quinta-feira, 29 de maio de 2025

Gaza – quando as vítimas se tornam carrascos, por Dora Incontri

 


Milhares de pessoas se manifestam em inúmeros países de todos os continentes. Muitas são presas, porque proibidas de serem pró-Palestina


    Foto: reprodução

Gaza – quando as vítimas se tornam carrascos

por Dora Incontri, no Jornal GGN

Um casal de médicos palestinos, perdeu corbonizados, 9 dos seus 10 filhos, sendo um deles bebê, num bombardeio do governo israelense em Gaza. O menino sobrevivente teve sua mão amputada e o pai continua em estado grave, internado. A médica Alaa Al-Najjar encontrou os filhos irreconhecíveis, debaixo dos escombros de sua casa. Há alguma palavra que se possa dizer diante de um massacre desses?

Mais de 18 mil crianças já foram mortas em Gaza, desde outubro de 2023. A estimativa é de que haja 20 mil órfãs. As que estão vivas talvez preferissem não estar, no meio de uma cidade arrasada, sem água e sem comida – Israel não permite a entrada de ajuda humanitária. Conta-se que muitas foram amputadas sem anestesia.

E o mundo? Milhares de pessoas se manifestam em inúmeros países de todos os continentes. Muitas são presas, porque proibidas de serem pró-Palestina, como agora no governo Trump, como na Alemanha, com o seu terrível complexo de culpa diante os judeus. Mas, deve-se dizer: toda guerra no mundo rende dividendos polpudos para a indústria bélica. E os países não cortam relações com Israel por interesses econômicos.

“Não se pode chamar de “guerra”a algo que uma das partes – os palestinos em Gaza – não tem capacidade real de combate contra um dos exércitos mais poderosos e bem equipados do mundo.”  Como se chama então o que está ocorrendo em Gaza? Genocídio! Termo que um dos primeiros chefes de Estado a usar foi o nosso Lula. Essa frase acima é o clamor de um importante historiador israelita, Omer Bartov, justamente especializado no Holocausto judaico e em genocídios.

Bertov, como outros intelectuais judeus de várias partes do mundo, denuncia a instrumentalização do Holocausto promovido pela Alemanha nazista para escapar da justa condenação ao Holocausto palestino, que está sendo operacionalizado por quem? Justamente pelo governo de um povo que já sofreu um genocídio e uma tentativa de limpeza étnica! E há parte do povo israelense protestando essa matança em nome das crianças palestinas mortas.

Foi divulgada hoje uma carta no Brasil, assinada por intelectuais, artistas e políticos, pedindo a Lula que corte relações comerciais e diplomáticas com Israel. Já não é sem tempo. Aliás, já passou do tempo.

O que se vê no mundo é uma paralisia covarde e conivente diante desse massacre que já dura um ano e meio. Já praticamente não existe mais Gaza. Hospitais, escolas, universidades, casas da maioria da população foram postos abaixo. Crianças, mulheres, jornalistas, médicos, funcionários da ONU – mortos.

Para compensar e repatriar (depois de 2 mil anos) um povo que foi perseguido desde sempre no Ocidente, de Portugal a Rússia (controvérsias há se a Rússia é europeia, asiática ou uma síntese) e havia sido submetido ao regime nazista, criou-se o Estado de Israel. Mas essa fundação do Estado de Israel, promovida principalmente pelo Império Britânico, desconsiderou desde sempre o povo que lá habitava, há 2 mil anos: árabes, que consideravam essa terra como sua. Nunca foi reconhecido um Estado palestino e desde então, esses habitantes daquela que era sua terra, têm sido encurralados, perseguidos. E agora, estamos diante da “solução final” – termo usado pelos nazistas em relação aos judeus: que é o extermínio planejado e posto em ação para expulsar definitivamente os que sobraram da terra que era deles. Israel é um Estado expansionista, militarizado, que doutrina suas crianças desde cedo a um supremacismo (quem diz isso é uma professora israelense da Universidade Hebraica de Jerusalém, Nurit Peled-Elhanan).

E a mairoria dos governos do mundo se cala. Como fizeram com Hitler. Não se pode esquecer que houve empresas norteamericanas, houve eugenistas de vários países, houve um governo colaboracionista francês (de Vichy), que se juntaram aos alemães nazistas. Integralistas brasileiros eram pró-fascismo. Sempre houve os que ficaram do lado errado da história, seja por afinidade ideológica, por interesses comerciais, por covardia.

A diferença é que houve um surpresa trágica, generalizada, quando russos e aliados tomaram os campos de concentração nazistas. Suspeitava-se, mas não se sabia ao certo o que acontecia lá. Hoje não. Assistimos a um massacre genocida de um povo, ao vivo e a cores. Nosso silêncio e a paralisia e o retardamento dos governos em tomarem providências ficará como uma mancha histórica para toda a humanidade.

Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.

Exército processou coronel Caçadini, ligado a empresa para matar autoridades e por incitar golpe

 Do UOL:


 

Etevaldo Caçadini defende que Exército deve ignorar regulamentos e ameaça a ordem democrática ao sugerir que militares rompam com a hierarquia

Do ICL Notícias:

POLÍTICA

Coronel acusado de integrar grupo armado exaltou ruptura militar e convocou golpe



Por Cleber Lourenço

O coronel reformado do Exército Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, investigado pela Polícia Federal como suspeito de integrar o grupo clandestino Comando C4, publicou ao menos dois vídeos nas redes sociais nos quais incita militares a violar a hierarquia e agir contra as instituições democráticas. Alvo da Operação Sisamnes, Caçadini aparece nas gravações fazendo apelos explícitos para que as Forças Armadas deixem de cumprir seus regulamentos e assumam uma postura de confronto com os demais Poderes da República.

O conteúdo dos vídeos, somado ao histórico do militar e seu envolvimento com grupos de extrema direita, está sendo analisado pelas autoridades como parte de uma possível estratégia de articulação golpista. Em uma das gravações, publicada no perfil “Profissão PM” no Facebook em 6 de março de 2023, o coronel Caçadini aparece se dirigindo a um público que ele identifica como “patriotas”.

No vídeo, ele diz que a hierarquia e a disciplina são valores importantes apenas “em tempos normais” e que, diante do que chama de anormalidade institucional, esses princípios podem ser deixados de lado.

“O bem maior da nação fala mais alto”, afirma o coronel, em tom de alerta e convocação. Na sequência, ele critica a postura das Forças Armadas após a eleição presidencial de 2022, alegando que o Exército teria sido omisso e se acovardado diante da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. “Os generais passaram pano”, diz, completando que há um descontentamento generalizado nas fileiras da ativa, com a estimativa de que “99,9999%” dos militares de patentes intermediárias estariam insatisfeitos.

Coronel teria participado de planos para 'eliminar' autoridades públicas

O segundo vídeo é uma entrevista concedida pelo coronel Caçadini ao canal Conexão Segurança, publicada em 9 de agosto de 2022, poucos meses antes das eleições. Nela, ele propõe três cenários possíveis para o futuro das Forças Armadas: uma fissura interna, uma fratura funcional ou um colapso total da hierarquia.

Com base em sua experiência como oficial, o coronel Caçadini diz que o comando intermediário — formado por coronéis e tenentes-coronéis — poderia assumir protagonismo e liderar uma reação interna diante do que ele considera uma crise institucional provocada pelo Judiciário e pelo Executivo.

Ele chega a comparar o momento com o surgimento do tenentismo na década de 1930 e sugere que novos levantes poderiam partir dessa mesma faixa de oficiais. A entrevista é recheada de expressões como “despertar da tropa” e “tomada de posição”, além de críticas severas à atuação do Supremo Tribunal Federal e ao sistema eleitoral.

As declarações são consideradas gravíssimas por investigadores da Polícia Federal, que veem nos vídeos um indício claro de tentativa de incitação à sublevação militar. O conteúdo passou a integrar o inquérito da Operação Sisamnes, que apura a existência de um grupo clandestino armado, conhecido como Comando C4.

De acordo com a investigação, o Comando C4 seria uma organização com estrutura paramilitar voltada a práticas como espionagem, atentados contra agentes públicos e tentativas de desestabilização institucional. A PF sustenta que o grupo operava com apoio financeiro e logístico de militares da reserva e civis influentes no meio da segurança privada, sob a fachada de empresas legalmente constituídas.

Coronel teria participado de planos para ‘eliminar’ autoridades públicas

Documentos apreendidos durante a operação mostram que Caçadini teria ajudado a financiar operações do Comando C4 e participado de reuniões em que se discutiram planos para eliminação de autoridades públicas, incluindo ministros do STF e parlamentares. Em um dos documentos, aparece uma tabela com valores atribuídos a diferentes tipos de alvos, incluindo “autoridades do Judiciário” e “lideranças políticas”.

As autoridades afirmam que coronel Caçadini atuava como articulador e elo entre os financiadores e os executores, fornecendo não apenas recursos, mas também conhecimento técnico e doutrinário extraído de sua formação militar e experiência em operações psicológicas. Além disso, ele é apontado como influente em círculos bolsonaristas e grupos extremistas da reserva militar, onde atuava como liderança informal.

