenagem ao município do empresário – Nova Bandeirantes, no noroeste do estado, a segunda terra dos Dallagnol”, destaca o portal de notícias.
A Coban chegou ao Mato Grosso em 1982, durante o governo João Figueiredo, o último presidente da ditadura militar. Nesse período, Daniel Meneghel se tornou proprietário de uma fazenda de 328 mil hectares, em Nova Mutum (MT), que foi confiscada pela Justiça e chegou a ir a leilão, em 2017, avaliada em R$ 12,3 milhões, mas os lances foram suspensos.
Outro estudo do Instituto Centro de Vida (ICV) expõe ainda que as propriedades privadas demarcadas no município de Nova Bandeirantes totalizavam mais do que a área do próprio municípios: 113%, mostrando a existência de sobreposição nas declarações de terras feitas pelos fazendeiros.
Uma tabela que mostra a concentração de terras no município aponta que apenas 72 proprietários detém bem mais do que a metade de Nova Bandeirantes. Nesse grupo está a família Dallagnol. Em contraposição, 900 proprietários respondem por 2% da área do município.
“Somando-se os 72 proprietários que tinham entre 1 mil e 2,5 mil hectares – a maioria do restante da família Dallagnol -, o levantamento mostra que 144 latifundiários detinham, em 2015, 76% da área do município”, escreve a reportagem do De olho nos ruralistas.

Com quem tu andas 

Em 1978, as propriedades de Nova Bandeirantes foram regularizadas junto ao Instituto de Terras do Mato Grosso (Intermat), segundo relatório do Projeto Governança Fundiária do Mato Grosso, publicado em dezembro de 2014. Logo, a indicação é que, até aquele momento, o território era considerado público.
Quando o clã Dallagnol chegou no Mato Grosso, ainda nos anos 1960, a região de Nova Bandeirantes fazia parte do município de Alta Floresta e, em um curto espaço de tempo, se tornaram proprietários de uma extensão maior do que famílias conhecidas na região pela ocupação de grandes espaços de terra, como o também paranaense Cecílio Rego Almeida, que ficou conhecido como “o maior grileiro do mundo”, após o episódio dos 5 milhões de hectares no sudoeste do Pará, dos quais dizia ser dono.
A gleba recebeu o nome de Fazenda Curuá e, segundo o Ministério Público, abrangia a Reserva Extrativista do Riozinho do Anfrísio, Floresta Nacional de Altamira, Terras Indígenas dos Xipaya, Kuruaya, Baú, além dos projetos Nova Fronteira e Santa Júlia, de assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A propriedade de Almeida foi contestada em uma ação da Justiça Federal que tramitou no município de Santarém.
Em Nova Bandeirantes, a construtura do fazendeiro, a CR Almeida, teve duas grandes gleba, de 150 mil e 65 mil hectares. Almeida também chegou a ser acusado de grilagem no município de Apiacás, Mato Grosso, na divisa com Nova Bandeirantes, de uma área com 300 mil hectares. Em 2009, a Procuradoria Geral do Estado do Mato Grosso moveu uma ação civil contra ele e outros envolvidos para reaver 579 mil hectares de área grilada.
Outra família que se destaca pela ocupação de terras devolutas é a paulista Junqueira Vilela. Uma reportagem do Intercept apontou a família como “os maiores pecuaristas e destruidores de florestas do Brasil”.
Os Junqueira Vilela tiveram uma área de 80 mil hectares em Nova Bandeirantes. Em junho de 2016, alguns membros da família foram presos na Operação Rios Voadores, sob a acusação de grilagem. Em 2015, o Ministério Público Federal denunciou parte da clã por crimes de trabalho escravo em áreas do Pará.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor

Assine e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.





Nenhum comentário:

Postar um comentário