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sábado, 5 de setembro de 2020

A ditadura abjeta,, autoritária, degradante e militarista nos é imposta pela repetição, por Rogério Mattos

 

Sem uma mudança significativa em relação a 2018, ajudaremos a legitimar ou a repetir o estado de exceção, aliás tão recente de forma legal no país.

Jornal GGN:

A ditadura nos é imposta pela repetição, por Rogério Mattos

Carol Proner, que além de bonita e jurista tem o telefone do Chico Buarque, escreveu um texto curto e certeiro onde liga Witzel, Genoíno e Nassif. Todos os revezes jurídicos que eles sofreram foram por ações fora do direito. Ela alude também ao golpe contra Dilma que, obviamente, por ser um golpe, estava fora do direito. A prisão de Lula é colocada no mesmo balaio porque não teria como não estar.

“O judiciário que prendeu Lula é o que afasta Witzel. E o mesmo que não reconhece os abusos da Lava Jato contra Lula e contra a soberania do país. E é também o mesmo que não censurou ou puniu Wilzel quando incitou violência indiscriminada contra população civil”, ela diz.

Poderia ser um ponto final, mas existe um pequeno reparo que talvez possa ser feito. Não se precisa nem tocar no ponto sensível de que os membros do judiciário, tal como os tucanos, são inimputáveis. Gostaria só de lembrar de duas ações de uma figura hoje relativamente bem vista por setores anti-lavajatistas, uma mais recente outra um tanto mais remota.

O que a breve cronologia de Proner deixa de lado é o ato de ativismo judicial que fez malograr a chance única que Dilma Rousseff teve de reagrupar sua base de apoio parlamentar e popular ao mesmo tempo. Em uma canetada, numa ação nunca antes vista na história desse país, um ministro supremo impediu a posse de Lula como ministro da Casa Civil.

O 2º mandato de Dilma passava por um duro revés depois da eleição de Eduardo Cunha para presidente da Câmara e da pulverização partidária após o STF suprimir a cláusula de barreira. Saímos de uma situação em que FHC governou com o apoio de dois partidos, PFL e PMDB, para uma Câmara, em 2015, dividida entre mais de trinta partidos diferentes.

Depois da odiosa eleição de 2014 (só terminada com o golpe de Estado), o Partido dos Trabalhadores, mais do que por um gesto autocrático da presidenta, optou por uma solução Lula 1. O que é isso? Um recuo na composição do governo, mesclando de maneira algo escandalosa para almas mais sensíveis, a base trabalhista do partido com alguns elementos do mercado.

Indignados com a composição do governo em que constavam membros como o ilibado Henrique Meirelles e com uma Reforma da Previdência que hoje parece um carinho ao lado da aprovada por Bolsonaro ou da sonhada por Paulo Guedes (na de 2005 de fato houveram avanços, ainda que não se tenha consigo eliminar o fator previdenciário), fundou-se esse baluarte dos valores puros da esquerda, o PSOL.

Não só: com o estouro do mensalão, vimos toda uma esquerda mensaleira se bandear para o novo partido, assim como depois vimos uma esquerda lavajatista e “fora Levy” fazerem o mesmo movimento que levou a um isolamento ainda maior do PT (a jornada que começa em junho de 2013, passa pelo Não vai ter Copa, pelo “fora Levy”, até o “precisamos virar a página do golpe”).

Não digo que a situação de sinuca institucional que o partido ficou em 2016 foi causado por esses elementos (nunca tiveram força para tanto, nem para o bem ou para o mal). Mas, como sempre, serviram mais para criar confusão e engrossar o coro da direita e extrema-direita do que restaurar de algum modo as bandeiras do socialismo e da liberdade.

Sem boa parte do apoio desses setores médios (que incluem amplas parcelas não filiadas a partidos, mas que lhes são ouvido e lhes fazem eco) e, ainda mais, vendo que sua situação talvez fosse mais grave do que a crise de legitimidade de Lula 1, o governo começou a ser rapidamente recomposto.

Estranha situação em que a cisão com esses setores médios fez abrir uma brecha praticamente incontornável entre a base popular de apoio ao partido, que se manteve relativamente coesa. É como se um setor precisasse do outro para fazer ressoar de forma ampla as reivindicações históricas para o desenvolvimento do país…

Entram Nelson Barbosa, Eugênio Aragão e Jaques Wagner em posições centrais, junto com a recomposição da própria agenda econômica, igualmente mais assertiva. Em situação de um pouco mais de normalidade, já seria o suficiente para se recompor depois das violências sofridas a partir de 2014. Mas um pouco mais era preciso e não foi fácil o trabalho de convencer Lula a assumir a chefia da Casa Civil.

