sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Comparações entre o integralismo original, o bolsonarismo e os terroristas de extrema-direita de hoje




Jornal GGN Pedro Doria escreveu no jornal O Globo desta sexta (27) um artigo traçando paralelos entre o movimento integralista dos anos 1930, o bolsonarismo e os autoproclamados integralistas de hoje, que atacaram a sede do Porta dos Fundos e invadiram uma universidade no Rio de Janeiro.
Em síntese, o integralismo original guarda duas grandes diferenças em relação à extrema-direita que está no poder, e outra incongruência com os terroristas que queimam bandeiras antifacistas e lançam coquetel molotov contra produtora de vídeo.
O movimento que tinha Plínio Salgado como expoente era intelectualizado. Atraia para suas fileiras os grandes juristas, acadêmicos, jornalistas, escritores da época. Já o bolsonarismo desacata a universidade pública, rivaliza com dados científicos, alimenta teorias da conspiração em vez de racionalidade. Contra discussões aprofundadas, incentiva a superficialidade dos memes.
“A extrema direita brasileira dos anos 1930 não era como a de hoje. Plínio leu poesias suas durante a Semana de Arte Moderna de 1922 . Foi um romancista de importância no Modernismo. [Gustavo] Barroso já era membro da Academia Brasileira de Letras e fundador do Museu Histórico Nacional quando a AIB nasceu. ]Miguel] Reale foi talvez o maior jurista brasileiro do século 20. Eram, no comando, todos intelectuais. E atraíram gente do mesmo quilate. Foram integralistas o futuro bispo dom Helder Câmara, o folclorista Câmara Cascudo, o político trabalhista San Tiago Dantas e o poeta Vinícius de Morais”, escreveu Doria.
Além disso, enquanto o bolsonarismo finge que a democracia não é um obstáculo ao seu projeto autoritário de poder, os integralistas “consideravam o regime democrático fracassado, consideravam que o liberalismo político não tinha a força necessária para fazer frente ao avanço comunista. O exercício das eleições livres, um autoengano, um fracasso. Defendiam abertamente um regime autoritário.”
Já os integralistas de hoje têm uma característica similar aos do passado: são midiáticos. Mas diferem na defesa da volta da monarquia.
“Plínio era republicano e boa parte da AIB [Ação Integralista Brasileira, o maior movimento político de massas à direita, até o bolsonarismo] era republicana. Mas eles incorporaram em certo momento um movimento ultracatólico monarquista chamado Patrianovismo. Então o pé no catolicismo fundamentalista ancorado na imagem do imperador existia. Mas era um grupo pequeno.”
Doria ainda chama atenção para o “paradoxo” no integralismo. “O fascismo é revolucionário. Isto quer dizer que pretende uma mudança radical no Estado, no país. O patrianovismo era reacionário — queria um retorno ao Brasil agrário monárquico e distância daquele país industrial e urbano que se consolidava no início do período Vargas. Mas esta é mesmo uma característica da nova extrema-direita que aflora no mundo. Este paradoxo de ser simultaneamente revolucionário e reacionário.”
“Mas terrorismo não era da sua prática”, conclui.

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