A defesa do coronel reformado sustenta que suas declarações foram retiradas de contexto e que ele apenas exercia seu direito à liberdade de expressão. Os advogados alegam que os vídeos tratam de opiniões pessoais e que não há qualquer vínculo entre o conteúdo das gravações e ações criminosas efetivas. O Supremo Tribunal Federal, no entanto, já se manifestou em sentido contrário.

O ministro relator do inquérito, Cristiano Zanin, apontou que há “fortes elementos indiciários” de que o coronel Caçadini participou de articulações voltadas à ruptura da ordem democrática. Diante disso, sua prisão preventiva foi mantida, e ele permanece custodiado em unidade militar em Cuiabá, onde aguarda os próximos desdobramentos do processo, que corre sob sigilo.

Enquanto as investigações avançam, cresce o interesse de parlamentares e setores da sociedade civil por esclarecimentos públicos sobre o caso. A Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados cogita convocar autoridades da PF e do Ministério da Justiça para apresentar atualizações sobre o inquérito.

Já organizações ligadas à defesa da democracia alertam para o risco de que outros militares da reserva — ou mesmo da ativa — possam estar envolvidos em articulações semelhantes. Para investigadores, os vídeos de Caçadini não apenas revelam uma tentativa deliberada de incitar a tropa, como também se inserem em uma estratégia mais ampla de minar as instituições democráticas e justificar medidas de força sob o pretexto de atender ao “clamor popular”.


Reinaldo Azevedo: STF retomará julgamento sobre o vale-tudo nas redes sociais e a arrogância das Big Techs

 

Da Rádio BandNews FM:




quarta-feira, 28 de maio de 2025

Militares fascistas golpistas bolsonaristras extremistas abriram empresa para espionar e matar autoridades; preços chegavam a R$ 250 mil, diz PF

 

Do UOL:

Militares abriram empresa para espionar e matar autoridades; preços chegavam a R$ 250 mil, diz PF

Ao deflagrar hoje a sétima fase da Operação Sisamnes, que investiga corrupção em várias instâncias do Judiciário, a Polícia Federal apontou indícios de que militares abriram uma empresa para realizar ações de espionagem e homicídios. O colunista Aguirre Talento traz os detalhes.


Militares criminosos fascistas golpistas bolsonaristras extremistas abriram empresa para espionar e matar autoridades

  Do G1:




Reinaldo Azevedo: Tolerância/cumplicidade da "grande" imprensa com “afascistados” une o ataque misógino a Marina aos absurdos golpistas de Eduardo Bolsonaro

 

Da Rádio BandNews FM:




terça-feira, 27 de maio de 2025

Reinaldo Azevedo – STF abre inquérito contra o "patriota" Eduardo Bolsonaro por coagir o Judiciário e obstruir a investigação

 STF abre inquérito à pedido da PGR contra Eduardo Bolsonaro por obstrução de justiça e ameaça conspirativa

Da Rádio BandNews FM:




STF abre inquérito contra Eduardo Bolsonaro por atuação nos EUA contra o Brasil. Moraes será relator

 

Do ICL Notícias:


PGR pediu que o Supremo autorize a tomada de depoimento de Jair Bolsonaro (que disse em entrevista estar financiando o filho os EUA) para esclarecer os fatos



O Supremo Tribunal Federal abriu inquérito para investigar o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por atuação nos Estados Unidos contra autoridades brasileiras. Por decisão do presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes é o relator do caso.

Mais cedo, a PGR solicitou a abertura do inquérito, com a citação de postagens em redes sociais e entrevistas a veículos de imprensa dadas pelo deputado. Em março, Eduardo Bolsonaro anunciou licença do mandato parlamentar para morar nos Estados Unidos, onde está desde o final de fevereiro.

“Há um manifesto tom intimidatório para os que atuam como agentes públicos, de investigação e de acusação, bem como para os julgadores na Ação Penal, percebendo-se o propósito de providência imprópria contra o que o sr. Eduardo Bolsonaro parece crer ser uma provável condenação”, diz a Procuradoria.

“As evidências conduzem à ilação de que a busca por sanções internacionais a membros do Poder Judiciário visa a interferir sobre o andamento regular dos procedimentos de ordem criminal, inclusive ação penal, em curso contra o sr. Jair Bolsonaro e aliados”, prossegue.

PGR pede depoimento de Bolsonaro

A PGR pediu ainda que o Supremo autorize a tomada de depoimento de Jair Bolsonaro para esclarecer os fatos. Segundo a Procuradoria, o ex-presidente seria beneficiado diretamente pelas ações do filho. “Dada a circunstância de ser diretamente beneficiado pela conduta descrita e já haver declarado ser o responsável financeiro pela manutenção do sr. Eduardo Bolsonaro em território americano”.

