sábado, 9 de abril de 2016

Glenn Greenwald e David Miranda: Impeachment de Dilma está designado para proteger a Corrupção real





Jornal GGNEm artigo publicado na Folha de S. Paulo, os jornalistas Glenn Greenwald e David Miranda apontam para o fato "mais bizarro" da crise política vivida no país: o de que quase todas figuras políticas importantes que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff enfrentam acusações de corrupção mais sérias do que ela, o que vale também para aqueles que podem assumir o poder no caso de um afastamento.
Eles ressaltam que, de Michel Temer a Eduardo Cunha, passando por Aécio Neves e Geraldo Alckmin, importantes adversários de Dilma estão envolvidos em escândalos que "destruiriam a carreira de qualquer um numa democracia minimamente saudável." Para Greenwald e Miranda, é irônico que a presidente seja um dos poucos atores políticos que não está diretamente envolviod em casos de enriquecimento pessoal. 
Os jornalistas também argumentam que estes fatos, somados ao "tratamento abertamente político de Moro" ao ex-presidente Lula e a cobertura "embaraçosamente sensacionalista" do Jornal Nacional, fizeram como que a mídia estrangeira alterasse radicalmente sua percepção sobre a crise brasileira. Leia mais abaixo:
Da Folha
 
GLENN GREENWALD E DAVID MIRANDA
 
 
O fato mais bizarro sobre a crise política no Brasil é também o mais importante: quase todas as figuras políticas de relevância que defendem o impeachment da presidenta Dilma Rousseff –e aqueles que poderiam assumir o país no caso de um eventual afastamento da mandatária– enfrentam acusações de corrupção bem mais sérias do que as que são dirigidas a ela.
 
De Michel Temer a Eduardo Cunha, passando pelos tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin, os adversários mais influentes de Dilma estão envolvidos em chocantes escândalos de corrupção que destruiriam a carreira de qualquer um numa democracia minimamente saudável.
 
Na verdade, a grande ironia desta crise é que enquanto os maiores partidos políticos do país, inclusive o PT, têm envolvimento em casos de corrupção, a presidenta Dilma é um dos poucos atores políticos com argumentos fortes para estar na Presidência da República e que não está diretamente envolvido em casos de enriquecimento pessoal.
 
Esses fatos vitais têm alterado radicalmente como a mídia internacional vê a crise política no Brasil. Durante meses, jornalistas norte-americanos e europeus retrataram de forma positiva as manifestações nas ruas, a investigação da Operação Lava Jato e as decisões do juiz federal Sergio Moro.
 
Em razão desses fatos, agravados pelo tratamento abertamente político de Moro com relação ao ex-presidente Lula e pela cobertura midiática embaraçosamente sensacionalista feita pelo "Jornal Nacional" e por outros programas da Rede Globo, agora muitos estão reconhecendo que a realidade é bem menos inspiradora ou nobre.
 
A sociedade brasileira tem muitas razões legítimas para se zangar com o governo. Mas para uma parte da elite midiática e econômica do país, a corrupção é apenas uma desculpa, um pretexto para atingir um fim antidemocrático.
 
O objetivo real é remover do poder um partido político –o PT– que não conseguiu derrotar após quatro eleições democráticas seguidas. Ninguém que realmente se importasse com o fim da corrupção iria torcer por um processo que delegaria o poder a líderes de partidos como o PMDB, o PSDB e o PP.
 
Pior, está se tornando claro que a esperança dos líderes dos partidos da oposição é de que o impeachment de Dilma seria tão catártico para o público, que permitiria o fim silencioso da Operação Lava Jato ou, ao menos, fosse capaz de fazer com que tudo terminasse em pizza para os políticos corruptos.
 
Em outras palavras, o impeachment de Dilma Rousseff está designado para proteger a corrupção, não para puni-la ou até acabar com ela –o retrato mais característico de uma plutocracia do que de uma democracia madura.
 
Impeachment é uma ferramenta legítima em todas as democracias, mas é uma medida extrema, que deve ser usada somente em circunstâncias convincentes de que há crimes cometidos pelo presidente da República e quando há provas concretas das ilegalidades. O caso do impedimento de Dilma não responde a nenhum desses dois critérios.
 
Em uma democracia avançada, o Estado de Direito, não o poder político, deve prevalecer. Se, apesar disso tudo, o país estiver realmente determinado a apear Dilma do poder, a pior opção seria deixar essa linha de sucessão corrupta ascender ao poder.
 
Os princípios da democracia exigem que Dilma Rousseff termine o mandato. Se não houver opção, e ela for impedida, a melhor alternativa é que sejam realizadas novas eleições e, assim, que a população decida quem assumirá seu lugar, pois, como está na Constituição, todo poder emana do povo.
 
GLENN GREENWALD, 49, cofundador do site especializado em reportagens sobre política nacional e externa The Intercept, é vencedor do Prêmio Pulitzer de Jornalismo em 2014 e do Prêmio Esso de 2013
 
DAVID MIRANDA, 30, jornalista e ativista, é impulsionador do Tratado Snowden, proposta internacional de proteção à informação 

Um comentário:

  1. O PASSEIO DAS FOCAS. Brasileiro que de uns anos pra cá desaprendeu o que é jornalismo e só conhece "Focas" a exemplo de Reinaldo Azevedo, Rachel Sheherazade e Willian Bonner, enfia a cabeça facilmente no laço do passarinheiro. Nos pedidos de impeachment bandos de outras focas, as amestradas, surgidas de redes de submissão religiosa, ou mediática, pululam por praças avenidas e logradouros, reforçadas por preleção de pastores raivosos e espumantes sobre os quais o iluminada pastor Caio Fábio pode nos esclarecer e por bandos de tocadores furiosos de panelas, desses também pode nos esclarecer o exemplo de probidade e competência que é a professora Marilena Chauí. Então, jovens , salvem-se, corram das Biblias, dos políticos do PMDB e do PSDB e suas ladainhas, para baluartes do jornalismo imortal como Gleen Greenwald. E ajudem a salvar o Brasil.

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