O movimento era dramático, mas permitiria fechar com chave de ouro a recomposição do governo. Lula atrairia rapidamente a atenção da população como um todo, seria um cala boca contundente nos críticos de Dilma (na direita ou em parte da esquerda ele sempre provoca um nó na garganta), e fazia sonhar com a possibilidade de ser o braço quase titânico que reaproximaria o executivo do legislativo.

E aí o lavajatismo pela primeira vez deu seu abraço mais apertado no Supremo. Gilmar Mendes agiu em tabela com Sergio Moro: um “legitimou” o afastamento de Lula via opinião pública, o outro o “legalizou” (com aspas mesmo). As núpcias da Lava-Jato com o Supremo é um fato crucial que, talvez inadvertidamente, Carol Proner, não colocou em seu artigo.

A partir dali a esperança de rearticulação do governo foi por água abaixo e, sob o supremo beneplácito, Moro estava mais do que protegido para logo mais lavrar a infame sentença do triplex. Vemos também esse curioso personagem, Gilmar Mendes, em outro ponto crucial da história recente do judiciário brasileiro.

Em 2008, quando alertou que haveria um estado policialesco no Brasil, ou seja, que a polícia federal estava sendo muito bem conduzida por Paulo Lacerda, se reportando a fatos supostamente ocorridos em 2007, foi a ponta de lança para se dar sobrevida ao processo de perseguição judiciária contra o PT com o caso do mensalão. Já que o escândalo foi totalmente ineficaz e redundou em uma vitória esmagadora de Lula contra Alckmin (no primeiro e único caso onde um candidato a presidente teve menos votos no 2º do que no 1º turno).

Tal é o personagem que agora parece se mover para a volta de uma suposta normalidade democrática no país. Mas aqui se encontra de novo a encruzilhada das esquerdas. Vivemos em uma situação muito parecida com as discussões pré-eleitorais de 2017-18, onde se dava Lula e o PT como vencidos, e antigos aliados lutavam entre si pelos espólios presumíveis. Relatei isso com bastante detalhe num artigo chamado Teoria do domínio da mídia [aqui]).

O problema não é tanto a luta pela candidatura de Lula em 2022. O que deveria ser um ponto em comum é que, considerado todo o longo e penoso percurso do golpe de Estado, ou seja, do entendimento deste como um processo, não existe volta à normalidade sem o restabelecimento dos direitos civis e eleitorais do ex-presidente. Isso é algo que está na pauta atual, apesar de haver outro processo tão importante quanto, mas sem horizonte de resolução próximo, isto é, o do reconhecimento da ilegalidade da deposição de Dilma.

Não há luta por direitos sem considerar esses dois eixos, quer se goste ou não do Partido dos Trabalhadores. Sem isso, parece novamente com a Lei da Anistia: não se reconhece culpabilidade, mas tampouco inocência em ambos os lados, e vida que segue porque logo mais vai ter eleição. Será que falar que houve um golpe de Estado, para muitos, virou somente uma força de expressão, sem que se meça suas reais consequências?

Sem isso, continuará as ações fora do direito, como alertado por Carol Proner. Pode ser que com maior ou menor intensidade, atingido não só o PT ou aliados, mas grupos distintos, porém o estado de exceção permanecerá. E sem contar que a candidatura de Lula é uma possibilidade, mas não algo tão concreto quanto os que temem (por quais motivos que forem) a volta do ex-presidente. ele pode muito bem (até por sua idade) vir como vice numa chapa encabeçada ou não por um candidato petista.

Mas aí entra o problema que nos faz lembrar novamente os debates pré-eleitorais que mencionei acima: como dito naquele período, Ciro Gomes acabou por se provar alguém bem abaixo do preparo que ele mesmo dizia ter. O nome da vez para a nova política da esquerda parece ser o de Flavio Dino. Porém, apesar de bem menos falastrão, pode encontrar as mesmas dificuldades de Ciro.

Isso é um problema que não se resolve nas cúpulas partidárias, mas nas bases. Sua vergonhosa capitulação em relação ao projeto entreguista de Bolsonaro com a cessão da base de Alcântara , além de sua presteza (foi o primeiro no país) em incorporar em seu estado a calamitosa reforma previdenciária bolsotucana.

Como no pré-2018, muitos consideram Lula e o PT ou descartáveis ou sem a força de outros tempos. E assim segue a luta por poder entre os partidos que seriam aliados. Mas não há problema de Dino se lançar, Ciro também, e quem mais que seja. Acredito que isso deveria estar fora de discussão, por ser decisões individuais de cada partido. O único problema é que as pretensões eleitorais prejudicam em muito de fato uma frente de esquerda que, quer queira quer não, tem Lula e Dilma (e consequentemente, o Partido dos Trabalhadores), como catalizadores da luta contra aqueles que insistem em agir por fora do direito.