PGR Bolsonaro

PGR pediu que o Supremo autorize a tomada de depoimento de Jair Bolsonaro para esclarecer os fatos. (Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil)

A conduta de Eduardo Bolsonaro, segundo a PGR, pode configurar crimes como coação no curso do processo e possível obstrução à investigação de infração penal que envolva organização criminosa. A PGR também avalia que devem ser ouvidas autoridades diplomáticas brasileiras nos EUA que possam ter conhecimentos dos fatos.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Reinaldo Azevedo sbre Aldo Rebelo e o alerta de Alexandre de Moraes de que o Supremo Tribunal não é picadeiro

 Aldo Rebelo quis transformar o STF em palanque e recebeu advertência para se postar como testmunha em juízo e não como lacrador tendencioso de redes sociais. 

Da Rádio BandNews FM:




As elites e o bolsonarismo querem o fim da universidade pública

 

Folha, outra vez, encampa o obscurantismo: acusa Ensino Superior de projeto fracassado, caro e cabide de empregos. Lula acena com a suspensão do contingenciamento de verbas. Mas a mobilização não pode parar em gabinetes. Exige outra definição das prioridades nacionais

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

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1. É claro o projeto das elites conservadoras para a universidade. Com rara felicidade, a Folha de S. Paulo o sintetizou no Editorial “Não haverá dinheiro que baste para universidade públicas”, de 23 de maio de 2025, reagindo ao manifesto conjunto da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso das Ciências (SBPC) — que, com plena razão, mostraram que o contingenciamento ora definido pelo governo federal favorece o desmonte da universidade pública em nosso país.

Os redatores da Folha são competentes. Eles são capazes de enunciar, em poucas linhas, toda a pauta reacionária, que não associa a universidade a um projeto de nação verdadeiramente democrática. Sem dúvida, com seu modo característico de simular a apresentação de argumentos em texto tão somente eivado de preconceitos, a Folha de S. Paulo mostra que tem lado. É verdade que ainda o faz sem as surpreendentes bravatas de um Trump, mas ela não está mais muito distante da retórica dos governos anteriores. Assim, ao condenar o “tom catastrofista” do manifesto da ABC e da SBPC, assume ela própria um requentado tom catastrofista, bastante digno de Bolsonaro.

No Editorial, as universidades aparecem como um projeto fracassado e caro, um inútil poço sem fundo, no qual, ademais, servidores docentes e técnicos atrevem-se a fazer greves, tendo o condenável benefício da estabilidade. Para começo de conversa, a Folha considera a universidade uma repartição pública qualquer, que não teria dignidade própria nem mereceria ser protegida das intempéries da economia. As universidades, afirma o Editorial, são meros “exemplos de distorções e vícios da gestão pública”. Já vai longe aqui o momento em que até a Folha reconhecia o valor das universidades, por exemplo, no combate à pandemia.

As bandeiras reacionárias parecem brotar como se fossem óbvias, expressando preconceitos ignorantes em letra de forma: fim da estabilidade dos professores, da gratuidade do ensino e, sobretudo, da garantia do financiamento público da educação superior — medidas que sabemos inconsistentes, mas podem ter grande apelo retórico. Em suma, para a Folha et caterva, a universidade parece mais abjeta que o próprio obscurantismo. Com efeito, a próxima campanha eleitoral começa, e o lugar de produção da pesquisa e do conhecimento no Brasil deve tornar-se um alvo a ser desmontado: “Trata-se de um modelo custoso, iníquo e de baixo incentivo à eficiência, defendido à base de discurso ideológico e prática corporativista”.

2. Temos indícios positivos de que a reação do presidente Lula vai em outra direção. A nota da ABC e da SBPC, em vez de lhe provocar engulhos como à Folha, parece suscitar o aceno de que Lula receberá os reitores e que, então, poderá até anunciar a suspensão do contingenciamento para as universidades federais.

Não poderíamos esperar outra atitude. Nesse caso, se confirmado, fica a lição para aqueles que pensam ajudar o atual governo evitando qualquer crítica. A mobilização decidida e a crítica necessária ajudam nossos governantes a não serem tragados pelas pautas reacionárias. Com isso, nossos louvores à ABC e à SBPC, bem como a quantos vocalizam a luta, tanto urgente quanto de longa duração, em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade.

Com justa alegria, reitores já comemoram nos bastidores. Não obstante o possível alívio, parece que essa boa e justa acolhida está longe de significar uma autêntica guinada nos rumos das prioridades nacionais. Que o governo Lula não sacrifique as universidades é algo que está à altura de sua história, de seu melhor legado, pois sua política fez expandir a rede de universidades por todo país e permitiu o acesso ao ensino superior de muitos outrora sistematicamente excluídos. Faz, então, muito bem o líder que acolhe, mas não para refrear uma luta ainda mais ampla e franca pelos valores mais elevados que, aliás, no momento, somente ele pode representar.

Que os atores da cena universitária leiam os sinais. As águas se dividem, os campos se desenham. Nesse cenário de grande confronto entre projetos opostos de nação, não há de bastar o mero alívio das dores agudas das nossas instituições. Reitores não podem contentar-se com sobreviverem a seus próprios mandatos, mesmo com eventuais conquistas e algumas inaugurações. Afinal de contas, está em jogo o destino da universidade. Assim, não basta remediar, é preciso curar um mal e combater uma narrativa, cabendo à ANDIFES uma resposta firme ao Editorial da Folha.

É preciso, pois, deslocar a educação pública para o lugar de prioridade nacional, de sorte que ela contribua, inclusive, por seus essenciais serviços à nossa nação, para afastar de forma duradoura os insistentes fantasmas do obscurantismo.

Lula deve agir nesse momento de urgência, e os reitores devem, sim, celebrar sua atitude. Mas é preciso mais. A mobilização não pode parar nos gabinetes, uma vez que o governo Lula e as universidades não podem fechar os olhos para a dimensão do ataque, nem recusar esta oportunidade para afirmar, perante a sociedade, a bandeira da educação. Se as soluções não forem de grande monta, se não implicarem uma autêntica redefinição das prioridades nacionais, estaremos oferecendo para uma luta ideológica de largo espectro apenas uma saída passageira e insuficiente, porquanto marcada por sua imediatez e tibieza.

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Cézar Calejon discorre sobre a limpeza étnica contra os palestinos como resultado dos interesses expansionistas da lógica sionista

 

Do Canal ICL:





Sebastião Salgado na prosa sobre o diabo e a extrema direita. Artigo de Xico Sá

 

Além de gênio da fotografia, o artista mineiro era contador de histórias de personagens do Brasil Real

Do ICL Notícias:



“O que dizer desse metal amarelo e opaco que leva homens a abandonar seus lares, vender seus pertences e cruzar um continente a fim de arriscar suas vidas, seus corpos e sua sanidade por causa de um sonho?”, perguntava, em momento de reflexão sobre suas aventuras no Brasil, o fotógrafo Sebastião Salgado, em 2019, ao inaugurar uma exposição, no Sesc Paulista, com fotografias inéditas sobre o garimpo de Serra Pelada.

Indignado com o festival de notícias sobre devastações de partes da Amazônia durante o governo Bolsonaro, o fotógrafo blasfemava contra o presidente da época. No seu mineirês imbatível ­ — mesmo depois de tantos anos fora do Brasil —, Salgado dizia um rosário de adjetivos impublicáveis contra o então ocupante do Palácio do Planalto.

Para completar o escárnio, coisa na linha dos resmungos de Riobaldo (no livro “Grande sertão: veredas”, de Guimarães Rosa), o artista recitava os apelidos do demo, referindo-se ao mesmo todo-poderoso da extrema direita naquele período: “O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejo.”

Desabafos à parte contra Bolsonaro, voltemos a subir os barrancos de Serra Pelada. Esse era um dos seus assuntos prediletos em entrevistas e nas raras mesas de bares nas quais dei sorte de tê-lo como companheiro de prosa.

Foi uma foto do formigueiro do garimpo que o ajudou a consagrar no mundo. O New York Times colocou a imagem entre as 25 que definem a ideia de era moderna. Não é pouca glória. Salgado preferia, no entanto, relembrar das sagas fantásticas de personagens que saíram em busca do ouro na Amazônia.

Histórias como a do garimpeiro José Mariano dos Santos, conhecido como “Índio”, que extraiu 1.183 quilos de ouro dos barrancos de Serra Pelada, no Pará. Uma fortuna do tamanho de um prêmio da Mega-Sena especial da Virada.

Em uma das tantas aventuras vividas por Índio, a mais conhecida é essa, segundo lembrava o fotógrafo. Um dia ele sentiu discriminado pela aparência no balcão de uma empresa aérea em Marabá, enquanto tentava adquirir uma passagem. No momento de revolta, não teve dúvida: pegou três sacas de dinheiro e fretou um boeing da Transbrasil para viajar sozinho com a tripulação até o Rio de Janeiro, onde encontraria uma paixão amorosa, Terezinha — dançarina que havia se apresentado em um show no garimpo com o cantor Sidney Magal.

Poucos tiveram a sorte deste aventureiro que se tornou personagem de programas de TV e documentários de cinema, mas Serra Pelada ficou na memória do país com a sua imagem única de um formigueiro humano por onde passaram cerca de 100 mil brasileiros. Somente no primeiro ano de funcionamento, foram 30 mil homens em busca de riqueza.

