quarta-feira, 24 de julho de 2019

O cheiro de bode expiatório vai ser ser eliminado? Por Fernando Brito





Veremos, ao longo do dia, mais detalhes sobre os “hackers de Araraquara”.
Por enquanto, as informações são poucas e, ao que parece, “testadas” através de sites simpáticos a Moro e à Polícia Federal antes de serem dadas oficialmente, como ocorria em outras operações, quando logo depois da ação, uma turma de delegados e procuradores punha-se à frente das câmeras e microfones para deitar falação sobre o espetáculo.
As “oficiais”, até agora, pouquíssimo dizem.
Os sujeitos detidos terem hackeado ou tentado hackear as contas de Moro não é, em hipótese alguma, o mesmo que serem a fonte dos diálogos mostrados pelo The Intercept e seus parceiros.
Hackers existem aos montes e qualquer um que tenha sido vítima de fraude bancária sabe disso, inclusive eu, que tive minha conta no Banco do Brasil invadida e dinheiro transferido para um sujeito de Pernambuco, há pouco mais de um ano, quando me mudei e usei a rede aberta da Net por dois ou três dias, enquanto esperava a instalação da minha.
Os arquivos da Polícia Federal, com certeza, possuem listas e listas de pessoas metidas com isto.
Os nomes apontados até agora são de pessoas que têm um histórico de prisões juntos, como o de Suellen Priscila de Oliveira, ex-vendedora de roupas que, em 2015, também foi presa com Gustavo Elias Santos, seu companheiro, e com e Walter Delgatti Neto.
O Globo – que, como os demais jornais diz que houve apenas a clonagem do número dos telefones e sua reinscrição no aplicativo Telegram – traz, porém, uma informação interessante, ao descrever as ordens de busca e as de prisão:
Obter provas relacionadas à invasão de contas do aplicativo Telegram utilizadas pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, o desembargador Abel Gomes (do Tribunal Regional Federal da 2ª Região); o juiz federal Flávio Lucas (da 18ª Vara Federal do Rio) e os delegados da PF Rafael Fernandes (lotado na Superintendência da Polícia Federal paulista) e Flávio Vieitez Reus (atua na PF de Campinas). O nome do procurador Deltan Dallagnol não consta no mandado de busca e apreensão.
Que eu me recorde, exceto Moro, nenhum dos outros personagens aparece, ao menos de forma significativa, nos diálogos vazados.
Todo o material divulgado até agora mostra ter como centro o Telegram de Dallagnol, inclusive trocas de mensagens que não teriam nenhuma razão de terem sido publicadas em grupos, como aquelas em que discutia com o procurador Roberson Pozzobon as perspectivas de lucros com palestras.
Uma nota do site nem tão extraoficial de Moro e da PF, publicada há minutos, corrobora o fato de que não se apurou tentativa de invasão ao telefone do chefe dos promotores e peça-chave de todos os diálogos: “A PF já sabe que os hackers que invadiram o telefone celular de Sergio Moro são os mesmos que hackearam as mensagens de Deltan Dallagnol no Telegram.”
Se o celular de Dallagnol não foi periciado ou se periciado isso não foi detectado e registrado nos pedidos feitos ao juiz, resta a confissão dos detidos como “prova”.
Pelo padrão dos detidos, nenhuma dúvida do poder de coerção a que estão submetidos para dizerem o que for mandado.
Não acho que seja “teoria da conspiração” o que publica hoje Luís Nassif, no GGN:
A operação da Polícia Federal contra os supostos hackers do interior paulista indica o início da estratégia Operação Incêndio de Reichstag, que marcou a ascensão do nazismo na Alemanha.
É uma tática recorrente em governos que caminham para o autoritarismo. Vão sendo testadas armações que insuflem a malta contra o inimigo comum fabricado. Mantém o clima de conflito permanente até que se tenha o grau de fervura adequado para o golpe final.
Nos últimos dias, além dos hackers de Moro houve a capa estapafúrdia de Veja com os supostos terroristas, a tentativa de reavivar as teorias conspiratórios sobre o Foro de São Paulo e, agora, o caso dos hackers amadores – desses que deixam pista e dão trote nas vítimas.
Por enquanto, o caso dos hackers parece mais uma tática restrita de autopreservação de Sérgio Moro, uma tentativa canhestra de tirar o Ministro da defensiva. O Rubicão a ser atravessado seria uma eventual tentativa de investir contra Glenn Greenwald, tentando associá-lo ao grupo. Dependerá exclusivamente da resistência que encontrar pelo caminho. E há um misto de cumplicidade e ignorância de alguns jornais e jornalistas, brincando de acender fósforo no barril de pólvora das redes sociais.
O interesse de parte dos grupos de mídia em “blindar” Moro, a aceitação bovina do que dizem as fontes da PF, o recalque com o furo do The Intercept e a perda do indispensável e saudável hábito jornalístico de duvidar de toda versão antes que esta se prove um fato ajudam a propagar a história dos “mocinhos que prendem” e dos “bandidos porque são bandidos”.
Fonte: Tijolaço


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