Só para terminar, sempre lembro de uma frase de um livro muito bem escrito por Gilles Deleuze, chamado Diferença e repetição. Já ali ele procurava afirmar sua diferença em relação ao consenso ao redor da psicanálise que, na ocasião, se formou na França como um novo papado. Então, inverteu a fórmula de Freud falando o seguinte: “o homem não repete porque recalca, mas recalca porque repete”. O homem não cai nos mesmos erros porque recalcou algo em algum lugar do passado, mas continua a recalcar porque insiste em repetir o mesmo comportamento.

Sem uma mudança significativa em relação a 2018, ajudaremos a legitimar ou a repetir o estado de exceção, aliás tão recente de forma legal no país. Se em 2016 houve o casamento da Lava-Jato com o STF, o que praticamente inviabilizou o governo de Dilma, em 2015 e 2017, do fim das discussões sobre a PEC 37 até a instauração dos PICs, estava em curso a instalação, plenamente legalizada, do Ato Patriota brasileiro, da plena instauração de legislação estrangeira em nosso território, sem qualquer discussão, sem passar por qualquer processo minimamente democrático [aqui].

Em três anos se conseguiu dar um poder nunca antes visto ao judiciário, só igualável ao dado aos militares depois de 1964. E também sabemos como num período muito curto, de 64 a 68, consolidaram um regime que durou mais de vinte anos. Temos novamente a oportunidade, até devido a maturidade do debate atual, de começarmos a reverter esse processo. Caso contrário, o Estado brasileiro continuará a ser um Estado que continuará a agir fora da lei, sabe-se lá por mais quanto tempo.

Sem considerar todas as ilegalidades cometidas pelo TSE em 2018, que não só retirou Lula da disputa, mas o proibiu de, com vídeo gravados antes de sua prisão, participar de alguma forma dos debates eleitorais, além de ter encurtado o tempo de campanha e limitado ao máximo a campanha corpo a corpo, nas ruas (o que ajudou em muito a campanha de tipo virtual feita por Bolsonaro), temos também quatro anos de arbítrio sucessivos, como no pós 1964. Continuará?

 

(na foto, homenagem a mãe das fake news, criada pela Folha na campanha do ódio, a de 2010)

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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O avanço destrutivo do nazi-fascismo brasileiro, por Dora Incontri



Não vamos acordar? Vamos deixar assim o país mergulhar em águas sombrias e medievais, de negação da ciência, de indiferença diante da morte de nossos concidadãos, do autoritarismo crescente, com discursos e ações de ódio?
Jornal GGN:

O nazi-fascismo brasileiro, por Dora Incontri

Não me lembro se comentei aqui que morei três vezes na Alemanha, uma vez na infância, outra na adolescência e já quando jovem. E desenvolvi uma relação de amor e ódio com os alemães, porque admiro a cultura, gosto da organização, aprecio as belas paisagens e os monumentos históricos, mas sempre me foi difícil engolir o que eles fizeram no nazismo. O povo aderiu em massa àquela barbárie, um povo que era escolarizado, instruído… e como em minhas vivências lá tanto na infância, quanto na adolescência, encontrei gente racista, xenófoba… tremendo desconforto com os alemães crescia dentro de mim, como uma raiva, um ressentimento, um inconformismo… 
Durante as aulas que tinha numa escola em Berlim, campanhas antinazistas eram feitas (isso era década de 70, o auge da social democracia alemã). Nunca me esquecerei de um judeu sobrevivente ao holocausto, vindo nos contar sobre a noite dos cristais, ou dos filmes originais que víamos, de quando os aliados chegaram aos campos de concentração e filmaram estarrecidos o que encontraram nesses locais de tortura e morte. E eu me indagava: como um povo que teve um Bach, um Beethoven, um Goethe, um Schiller, um Bertold Brecht e tantos outros, sem citar filósofos e cientistas, poderia ter gerado algo tão histriônico, bizarro e macabro quanto o nazismo?
E eu então, ingenuamente pensava, que se tratava de um problema quase especificamente alemão. Conforme fui amadurecendo e estudando, aprofundando inclusive meu conhecimento sobre os movimentos fascista e nazista, fui compreendendo que não se tratou de um fenômeno pontual, isolado, de uma raça, que se considerava superior. Não cabe aqui fazer uma descrição aprofundada sobre o tema, mas hoje sabemos que a eugenia existia em vários locais no mundo (aliás, desde o século XIX), foi objeto de experimentações com negros nos Estados Unidos, era uma ideologia que permeava as primeiras décadas do século XX no Brasil (com a adesão irrestrita de alguém que me foi tão caro na infância, Monteiro Lobato – ele lamentava que no Brasil não houvesse uma Ku Klux Klan, para “colocar os negros no seu lugar”.). Hoje sabemos que as corporações e os bancos do mundo se beneficiaram com o nazismo e o apoiaram.
E também é mais familiar para todos, que houve outros momentos ou períodos históricos em que outros genocídios foram praticados, como os séculos de tráfico e escravização dos povos africanos nas Américas, como o genocídio armênio pelos turcos, como os mais diversos massacres que o colonialismo europeu praticou aos quatro ventos do mundo. O comunismo de Estado também tem seus números terríveis, com os goulags stalinistas e os mortos na Revolução maoísta. Desculpem-me os que defendem a luta armada e o comunismo de Estado, mas para mim, matança é matança, é coisificar o ser humano e eliminá-lo sem pena.
Entretanto, diante de tudo isso, não contava, não esperava que em minha maturidade, eu tivesse de assistir ao meu país – o Brasil de Castro Alves e Guimarães Rosa, de Tom Jobim e Darcy Ribeiro, de Tarsila do Amaral e Elis Regina… – caindo no abismo de um nazifascismo tupiniquim, com o apoio de um terço da população!
Está certo que o genocídio dos negros e dos indígenas e o feminicídio das mulheres já acontecem desde sempre; que temos um racismo e um machismo estruturais, que já tivemos a tortura institucionalizada na Ditadura militar e continuamos torturando as classes desfavorecidas nas delegacias e presídios… então, há substrato social e (des)humano para o que estamos vendo recrudescer hoje.
Mas não é possível ficarmos impassíveis com um “e daí”? – diante de 5 mil mortes; com uma população fanática burlando uma quarentena recomendada mundialmente e ainda agredindo profissionais heroicos da saúde; com funcionários obrigados a ficar de joelhos diante dos estabelecimentos comerciais em que trabalham, com um vírus galopante matando a população e o ministro robotizado, recém-colocado na Saúde, dizer que não sabe…
Muitos brasileiros manifestam esse mesmo desgosto perplexo diante do que estamos vivendo: a pior crise de saúde, com mortes em massa da população, com o pior e mais fascista dos governos que já tivemos em toda a nossa história… onde está o Brasil do chorinho, da solidariedade, da poesia e da boa vizinhança? Ele está subjacente, está nas margens, está debaixo das cinzas, porque somos nós. Estranho a apatia de líderes, de políticos à esquerda, de representantes de instituições importantes. Estarão com medo, perplexos, sem saber o que fazer?
Não vamos acordar? Vamos deixar assim o país mergulhar em águas sombrias e medievais, de negação da ciência, de indiferença diante da morte de nossos concidadãos, do autoritarismo crescente, com discursos e ações de ódio que já atingem os que estão trabalhando, os que estão lutando por um mundo melhor, incluindo os profissionais da saúde, que estão literalmente oferecendo suas vidas para salvar outras e estão sendo agredidos? Quando o país inteiro estiver coberto de cadáveres – que é o que vai acontecer de acordo com a previsão dos cientistas (vejam live do dia 3 de maio do Atila Iamarino – um brasileiro jovem, cientista, brilhante), vamos nos arrepender suficientemente de termos entregue nossas vidas a um psicopata, cercado de bajuladores e apoiadores fundamentalistas, que urlam por aí, carregando caixões e empunhando a pobre e vilipendiada bandeira nacional?
Como espírita, espiritualista, cristã, não me é dado o luxo de perder a esperança. Estou em luto, mas continuo a luta e conto que a nossa profunda e saudável alma brasileira desperte sem demora…

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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Defensorias da América Latina lançam manifesto contra violência estatal (de caráter neofascista) no Brasil e Bolívia