Trinta mil homens e raríssimas mulheres. Elas eram proibidas de buscar o sonho dourado. Isso não impediu que Raimunda Conceição se fantasiasse de “cabra macho”, com bigode e tudo, na tentativa de encontrar a fortuna.

O eldorado brasileiro acabou juntando os destinos de Índio e de Raimunda. Depois de uma vida de extravagância, incluindo uma temporada no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, ele casou com a ex-garimpeira infiltrada, e que viria a ser sua décima terceira mulher na vida.

Raimunda pegou um Índio sem um grama de ouro, mas sustentou o marido até a sua morte, em 2015, vítima de um derrame aos 61 anos de idade. Ela segue firme sobre a mesma terra onde arriscou a própria pele na corrida pela riqueza.

O maior garimpo a céu aberto do mundo começou com uma pepita de ouro encontrada, ao acaso do acaso, por um morador da fazenda Três Barras, no final de 1979. A notícia se espalhou de boca em boca e começou a atrair milhares de pessoas. Em pouco tempo, a vegetação havia sido destruída pelos aventureiros — daí se deu o nome de Serra Pelada ao lugar. O fenômeno da mineração durou de 1980 a 1992.

Diante da invasão de garimpeiros, o governo federal determinou que outro Sebastião, o major Curió, fosse o comandante do pedaço, responsável pela organização e disciplina. O cargo representava um prêmio pelos serviços prestados na Guerrilha no Araguaia (1967-1974) — ele ficara famoso pela perseguição, tortura e morte de militantes do PC do B.

A primeira ordem de Curió foi proibir a presença de mulheres e de bebida alcóolica na área. O motivo: evitar que o lugar virasse uma zona, segundo suas palavras. O trabalho do mandachuva lhe rendeu ouro e o mandato de deputado federal, em 1982. Com a aglomeração desordenada nos arredores do garimpo, fundou uma cidade em sua própria homenagem: Curionópolis, de onde seria, posteriormente, o primeiro prefeito.

Não é possível contar a história do garimpo, porém, sem lembrar do “Massacre da Ponte”, dizia Salgado. O episódio ocorreu em 29 de dezembro de 1987, no município de Marabá.

A Polícia Militar paraense, com auxílio do Exército, atacou, com fuzis e metralhadoras, um grupo de 300 pessoas que protestavam por melhores condições de trabalho e pela manutenção da extração manual de ouro. Os organizadores do protesto informaram que pelo menos 50 garimpeiros foram assassinados.

Serra Pelada sempre instigou o imaginário dos brasileiros com seus episódios de violência na selva ou de fantasia de enriquecimento. Nas suas lentes ou na sua prosa, ninguém escreveu essa crônica como Sebastião Salgado.

Vergonhoso ato de fascismo bolsonarista junto com fundamentalistas religiosos em Ilhabela, SP: Alvo de ataques, professor pede demissão após aula sobre mitologia em escola cívico-militar de SP

 

 

Do ICL Notícias:

PAÍS

Alvo de ataques, professor pede demissão após aula sobre mitologia em escola cívico-militar de SP

Docente é alvo de ataques de um vereador de extrema direita e da gestão de Ilhabela após aula sobre o conceito de tempo em diferentes culturas para uma turma do 6º ano


Por Gabriel Gomes

César Augusto Mendes Cruz, professor e doutorando em História, pediu demissão da Escola Municipal Senador Major Olímpio, que adota o modelo cívico-militar na cidade de Ilhabela, no litoral de São Paulo, depois de sofrer ataques de um vereador de extrema direita e da gestão do município após uma aula sobre o conceito de tempo em diferentes culturas para uma turma do 6º ano.

A aula, dada no início do ano letivo deste ano, abordava as interpretações de tempo na cultura ocidental e na cultura iorubá, com o mito de Irokô. Em um dos momentos, o professor apresentava três obras de arte que retratam o tempo como figura masculina idosa: uma pintura de Francisco Goya, uma de Rubens e uma de Jacopo del Sellaio. A atividade terminou com a canção “Oração ao Tempo”, de Caetano Veloso.

Após um ciclo de quatro aulas sobre o assunto, César Augusto relata que algumas famílias procuraram a Secretaria de Educação de IlhaBela alegando que o professor estaria “mostrando material impróprio”. “Supostamente, um dos alunos não estava dormindo de medo por causa da pintura de Goya”, diz o docente. A pintura do artista espanhol exibida foi “Saturno devorando um filho”.

“Saturno Devorando Seu Filho”, do pintor Francisco Goya. (Foto: Reprodução)

O alto escalão da Secretaria, sem aviso prévio, realizou uma reunião com o professor, na própria escola municipal. “Eu fui pego de surpresa. Vieram com a pauta de que as famílias haviam reclamado, queriam saber de que maneira a minha aula se enquadrava no currículo”, conta o professor César Augusto.

