sábado, 9 de abril de 2016

Se vencer a primária de Nova Iorque, Bernie Sanders, um socialista, será o próximo presidente dos Estados Unidos


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por Carlos Eduardo, editor-assistente do Cafezinho
Bernie Sanders está com a bola cheia.
Ele simplesmente superou sua adversária, Hillary Clinton, em 71 dos 72 condados do estado de Wisconsin, nas últimas primárias do partido Democrata. Sanders foi vencedor absoluto do pleito, angariando 99% dos municípios. E no único condado em que perdeu para Hillary, a margem de diferença foi de apenas 3,7%.
Sua vitória esmagadora e incontestável foi uma porrada e tanto nos críticos e analistas da grande imprensa, que desde o início da corrida eleitoral vinham afirmando dia sim, e outro também, que um autodeclarado ‘socialista democrático’, senador independente de longa data pelo estado de Vermont, pouco conhecido pelo público e sem apoio do próprio diretório nacional de seu partido, jamais teria chances de disputar pra valer a presidência dos Estados Unidos da América.
E ainda por cima contra a herdeira de um dos clãs políticos mais poderosos e influentes de sua geração: Hillary Clinton.

“A mídia corporativa e o establishment insistem em nos colocar fora do páreo, mas seguimos vencendo por larga maioria” – Bernie Sanders (tradução livre)
Desde o fim do mandato de seu ex-marido, Hillary Clinton é apresentada pela grande imprensa como uma pessoa destinada a ser presidente dos Estados Unidos.
Mas faltou combinar com os russos.
Uma das características mais interessantes desta campanha presidencial, diferente até da primeira eleição de Obama em 2008, é de que ela expôs pela primeira vez a indignação de uma imensa maioria do eleitorado norte-americano com o status quo e o establishmentpolítico.
Não é à toa que em ambos os partidos, Republicano e Democrata, vemos os chamadosoutsiders, ou, candidatos de ‘fora da política’, como Donald Trump e Bernie Sanders, conquistando um número expressivo de votos e levando multidões aos seus comícios.
Uma pesquisa da Universidade de Quinnipiac, em Massachusetts, divulgada no dia da primária de Wisconsin, revelou que praticamente dois terços do eleitorado norte-americano — 64% dos entrevistados — desejam uma ‘mudança radical’ na maneira como funciona o sistema político. 57% ainda afirmam que a ‘América perdeu a sua identidade’ e que não veem mais o país como a terra das oportunidades iguais para todos.
Se por um lado Donald Trump e Bernie Sanders representam esse desejo por mudança, por outro Hillary Clinton é considerada pela opinião pública — segundo as mesmas pesquisas — como a candidata que mais representa o establishment e status quo.
Há pouco tempo, um meme apresentando Hillary Clinton como a ‘candidata dos bancos e das grandes corporações’ e Bernie Sanders como o ‘candidato do povo’, fez um burburinho danado nos Estados Unidos – a ponto da assessoria de Hillary Clinton vir à público responder que as informações contidas no meme eram errôneas.
Apesar das negativas por parte da campanha de Clinton, a agência de fact-checking,Politifact, constatou que os dados de arrecadação estavam corretos.
O erro apontado pela campanha de Clinton estava no fato de que os números não se referem à campanha de 2016, mas os dados do meme nada mais são do que a soma de todo o dinheiro já arrecadado por Hillary Clinton e Bernie Sanders ao longo de suas carreiras políticas e a fonte da informação é a ONG OpenSecrets.org – que possui um database do histórico de financiamento de campanha de centenas de políticos norte-americanos.
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Meme que circulou no Facebook mostra os dez maiores doadores de campanha de Hillary Clinton e Bernie Sanders, desde o início de suas carreiras na política
Se até memes são motivos de preocupação para o gabinete de Hillary Clinton, sinal de que as coisas não vão bem.
Mas tamanha aflição tem um motivo histórico.
Segundo o tabu das últimas campanhas eleitorais, a derrota de Clinton em Wisconsin pode realmente representar o fim de sua campanha.
Isto porque desde 1968, quando foi adotado o sistema moderno de campanha que conhecemos, com as primárias iniciando um ano antes do pleito e a eleição sendo realizada um ano depois, entre os vencedores dos dois partidos, Republicano e Democrata, Wisconsin só errou o candidato a presidente uma única vez, em 1984 – como mostra um repórter do Washington Post.
É claro que tabu não quer dizer lá grande coisa, mas como jornalista da área de política e admirador dos institutos de pesquisa norte-americanos – infinitamente melhores que os institutos brasileiros, aliás – considero este um dado importante.
Comendo pelas beiradas, Bernie Sanders foi aos poucos fechando o cerco pra cima de Hillary Clinton. Tanto que agora os números estão ao seu favor e nenhum analista político sério pode mais negar isso.
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‘Wisconsin simplesmente elegeu Bernie Sanders como presidente’, afirma colunista do The Huffington Post
Após a vitória de Sanders em Wisconsin, um dos articulistas do HuffPost chegou a escrever artigo intitulado: ‘Wisconsin simplesmente elegeu Bernie Sanders como presidente’.
Honestamente, acho a análise exagerada e inclusive precipitada.
Mas uma coisa é certa.
Se vencer as primárias de New York no dia 19 de abril, Bernie Sanders já pode se considerar como o próximo presidente dos Estados Unidos da América.
E não sou eu quem está afirmando isso. É o New York Times.

Segundo o NY Times, Sanders já possui 45% dos delegados restantes e se vencer em New York é dado como certo que será nomeado como candidato pelo partido Democrata.
O agregador de notícias, RealClearPolitics, reconhecido por fazer as melhores médias de pesquisas nos Estados Unidos, mostra que em todas as simulações entre Trump vs. Sanders, Bernie leva a presidência por uma margem superior a oito pontos de diferença.
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O quadro abaixo mostra a evolução de votos entre os candidatos Donald Trump e Bernie Sanders. É possível ver que desde março há uma queda brusca de Trump nas pesquisas e uma alta expressiva de Sanders, ao ponto deste abrir uma diferença de 16 pontos frente ao rival — 53,4% vs. 37,4%
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Portanto, não há nenhum exagero em afirmar: se Bernie Sanders vencer as primárias de New York, teremos um socialista como presidente dos Estados Unidos da América.

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