“Isentar forças policiais de responsabilidade penal representa grave retrocesso para a democracia”, afirmam ombudsman de Defensorias del Pueblo e Procuradorias mais de 20 países
Da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão
A Federação Ibero-Americana de Ombudsman (FIO) – que reúne Defensorias del Pueblo, Provedorias de Justiça, Procuradorias e Comissões de Direitos Humanos de mais de 20 países da região – lançou nesta quinta-feira (28), durante encontro no Rio de Janeiro, um manifesto contra a violência estatal e o ataque à democracia em países da América Latina.
No documento, o colegiado expressa profunda preocupação com a atual situação de violações de direitos na região e menciona Brasil e Bolívia como países em cujos Parlamentos tramitam proposições legislativas que representam grave ameaça à democracia.
“Exemplos claros são os regulamentos que procuram isentar de responsabilidade penal as forças militares e de segurança que atuam na repressão a manifestações com uso desproporcional de força, resultando em mortos e feridos. São os casos de projetos de lei da Bolívia e do Brasil, medidas que representariam um enorme retrocesso na construção de uma democracia plena”, destaca o texto.
Nessa perspectiva, o colegiado exorta os Parlamentos desses países a não aprovarem leis que afetem ou ponham em risco a vigência dos direitos humanos – ainda que sob a pretensa justificativa de segurança pública ou salvaguarda da ordem pública.
“Esses tipos de normas não estão em conformidade com os padrões internacionais de direitos humanos e, na prática, resultariam em uma grave mensagem sobre impunidade das forças armadas e das forças de segurança pública”, alerta a FIO.
A manifestação da Federação Ibero-Americana de Ombudsman feita nesta quinta-feira, no Brasil, se soma a pronunciamentos recentemente realizados pelo colegiado em relação ao contexto de violações de direitos humanos em outros países da região.
No último dia 19, a FIO lançou nota pública na qual manifestou profunda preocupação com a atual situação que atravessa o Estado Plurianual da Bolívia, destacando que o país está envolto “em uma grande comoção social e institucional que afeta a convivência democrática e a coexistência pacífica do povo”.
Em outubro, a Federação já havia se pronunciado em uma nota pública na qual instou autoridades públicas do Chile a reconsiderarem o uso de armas antidistúrbios em operações relacionadas a manifestações públicas. O comunicado alerta que a atuação na área deve ter como diretriz “o princípio da proporcionalidade no uso da força” e pede que sejam investigadas e adequadamente responsabilizadas práticas de uso abusivo de força por parte de agentes públicos encarregados de cumprir a lei.
Os riscos de proposições legislativas que possam favorecer a violência estatal já haviam sido apontados pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), órgão que integra o Ministério Público Federal, em uma nota técnica encaminhada na terça-feira (26) ao Congresso Nacional para tratar sobre o Projeto de Lei 6.125/2019.
Para a PFDC e a Câmara do MPF que trata sobre Controle da Atividade Policial e Sistema Prisional, o referido PL busca instituir um regime de impunidade para crimes praticados por militares ou policiais em atividades de Garantia da Lei da Ordem (GLO). Segundo os órgãos do Ministério Público Federal, a medida é flagrantemente inconstitucional e sem paralelo – mesmo se comparada aos atos institucionais da ditadura militar.
Instituições de direitos humanos sob ameaça
No pronunciamento desta quinta-feira, a Federação de Ombudsman – da qual a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão é membro – também chama atenção aos ataques à independência e ao trabalho de defensores e instituições nacionais de direitos humanos.
“Instituições ombudsman encarregadas de defender direitos fundamentais estão sendo impedidas ou tendo sua atuação limitada por parte de governos”.
No documento, os membros da FIO apontam preocupação com a “deriva política” que põe em risco as conquistas democráticas realizadas pelos países latino-americanos nas últimas décadas e cita as recentes convulsões sociais ocorridas em países como Haiti, Equador, Chile, Bolívia e Colômbia como reflexo da crítica situação que se vive.
“Neste momento histórico, sérias ameaças aos direitos humanos e à democracia convergiram na região, o que demanda um papel ativo dos Ombudsman na defesa e proteção dos direitos humanos”, destaca o texto.
O que são Instituições Ombudsman
A Federação Ibero-Americana de Ombudsman reúne Defensorias del Pueblo, Provedorias de Justiça, Procuradorias e Comissões de Direitos Humanos. Intituladas instituições ombudsman, esses são órgãos que atuam com independência do Estado e cuja missão fundamental é proteger e promover o respeito e a garantia dos direitos humanos.
Desde 2013, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão integra a FIO – ao lado de instituições nacionais de direitos humanos de mais 21 países: Andorra, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Saiba mais em http://www.portalfio.org/