“Eles já vieram com o currículo na mão, como censores mesmo, querendo saber de que maneira a minha aula se enquadrava dentro das habilidades previstas. Eu estranhei a abordagem, fiquei acuado por sentar em uma sala com três chefes”, completa. O professor encaminhou um ofício à Secretaria de Educação da cidade solicitando a ata da reunião, mas não obteve resposta.

“Me senti extremamente vulnerável institucionalmente, porque as regras da administração pública não foram acolhidas nesse sentido. A regra diz que eu não posso ter contato direto com a chefia que não seja a minha chefia imediata e eu fui levado para uma salinha que tinha o alto escalão da Secretaria de Educação”, relata o professor.

Professor

Professor César Augusto Mendes Cruz. (Foto: Arquivo Pessoal)

Professor é alvo de ataques

Na reunião, César foi informado que seu nome circulava em grupos de pastores. Desde então, o professor passou a ser alvo de diversos ataques. O principal deles partiu de um vereador da extrema direita de Ilhabela, Gabriel Rocha (PL). Da tribuna da Câmara da cidade, o parlamentar centrou críticas no docente e atacou a obra de Francisco Goya. “Essa aula foi dada para crianças de dez anos. O que estão aprendendo é sobre um quadro libidinoso e perturbador”, disse.

“O professor que causou isso depois ainda teve a coragem de ir à Câmara fazer denúncia contra os gestores que só quiseram conversar”, completou. O vereador foi o idealizador da implantação das escolas cívico-militares em Ilhabela.

Vereador Gabriel Rocha (PL). (Foto: Reprodução/ Redes Sociais)

Após o discurso do parlamentar, os ataques a César Augusto nas redes sociais se multiplicaram. “O clima ficou muito difícil na escola porque eu estava sendo abertamente atacado na Câmara, meu nome estava sendo veiculado em grupos de WhatsApp”. Segundo o professor, a Secretaria de Educação realizou, em março, uma reunião com as famílias da turma, que foram incentivadas a procurar o Conselho Tutelar e o Ministério Público para denunciá-lo.

César, então, resolveu pedir demissão da matrícula que possuía para dar aulas na Escola Municipal Senador Major Olímpio. “A situação ficou muito ruim dentro da escola e eu não confiava na equipe gestora. Não vi outra situação, não tinha como eu continuar trabalhando lá, pedi para que o contrato fosse cessado. Mas, continuei no meu cargo de efetivo”, conta.

Após o pedido de demissão da escola, a secretária de Educação da cidade, Lídia Lúcia Sarmento de Lima, resolveu abrir um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra o professor, por supostamente ter mostrado material impróprio para os alunos e estar caluniando a secretária.

“Estou me sentindo vulnerável, cansado, exausto, assediado, exposto e inviabilizado na minha função. Eles estão impedindo que eu dê aula, estão impedindo que eu seja professor, estão impedindo que eu pense. A cena é digna de um processo inquisitorial, denúncias anônimas, sendo obrigado a prestar contas sobre a suposta denúncia para pessoas que têm autoridade constituída política, mas não autoridade pedagógica, tentando cercear minha maneira de dar aula. Isso tudo é muito sério”, desabafa o professor César Augusto.

O ICL procurou a Secretaria de Educação de IlhaBela para que se posicionasse sobre o processo administrativo e os relatos de César. A reportagem, porém, não obteve respostas até o fechamento da matéria.

Conteúdo das aulas é referendado

A Associação Nacional de História, seção estado de São Paulo (ANPUH-SP), referendou o conteúdo ensinado pelo professor César Augusto Mendes Cruz. Em nota, a associação disse que a aula estava em conformidade com a BNCC, o Currículo Paulista e a Lei 10.639/2003. A Anpuh repudiou o que chamou de “obstrução do trabalho como historiador” e “interferência irregular da administração escolar”.

A Apeoesp, sindicato dos professores, criticou a adesão da gestão às pressões de “famílias desinformadas” e comparou o episódio à lógica de propostas como “escola sem partido”. O sindicato também referendou o contéudo e defendeu a liberdade de cátedra.

Escola possui histórico de casos

A Escola Municipal Major Olímpio segue as diretrizes do modelo cívico-militar, com proposta pedagógica baseada em disciplina rígida e valorização de “valores cívicos”. “Um sargento e um subtenente reformados cuidam de dar algumas poucas aulas da parte cívica, que seriam símbolos nacionais ou convívio, coisas do tipo. Eles cuidam da parte disciplinar, ou seja, de punir os desvios de conduta e os desvios de disciplina”, resume o professor César Augusto.

