quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Sérgio Moro e Deltan Dallagnol ainda devem explicações sobre o passado com o doleiro Alberto Youssef

 Nesta quarta-feira (29/12/21), a Folha de S. Paulo bem lembrou que a campanha do hoje senador Álvaro Dias foi parcialmente financiada por Youssef em 1998. Àquela altura, disse Moro, ninguém sabia quem era o doleiro. Dias é hoje o padrinho político de Moro, filiado desde novembro ao Podemos, assim como fez Dallagnol.

Jornal GGN:

Agora que atravessaram a porta-giratória e entraram oficialmente na política partidária, o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador da República Deltan Dallagnol prestariam um grande serviço à sociedade se viessem a público explicar com detalhes a relação que construíram desde o começo dos anos 2000 com Alberto Youssef, seu doleiro de estimação.

Nesta quarta-feira (29/12/21), a Folha de S. Paulo bem lembrou que a campanha do hoje senador Álvaro Dias foi parcialmente financiada por Youssef em 1998. Àquela altura, disse Moro, ninguém sabia quem era o doleiro. Dias é hoje o padrinho político de Moro, filiado desde novembro ao Podemos, assim como fez Dallagnol.

É inevitável que a exposição da relação Dias-Youssef respingue nos dois novos correligionários. Mas é preciso dizer: tanto Moro quanto Dallagnol têm um passado nebuloso com o doleiro e devem muito mais explicações.

Queremos saber, por exemplo, por que Moro afastou-se de uma instrução contra Youssef antes da Lava Jato começar, alegando “foro íntimo”. E por que Dallagnol foi a favor de tirar do calcanhar do doleiro um delegado da Polícia Federal independente, que quase comprometeu o uso de Youssef como delator.

Os primeiros capítulos da história entre Moro, Dallagnol e Youssef foram narrados pelo GGN com ajuda do delegado federal aposentado Gerson Machado, que colaborou para o documentário “Sergio Moro: a construção de um juiz acima da lei”.

Que ninguém se engane: Gerson Machado é um ex-agente que sempre teve um “ótimo conceito” do trabalho de Moro, com quem trabalhou proximamente nos anos 2000. Mas nem mesmo o delegado foi capaz de explicar os privilégios de Youssef junto a Moro e Dallagnol.

Youssef foi preso pela primeira vez por Moro em novembro de 2003. Em dezembro daquele ano, sob orientação de seu novo advogado, Augusto Figueiredo Bastos, Youssef fez a primeira delação homologada por Moro. Entregou seus concorrentes doleiros.

Pouco tempo depois, Youssef começou a ser investigado por Gerson Machado, então lotado na delegacia da PF em Londrina. Foi Machado quem alertou Moro e Dallagnol que Youssef não cumpria com o acordo de delação e ainda atuava no crime.

O delegado reportou a Moro até mesmo as suspeitas em torno de uma BMW de Youssef que, segundo ele, teria sido usada para pagar os honorários advocatícios.

Na época, “havia esse boato de que Figueiredo Bastos ‘corria junto’ com Moro, ou seja, era muito próximo de Moro e do MP”, lembrou o criminalista Alberto Toron no documentário. Bastos teve protagonismo como defensor de delatores na Lava Jato também. Procurado pelo GGN, não quis falar.

Em fevereiro de 2006, numa audiência com Youssef, os procuradores e a defesa, o delegado Gerson Machado defendeu que Youssef tivesse o acordo de delação suspenso. A força-tarefa decidiu manter o acordo em troca de novas informações contra uma figura mantida sob sigilo. “Ele forneceu um dado lá, a gente passou a investigar, mas até hoje não vi essa pessoa presa”, relatou Machado. Quem teria sido a figura que interessava a Moro e ao então procurador Dallagnol?

Em outra conversa que deixou o delegado indignado, Youssef confirmou que ganhara 25 milhões de dólares no crime, dinheiro que não foi devolvido “porque o Ministério Público não perguntou” sobre isso. Moro foi informado da situação, e lavou as mãos. Pediu para o delegado resolver com o MP.

“Sempre tive ótimo conceito do doutor Sergio Moro. Muito polido, reservado, interessado nas investigações. Mas nessa investigação que eu estava batendo de frente com Youssef e a defesa dele, ele [Moro] saiu da instrução por foro íntimo e não falou porquê.”

Em 2011, a defesa de Youssef entrou com um habeas corpus contra o delegado e Deltan Dallagnol sugeriu que o delegado Gerson fosse afastado do inquérito sobre o doleiro.

Gerson Machado já investigava o que virou o embrião da Lava Jato: as movimentações financeiras suspeitas da mulher e do assessor do então deputado José Janene.

Acabou que, convencido por Marcelo Valeixo – que depois virou braço direito de Moro na Polícia Federal, já no governo Bolsonaro – Gerson Machado transferiu o inquérito embrião para a delegada Erika Marena. E deu no que deu.

Assista à entrevista com Gerson Machado na íntegra:

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