domingo, 14 de julho de 2019

Decadência democrática no Brasil e no mundo chama a atenção de pesquisadores




 Decadência democrática no Brasil e no mundo chama a atenção de pesquisadores
O fenômeno de um decréscimo na qualidade da democracia ao redor do mundo tem chamado a atenção de entidades da sociedade civil e, sobretudo, da academia.
 Por Emilio Peluso Neder Meyer, no Justificando
 Arte: André Zanardo
“democracias decrescem em qualidade em uma velocidade duas vezes mais rápida do que aquela na qual se consolidam”
Não é preciso lembrar o leitor de casos como o norte-americano, com repetidos excessos do Executivo e ataques ao Judiciário, o húngaro, com a substituição constitucional como plataforma para a democracia iliberal e o deliberado ataque às universidades, o polonês, com tentativas exitosas e frustradas de captura das cortes, ou o filipino, com a sangrenta guerra às drogas de Rodrigo Duterte. Essa miríade de casos tem feito com que observadores alertem para o início preocupante de um refluxo da terceira onda democrática, para usar a leitura de Samuel Huntington[1]. Zachary Elkins, por exemplo, chama a atenção para uma necessária cautela na análise dos dados referentes ao momento, ao mesmo tempo em que traz um fator alarmante: democracias decrescem em qualidade em uma velocidade duas vezes mais rápida do que aquela na qual se consolidam[2].

Uma vasta bibliografia tem sido produzida no momento. Ou seja, parece haver uma preocupação clara da academia em se posicionar contra as perdas que a democracia, no mais das vezes em seu sentido mais liberal, tem sofrido. Tom Gerald Daly desenvolve um excelente trabalho de organização dessa bibliografia, procurando, inclusive, prover uma base de conceitos-chave para compreender as mais recentes perspectivas.

Uma das mais “populares” tentativas de compreender o presente campo de pesquisa veio do best-seller de Steve Levitsky e Daniel Ziblatt, How Democracies Die[3]. Não obstante fazerem reduções bastante criticáveis, como colocar na mesma categoria Hugo Chávez e Adolf Hitler, os autores procederam a uma interessante análise sobre a estrutura das democracias constitucionais atuais, naquilo que veem como “normas implícitas”. Assim, o desprezo pela “tolerância mútua” (mutual tolerance) e pela “parcimônia institucional” (institutional forbearance) seria capaz de provocar sérios danos a um projeto democrático, sem que fosse necessário apelar para afrontas mais explícitas ao sistema constitucional. Ganha importância aqui o conceito de Mark Tushnet de “jogo duro constitucional” (constitutional hardball), pelo qual o manejo de institutos e instituições sem um efetivo rompimento de suas bordas, mas apelando para uma constante pressão, pode significar um processo mais lento de deterioração (e, nem por isso, menos danoso).
 Deve-se ter em mente, pois, que há modos criativos e sofisticados de se subverter uma democracia constitucional. E, então, não se pode apenas colocar Chávez e Hitler em um mesmo saco, como não se pode pensar que os únicos referencias do fascismo e do autoritarismo são os anos 1930 e 1970. Há sérios riscos de anacronia e de cegueira para a complexidade do que hoje envolve os perigos para a democracia. Talvez deveríamos atentar para como partes da democracia hoje, e em diferentes aspectos contextuais, são atingidas. O que não significa que história e dados empíricos sejam desimportantes: devemos, contudo, saber como considera-los seriamente. Como alerta David Runciman, há diferenças fundamentais em relação ao século XX. E se podemos forçar os estertores das instituições ao máximo, podemos também evitar que elas entreguem o que de fato deveriam[4].

Nancy Bermeo chama a atenção para a diminuição dos antigos golpes de Estado clássicos e sua substituição por golpes promissórios (que, supostamente, defenderiam a legalidade vigente e se comprometeriam a convocar novas eleições em tempo breve – promessas fáceis de serem descumpridas), engrandecimento do Executivo (executive aggrandizement, em que o Poder Executivo se livra continuamente de instrumentos de checks and balances), além de manipulações eleitorais. Essas manobras podem ser colocadas sob a etiqueta de um conceito interpretativo: democratic backsliding, ou “retrocesso autoritário”, um fenômeno que abrangeria o enfraquecimento ou eliminação de instituições políticas que dão base a uma democracia.

Larry Diamond faz, ainda, referência ao que chama de democratic recession(“recessão democrática”), algo que envolveria fenômenos diversos como o democratic breakdown (uma quebra do sistema democrático mais definida e localizada), uma queda na qualidade de democracias mais novas, um aprofundamento do autoritarismo e problemas que assolam democracias mais consolidadas. Mais recentemente, Tom Ginsburg e Aziz Huq buscaram resumir o ataque ao núcleo das democracias liberais como centrado em minar eleições livres e justas, direitos de manifestação e associação e a base de estabilidade, previsibilidade e publicidade fornecida pelo respeito ao rule of law ou Estado de Direito[5]. Tom Gerald Daly[4] faz a tentativa de organizar as diversas categorias recentemente propostas em um conceito que seria mais sensível à complexidade do momento: democratic decay ou “decadência democrática”. A decadência democrática significaria a degradação incremental das estruturas e da substância da democracia constitucional liberal.

Leia também:

A Democracia Brasileira em Crise

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Contudo, se a decadência democrática pode aparecer como um conceito “guarda-chuva”, ela deve também ser capaz de perceber outras nuances que podem revelar a subversão de democracias constitucionais. Nem sempre a estrutura ocidental e própria do norte global vai ser suficiente para detectar todos os problemas, ainda que também não se queira perder o mínimo que a tradição pós-revolucionária procurou consolidar. Haggard e Kaufman indicam que, para democracias da terceira onda, o problema parece estar mais ligado a o que eles chamam de síndrome da democracia fraca: um conjunto de causas políticas e econômicas que envolvem históricos de pretorianismo (a falha de governos democráticos em controlar militares), fraca institucionalização e baixa performance econômica[6].

“O mercado não é democrático, deliberativo ou jurídico como uma ordem constitucional deve ser.”
Perspectivas mais robustas sobre o que significa uma democracia constitucional não afastam o problema grave que pode assola-la da fácil associação entre neoliberalismo e autoritarismo. Wendy Brown destaca as transformações ocasionadas pelo neoliberalismo não só nos regimes democráticos, mas em uma própria atuação sobre os elementos políticos da democracia, que passam a ser transformados em elementos econômicos[7]. No contexto norte-americano, Jon Michaels classifica como um constitutional coup, ou golpe constitucional, o ataque à ligação entre Estado e um povo, suas práticas e infraestrutura. O mercado não é democrático, deliberativo ou jurídico como uma ordem constitucional deve ser. A fusão entre mercado e poder político leva a um afastamento das instâncias fiscalizatórias estatais e da sociedade civil na prestação de serviços que se tornaram públicos com o Estado administrativo do século XX. Isto redunda em não menos Estado, mas mais Estado e um Estado abusivo e despreocupado com o sistema de checks and balances da separação de poderes[8].

Sob Bolsonaro, não faltam sinais e atos concretos que indicam o caminho em direção à decadência democrática. O Centro de Estudos sobre Justiça de Transição da UFMG que, recentemente, preocupava-se sobretudo com caminhos de consolidação democrática, tem cada vez mais se voltado para os fatores de degradação das instituições da democracia constitucional. Por meio de um blog e um podcast (em implementação) dentro do projeto Democratizando, procura-se atuar como observatório acadêmico em diálogo com a sociedade, verificando quais caminhos a democracia brasileira tem seguido[9]. Sobre tais objetos, não tem faltado trabalho. Em seis meses de governo, a fina corda da “tolerância mútua” tem sido esticada ao máximo (estendendo-se desde, pelo menos, 2013): o governo não cessa um minuto de levar adiante uma “guerra ideológica” em que seus inimigos são, principalmente, a oposição e a esquerda. O uso desmedido de decretos indica um executive aggrandizement em que se joga um constitutional hardball que, se não respondido pelos demais poderes, mantém as políticas de Bolsonaro. Foi assim na sucessiva corrente dos decretos sobre posse e porte de armas, reformulados ao sabor de reações legislativas. A tentativa de levar a demarcação de terras indígenas para o Ministério da Agricultura foi abusada com uso de medidas provisórias e só sancionada pelo Supremo Tribunal Federal nesta última semana de junho.

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A autofagia da democracia

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De modo semelhante, foi preciso que o mesmo Supremo Tribunal Federal se posicionasse sobre a inconstitucionalidade parcial da extinção da participação democrática via conselhos de políticas de públicas. A questão é que não parece haver disposição da mesma corte para enfrentar o projeto neoliberal (e autoritário) do mesmo governo, uma extensão e um aprofundamento da austeridade já manejada pelo governo Temer. Se estatais não podem ser privatizadas sem aval do Congresso Nacional, o mesmo não pode ser dito das subsidiárias, segundo o tribunal. Esses sinais já eram claros quando, por exemplo, o Ministro Luís Roberto Barroso se furtou de suspender a tramitação da PEC do teto de gastos públicos, sob o argumento de que o Estado deveria ser encolhido[10]. Assim, ainda é preciso sinais mais claros do Poder Judiciário brasileiro no sentido de que ele é, de fato, um óbice a quaisquer arroubos autoritários contra não só o básico sistema de democracia liberal, mas o próprio constitucionalismo de perfil social estruturado pela Constituição de 1988.