Professor

Escola Cívico Municipal ‘Senador Major Olímpio’, em Ilhabela. (Foto: Divulgação)

Segundo relatos do professor, o seu caso não foi o primeiro a ocorrer na escola. “Já vinha num crescente de assédio a professores, porque antes de mim já tinha acontecido um assédio gravíssimo com professor de ciências e, no ano passado, o professor de português também foi censurado numa questão em que ele trabalhou linguagem neutra”, relatou.

O que diz a Prefeitura de Ilhabela?

O ICL Notícias procurou a Secretaria de Educação de Ilhabela para questionar sobre o caso e não obteve resposta. O espaço segue aberto.

Coporativismo e/ou proteção aos golpistas fardados e seus familiares manifestantes? Ministério Público Militar ignora omissão do Exército e arquiva apuração sobre acampamento golpista

 

Mesmo com relatos oficiais da PM e da Secretaria de Segurança do AM, órgão militar diz que "não há indício de crime".


Do ICL Notícias:


POLÍTICA

Ministério Público Militar ignora omissão do Exército e arquiva apuração sobre acampamento golpista



Por Cleber Lourenço

O Ministério Público Militar arquivou a apuração sobre a conduta do Comando Militar da Amazônia (CMA) durante os atos golpistas de janeiro de 2023, desconsiderando os relatos de autoridades civis que apontam omissão e até colaboração indireta de militares com os acampamentos montados em frente ao quartel. A conclusão do órgão é de que não há, “ao menos em tese”, qualquer indício de crime militar.

A decisão contrasta com os documentos produzidos pela Polícia Militar do Amazonas (PMAM), pela Secretaria de Segurança Pública do estado e pela Casa Civil estadual. Um ofício da PM datado de 10 de janeiro de 2023 afirma que a operação de desmobilização realizada no dia anterior, 9 de janeiro, ocorreu “sem qualquer apoio operacional do Exército Brasileiro”, mesmo com o acampamento instalado há meses no entorno da unidade militar.

acampamento

 

A PMAM relatou que a ausência de apoio logístico e operacional comprometeu o planejamento e a execução da operação, exigindo a mobilização de todo o efetivo da corporação disponível na capital para cumprimento da ordem do Supremo Tribunal Federal. O documento registra ainda que a entrada dos policiais na área foi feita com cautela devido à localização do acampamento nas imediações de uma instalação militar federal, sem detalhar qualquer situação de confronto ou ameaça direta por parte do Exército.

Mais do que omissão, os documentos indicam uma atuação deliberada do Exército. Um relatório da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, de 11 de janeiro, afirma que o Comando Militar da Amazônia conduziu “tratativas individuais” com manifestantes, “diferentes das acordadas em reuniões do Gabinete de Crise”, realizadas entre os dias 7 e 8 de janeiro. Segundo o documento, o Exército disponibilizou espaço interno para armazenamento de materiais dos manifestantes e permitiu que estes tivessem acesso ao interior da unidade para negociar.

Ainda assim, o parecer do Ministério Público Militar considera que as condutas do CMA não se enquadram nas hipóteses previstas no Código Penal Militar. Para o órgão, não houve envolvimento direto de militares da ativa nas manifestações nem indício de crime, tratando como irrelevantes as ações institucionais que, na prática, contribuíram para a manutenção do acampamento golpista por semanas.

Para MPM, Exército “colaborou” para desfazer acampamento

O entendimento do Ministério Público Militar é de que o Exército apenas colaborou com as autoridades locais, mesmo diante dos documentos que apontam que essa “colaboração” foi feita de forma paralela e sem coordenação com as demais forças de segurança. A prática desarticulada e “individualizada” do CMA, longe de contribuir para o cumprimento da ordem judicial, criou obstáculos à execução da medida e comprometeu a segurança da operação.

O arquivamento da notícia de fato, sem qualquer diligência adicional, reforça a percepção de autoblindagem recorrente na esfera militar. Mesmo com elementos documentais e relatos formais de autoridades da segurança estadual, o Ministério Público Militar optou por encerrar o caso sem responsabilização, mantendo a tradição de não sancionar institucionalmente as Forças Armadas.

Ao ignorar o contexto político e o histórico de leniência com comandos militares em situações similares, a decisão do Ministério Público Militar enfraquece o controle civil sobre as Forças Armadas e legitima a atuação paralela de setores militares diante de crises institucionais.

A conclusão de que não houve “ao menos em tese” qualquer indício de crime militar, diante de um conjunto robusto de registros oficiais, não apenas desobriga o Exército de prestar contas como instituição, mas também fragiliza os mecanismos de responsabilização democrática.