O golpe dos corruptos leva Brasil à beira do caos: “por Deus, pela minha família, pelas pessoas de bem”
por Rodrigo Vianna
Depois de assistir à sessão do golpe, em Brasilia, entendi porque a TFP (Tradição, Família e Propriedade – velha instituição católica de ultra-direita, que defendeu a ditadura em 64) entrou em decadência.
A TFP tornou-se desnecessária. O discurso da “família acima de tudo” ganhou a parada.
“Pela minha família, pelos meus filhos, pela minha mulher”, gritou um deputado/delegado de Goiás.
“Voto em nome do povo de Jesus”, dizia uma moça com jeito de santinha.
Um amigo escreveu: ninguém agradeceu à (ou ao) amante?
Deus e a família embalaram as declarações de voto. Quase ninguém lembrou das pedaladas fiscais. E assim a Câmara mais nojenta da história votou pelo impedimento de uma presidenta contra a qual não há acusações formais de crime.
Consumou-se o golpe dos corruptos. A imprensa mundial já havia percebido que esse é o jogo: um bando de larápios se reúne sob o comando de um bandido, para entregar o poder a um traidor com cara de mordomo de filme de terror.
Na sessão, um deputado do PSOL do Rio, Glauber Braga, chamou Cunha de “gângster”. Cunha não moveu um músculo. Cumpriu sua missão. Entregou a cabeça de Dilma na bandeja.
Bolsonaro encenou a cena mais absurda, quando comemorou o golpe ao declarar seu voto: “perderam em 64, perderam de novo em 2016”. E depois exaltou a memória do torturador Brilhante Ustra. Tudo sob risos cínicos e aplausos. Levou uma cusparada de Jean Wyllis: o que foi pouco, muito pouco, diante do gesto brutal e patético do ex-militar Bolsonaro.
A extrema-direita, o PSDB derrotado 4 vezes, o PMDB do traidor Temer, o baixo clero que teme a Lava-Jato: todos se uniram no golpe parlamentar. O golpe dos corruptos.
O Brasil ingressa assim num túnel assustador. 54 milhões de votos foram jogados no lixo. Cunha ri da sua cara, da minha. E é tratado como um lord pela imprensa mais venal da história brasileira.
Com o golpe consumado, histéricos na zona sul de São Paulo bateram panelas e gritaram durante meia hora o “Fora, PT”. Pronto, aliviaram suas frustrações…
Talvez os paneleiros não saibam, mas quando ingressamos na zona cinzenta do vale-tudo todos podem sofrer as consequências. Hoje você comemora porque a regra é quebrada para atender à sua vontade. Amanhã, a vítima pode ser você.
Inicia-se agora outra batalha. O que sobrou do governo propõe nova eleições em outubro. Senadores de vários partidos encampam a mesma ideia: ou seja, Temer pode acabar antes de começar.
Dilma aceitaria renunciar a metade de seu mandato – se Temer e o Congresso fizerem o mesmo.
Mas quem disse que a turma da família e dos bons costumes topa? Afinal, Temer acha que ganhou. Mas encontrará um Brasil conflagrado. Movimentos sociais e sindicalistas prometem resistir nas ruas.
O programa Temer/PSDB/Globo significa aprofundar a recessão, cortar direitos, entregar o Brasil. Esse programa – a curto prazo – só se sustenta debaixo de pancada: PM na rua, Justiça cada vez mais partidarizada, intimidação e mídia a serviço do ajuste conservador.
Uma gestão Temer/Cunha seria assim: a família brasileira unida, num governo de unidade das “pessoas de bem” (outra palavra muito utilizada por aqueles parlamentares com cara de meliantes e batedores de carteira). Quem ficar contra esse “novo Brasil das famílias” será tratado como dissidente, e entregue aos cuidados da PM e do novo Judiciário de Moro.
Mas tudo isso depende de o governo Temer existir. Pode ser que nem chegue a existir. Esse é o caos em que nos lançaram a Globo, os coxinhas, Aécio e a turma que não respeitou o resultado das urnas.
Agora, cada vez que alguém não gostar do resultado das urnas, terá à mão um golpezinho parlamentar.
Tudo em nome da família e de deus!
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