Agressões ao rule of law, daquelas que preocupam Ginsburg e Huq, não têm, contudo, faltado, e vão desde aquelas praticadas pelo Executivo e pelo Legislativo quanto aquelas manejadas pelo próprio Judiciário. E se o Supremo Tribunal Federal errou ao não proteger devidamente a presunção de inocência, as revelações mais recentes têm mostrado dois problemas adicionais. De um lado, uma inconstitucional violação do sistema acusatório em nome de um combate sem limites à corrupção, com procuradores da república combinando táticas condenatórias com um juiz que priva um candidato de concorrer à presidência e passa a integrar do governo de seu mais evidente competidor. Falar em eleições livres e justas em um contexto como esse e em que a revolução digital deixa dúvidas sobre uma formação independente da vontade política torna-se tarefa impossível. Pretorianismo, por fim, é algo que não falta ao pós 1988 e em que, principalmente a partir de 2018, militares retornam à cena principal. Por fim, se a tolerância à ilegalidade parece ser uma das características do caso neoliberal americano (pense-se na empresa Blackwater), não se pode deixar de traçar um paralelo com a projeção política recente das milícias no Brasil. Ataques às universidades são copiados do exemplo húngaro de anti-intelectualismo[11].

V-DEMVarieties of Democracy, não traz boas novidades para o caso brasileiro. Procurando medir empiricamente a qualidade de democracias ao redor do mundo, apenas no quesito democracia liberal, partimos, em 1989, de um índice de 0,54. Nosso ápice foi em 2013, com 0,8. Em 2018, retrocedemos em nossa democracia para 0,56. O desempenho é, claramente, de retrocesso democrático e tudo parece indicar que chegaremos a níveis pré 1988 até o final do ano. Há muito trabalho a fazer, portanto, contra um governo que tem um claro projeto autoritário. Isso nos priva de nos voltarmos para uma enormidade de outros problemas que enfrentamos como sociedade e Estado. A democracia não é um projeto acabado. Mas ela não precisa, e não pode, deixar de ser um projeto em andamento.


Emilio Peluso Neder Meyer é professor adjunto de direito constitucional da Faculdade de Direito da UFMG, graduação e programa de pós-graduação (mestrado e doutorado). Mestre e doutor em direito pelo programa de pós-graduação em direito da FD/UFMG.

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Notas:
 [1] HUNTINGTON, Samuel. A Terceira Onda: a Democratização no Final do Século XX. São Paulo: Ática, 1994.
 [2] ELKINS, Zachary. Is the sky falling? Constitutional crises in historical perspectives. In: GRABER, Mark; LEVINSON, Sanford; TUSHNET, Mark. Constitutional Democracy in Crises? Oxford: Oxford University Press, 2018, p. 58: “Democracies are slow to build, but when they fall, they fall quickly” (Tradução livre: “Democracias são lentas para construir, mas quando elas caem, elas o fazem rapidamente”).
[3]  LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. How Democracies Die. New York: Crown, 2018. Em português: LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. São Paulo: Zahar, 2018.
[4] “All continue to function as they ought while failing to deliver what they should” (RUNCIMAN, David. How Democracy Ends. New York: Basic Books, 2018, p. 4). Tradução livre: “Tudo continua a funcionar como deveria, enquanto falha em entregar o que deveria”.
[5] GINSBURG, Tom; HUQ, Aziz Z. How to Save a Constitutional Democracy. Chicago: University of Chicago Press, 2018, p. 9.
 [6] HAGGARD, Stephan; KAUFMAN, Robert. Dictators and Democrats: Masses, Elites and Regime Changes. New Jersey, Oxfordshire: Princeton University Press, 2016, p. 224.
[7] BROWN, Wendy. Undoing the Demos: Neoliberalism’s Stealth Revolution. New York: Zone Books, 2017, p. 18.
[8] MICHAELS, Jon D. Constitutional Coup: Privatization’s Threat to the American Republic. Cambridge, MA; London, England: Harvard University Press, 2017, p. 12.
[9] O trabalho de implementação dessas atividades se deve em muito à dedicação das pesquisadoras do CJT/UFMG Mariana Rezende Oliveira e Raquel Cristina Possolo Gonçalves.
[10] O Ministro adiantou, pois, questão de mérito no julgamento da liminar em mandado de segurança: “O Estado no Brasil ficou grande demais e a sociedade já não consegue sustentá-lo. Trata-se de uma estrutura cara, inchada e que presta serviços deficientes.” (BRASIL, STF, MC no MS 34.507, Rel. Min. Roberto Barroso, https://www.conjur.com.br/dl/voto-barroso-pec-teto-gastos.pdf. Acesso em: 26 jun. 2019).
[11] Essa é uma das facetas de políticas fascistas apontadas em STANLEY, Jason. How Fascism Works: The Politics of Us and Them. New York: Random House, 2018. Deve-se considerar a sério a proposta de Stanley, que não visa universalizar o fascismo como fenômeno estatal, mas apontar quais políticas têm um caráter fascista.