Quem são os "líderes" da ‘tropa de choque’ que blinda Cunha na Câmara
Mariana Schreiber
No BBC Brasil
Aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conseguiram
nesta quarta-feira o sexto adiamento da votação que decidiria sobre a possível
abertura de um processo que, no limite, pode levar à cassação de seu mandato.
Desta vez, eles não apenas adiaram a decisão como podem ter conseguido fazer
todo o trâmite regredir à estaca zero com a escolha de um novo relator para o caso.
Cunha é alvo de uma representação, encabeçada por PSOL e Rede, que pede sua
cassação por corrupção e por ter mentido à CPI da Petrobras sobre a posse de contas
no exterior. O deputado nega as acusações e diz que os recursos que ele e seus familiares têm na Suíça tem origem lícita.
Apesar das acusações, o peemedebista conserva o apoio de uma verdadeira
"tropa de choque" que lança mão de toda a sorte de manobras regimentais (
recursos previstos no regimento da Câmara) para impedir que seu líder seja processado.
E o fato de seus seguidores ocuparem postos-chave na Casa, como cargos na Mesa
Diretora, potencializa ainda mais o sucesso dessas tarefas.
Nesta quarta, o vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), acatou recurso
de Manoel Junior (PMDB-PB), também aliado de Cunha, para destituir Fausto Pinato (
PRB-SP), do cargo de relator do processo contra ele no Conselho de Ética.
O argumento foi de que o PRB, partido de Pinato, fazia parte do mesmo bloco do PMDB e,
por isso, ele não podia relatar o caso — a proibição, prevista no regimento, teria
por princípio evitar que aliados do acusado assumissem a função de relator desse tipo de caso.
O presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), havia denominado Pinato para
a relatoria porque o bloco de 13 siglas do qual PMDB e PRB faziam parte rachou em outubro.
No entanto, diante do parecer contra Cunha, Manoel Júnior lançou mão do argumento
para pedir o afastamento de Pinato.
"Eu, propriamente, e nenhum dos membros da bancada do PMDB fizemos nenhuma
manobra antirregimental. As questões de ordem que colocamos foram todas pautadas
dentro do regimento (da Câmara) e do regulamento do conselho", argumentou Junior.
Parlamentares anunciaram que recorrerão ao plenário e ao STF para tentar derrubar a
decisão de Maranhão. "Acho que isso é golpe!", disse Araújo. Enquanto isso, Marcos
Rogério (PDT-RO) foi escolhido o novo relator do caso.
Veja, a seguir, quem são os líderes da "tropa de choque" que tenta impedir o processo
contra Cunha na Câmara e o ajuda em outros casos.
Paulinho da Força (SD-SP)
Cunha. Ele não esconde que o principal motivo da aproximação é o interesse no impeachment
de Dilma Rousseff.
"O nosso negócio é derrubar a Dilma. Nada nos tira desse rumo", disse ao jornal Folha
de S.Paulo em outubro. Na ocasião, o presidente da Força Sindical também frisou que
está com o peemedebista "para o que der e vier".
Paulinho é líder de seu partido, o Solidariedade, e assumiu a cadeira que cabia ao partido no Conselho de Ética após a representação contra Cunha.
Após o PSOL liderar o pedido de abertura de processo contra Cunha, Paulinho apresentou
uma representação contra o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) no conselho, movimento
que foi visto como tentativa de retaliação.
Em setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou Paulinho réu de uma ação na qual
é acusado de se beneficiar de um esquema que desviou recursos do BNDES. Na
Operação Lava Jato, o empreiteiro Ricardo Pessoa disse que fez doações ao
deputado para obter influência em movimentos sindicais e evitar greves. Ele nega as acusações.
Manoel Junior (PMDB-PB)
à frente das articulações para retardar a decisão para abertura do processo.
Formado em Medicina, ele chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Saúde
em outubro, numa tentativa do Planalto de conquistar mais apoios entre os aliados de
Cunha. No entanto, as diversas críticas públicas que o paraibano já havia feito ao governo
criaram um obstáculo para sua nomeação.
A vaga acabou ficando com Marcelo Castro (PMDB-PI), que era próximo a Cunha, mas
depois se afastou dele devido a embates na tramitação de proposta da Reforma Política.
Arthur Lira (PP-AL)
e Justiça (CCJ). Ele conseguiu o cargo, com aval de Cunha, após ter o apoiado na eleição
para o comando da Câmara.
Caso o Conselho de Ética abra um processo contra o peemedebista e recomende a cassação
do seu mandato, ele ainda poderá recorrer à CCJ antes de o plenário votar a questão.
Em setembro, a Procuradoria-Geral da República apresentou ao STF denúncias contra
Arthur Lira e seu pai, o senador Benedito de Lira (PP-AL). Ambos, acusados de corrupção
e lavagem de dinheiro no escândalo da Petrobras, negam os crimes.
Waldir Maranhão (PP-MA)
ligadas a ele no Conselho de Ética. No entanto, essas decisões acabam recaindo sobre
outros integrantes da Mesa Diretora da Casa que são seus aliados, caso de Waldir Maranhão.
Como vice-presidente da Câmara, Maranhão acatou recurso apresentado por Manoel Júnior
para destituir o relator Fausto Pinato. Antes disso, já havia tomado decisões que resultaram
no adiamento de sessões do Conselho de Ética, que avalia a representação contra Cunha.
Maranhão é um dos 32 integrantes do PP investigados na operação Lava-Jato. Ele foi
apontado pelo doleiro Alberto Youssef como um dos deputados que recebeu dinheiro por
meio da empresa GFD, usada para distribuir propina a políticos. Maranhão nega as acusações.
Felipe Bornier (PSD-RJ)
Ele cancelou a primeira sessão que analisaria a abertura do processo contra Cunha, em 19
de novembro.
Sua decisão, porém, gerou revolta e levou mais de 50 deputados a deixarem o plenário
aos gritos de "Fora Cunha" – com isso, o presidente da Câmara teve de reverter a decisão.
André Moura (PSC-PE)
que ele convocou, em julho, para rebater as acusações de que teria recebido US$ 5
milhões em propina desviados da Petrobras.
Parceiro do peemedebista na defesa de pautas consideradas conservadoras, foi presidente
da comissão que discutiu o projeto de redução da maioridade penal – proposta que acabou
aprovada na Câmara, mas até hoje não foi apreciada no Senado.
Em agosto, após Paulo Teixeira (PT-SP) criticar o presidente da Câmara em discurso no
plenário, Moura pediu "respeito" a Cunha. Irritado, Teixeira chamou o deputado do PSC
de "puxa-saco" e "lambe botas" do peemedebista.
Logo após a deflagração do impeachment, quando Dilma alfinetou Cunha ao dizer que
nunca fez "barganha" política, o peemedebista acusou a presidente de mentir e disse
que ela negociou com Moura um acordo no qual a aprovação da CPMF seria moeda de troca
no apoio do PT para evitar o processo no Conselho de Ética.
Inicialmente, Moura disse que "assinava em baixo" do que Cunha dizia, mas depois
confirmou a versão do ministro Jacques Wagner (Casa Civil), que negou encontro dele com Dilma.
Mariana Schreiber
No BBC Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário