domingo, 5 de abril de 2020

Bolsonaro é um letal vírus político, por Homero Fonseca


As elites perceberam que criaram um vírus político e, temerosas da catástrofe que se avizinha,  buscam uma solução para controlá-lo. 

Aroeira

Bolsonaro é um vírus político

por Homero Fonseca, no GGN

Todos sabemos que foi por conta do vácuo político provocado pela Operação Lava Jato com decidido apoio da mídia, juntamente com outros fatores complexos,  que um bisonho deputado de extrema direita foi eleito presidente do Brasil. Seis meses antes das eleições de 2018 não havia viv’alma neste país que imaginasse esse cenário. Ele foi chancelado na campanha e no governo pelas elites econômicas e políticas,  (ao se comprometer com um programa ultra neoliberal, garantido pelo financista Paulo Guedes), incluindo aí a mídia. E pelos militares, cuja ideologia basicamente é a mesma do ex-capitão. O arranjo tornaria palatável a incompetência e os rompantes verbais do Jair e sua turma, enquanto Paulo e seus Chicagoboys governariam o principal, a política econômica. E assim vinha funcionando, com o apoio irrestrito desses setores e mais de sua própria base política: militantes de direita, evangélicos e em geral pessoas que passaram a descrer das instituições democráticas. Apesar da falta de resultados concretos na economia, ele era protegido pela convicção de que privatizações, desmantelamento do Estado e supressão de conquistas trabalhistas e sociais trariam cedo ou tarde a retomada econômica.
Aí apareceu o coronavírus, o vírus comunista vindo da China, com seus terríveis impactos sanitários e econômicos. A visão ideológica do presidente levou-o a alinhar-se entre os que minimizaram o perigo da gripezinha e priorizasse o funcionamento a todo custo do mercado, custasse o que custasse em vidas humanas. Nesse momento, assomou seu fanatismo, sua ignorância e seu absoluto despreparo para o cargo. Ficou claro que a situação estava se retornando insustentável. 
As elites se deram conta de que tinham criado um vírus político e a mídia passou a uma posição crescentemente crítica ao governo, com destaque para a Rede Globo. Todos sabiam, quando o apoiaram nas eleições e no governo, quem era o personagem (radical, preconceituoso, ignorante, medíocre, partidário das milícias, defensor de ditadura e censura), mas julgaram que o manteriam sob controle. Esse pessoal teme que se Bolsonaro assumir a condição de ditador se torne uma espécie de Chavez da direita – governando sem intermediação política (onde os interesses dos empresários são negociados, legal ou ilegalmente), dirigindo-se diretamente à sua base ideológica e à parcela mais ignorante e manipulada da população. Claro que, em caso extremo, as elites políticas, judiciais e sobretudo econômicas, se adaptam perfeitamente às ditaduras de direita (como fizeram nos regimes nazista e fascista,  nas ditaduras latino-americanas e asiáticas), assim como os EUA, seu paradigma. Mas o melhor é navegar nas águas seguras da democracia com a bússola neoliberal. Passaram a questionar abertamente o presidente, mas ainda não construíram uma alternativa institucional (pedidos de impeachment, declarações bombástica da oposição confusa apelando para renúncia e que tais pouco ou muito pouco contam nessa hora).
Ao sentir que, por conta de sua posição estabanada sobre a pandemia, perdia crescentemente sustentação política, Bolsonaro contra-atacou, radicalizando postura e discurso, na direção de criar impasse que levasse celeremente a uma ruptura institucional. Enfrentava a mídia com sucesso, usando as redes sociais e a própria mídia (as repetidas cenas matinais com pequenos grupos de apoiadores, transmitidas diariamente, funcionam como caixa de ressonância de suas mensagens mirabolantes; a mídia aceitou o jogo gostosamente, inclusive as próprias críticas a ela dirigidas pelo capitão, criando dois polos políticos: a direita fanática de Bolsonaro e a direita civilizada, representada por ela, a mídia, e os políticos e especialistas escolhidos e convocados a criticar o presidente; cria-se uma dicotomia artificial, uma falsa polarização com vistas a 2022 – direita x direita).
É nesse quadro que o vice, general Hamilton Mourão, saiu do ostracismo e se oferece como a alternativa de direita segura e racional. Rodrigo Maia corre por fora, coordenando a atuação do Congresso como um contraponto vigoroso às “loucuras” da gangue do Palácio do Planalto. E pululam alternativas no campo liberal: João Dória, Sérgio Moro e até um futuro fantoche como Luciano Huck. Esse conglomerado tem uma força enorme. Mas sem o apoio do Exército, não ousará destituir Bolsonaro. 
Foi diante desse quadro de adversidade crescente, que Bolsonaro partiu para a estratégia de radicalização, contando com seu exército de seguidores nas mídias sociais, reforçados por batalhões de robô. 
O busílis da questão é a posição dos militares, na superfície uma incógnita total. Mas, a julgar pela ponta do iceberg, os generais entraram em campo nos últimos dias de março. Fica para a próxima postagem.

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