terça-feira, 10 de outubro de 2023

Palestina e o fracasso da mediação dos Estados Unidos, por Luís Nassif

 

A conclusão da Eurasia Review é que os Estados Unidos são considerados, por muitos analistas, uma potência em declínio no Oriente Médio

Do Jornal GGN:



Segundo a NBC, os Estados Unidos confiam na influência da China sobre o Irã, para acalmar as tensões no Oriente Médio.

O maior sinal de fracasso da diplomacia americana ocorreu logo depois da ofensiva do Hamas sobre Israel. Uma comitiva de senadores democratas e republicanos americanos se reuniu com o presidente chinês Xi Jinping na manhã de segunda-feira. A reunião durou cerca de 80 minutos, disse Schumer, quase o dobro do esperado.

O líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, informou que a delegação pediu a Pequim que usasse sua influência com o Irã para evitar que o conflito Israel-Hamas se espalhasse.

O episódio mostra mais um fracasso da diplomacia Ocidental e da falência das instituições multilaterais.

O acordo Arábia-Israel

Ele ocorre em um momento em que os Estados Unidos trabalhavam por uma pacificação entre Arábia Saudita e Israel. Por se tratar de processo complexo de reconciliação, apontou a Eurasia Review, cada lado terá que assumir compromissos para que o acordo seja aceitável para o outro lado.

No final de 2020 e início de 2021, governo Trump, Israel normalizou relações com países muçulmanos dos Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão.

Se fechado o acordo com a Arábia, haveria uma mudança radical no Oriente Médio. O ultradireitista primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 22 de setembro, chegou a anunciar que Israel estava no “limiar” de um acordo de paz transformador com a Arábia Saudita.

“Essa paz contribuirá muito para acabar com o conflito árabe-israelense”, disse Netanyahu. “Isto encorajará outros estados árabes a normalizarem as suas relações com Israel. Isto aumentará as perspectivas de paz com os palestinos. Promoverá uma reconciliação mais ampla entre o Judaísmo e o Islão, entre Jerusalém e Meca, entre os descendentes de Isaac e os descendentes de Ismael.”

A insensibilidade em relação a Palestina sempre foi a pedra no sapato de qualquer acordo.

Já houve 6 fases deste acordo. Na primeira, a partir da década de 1990, as negociações foram conduzidas pelo Mossad (o serviço secreto de Israel) e o embaixador saudita em Washington. A segunda foi a Iniciativa de Paz Saudita de 2002. Riade oferecia o reconhecimento árabe de Israel em troca de um estado palestino demtro das feonteiras de 1967, com Jerusalém Ocidental como capital. Israel rejeitou.

A terceira fase foi após a Segunda Guerra do Líbano, em 2006, especialmente depois de ambos os países definirem o Irã e o Hezbollah como inimigos comuns. A quarta foi no mesmo ano, quando o então primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, acompanhado pelo chefe do Mossad, reuniu-se com o príncipe Bandar Bin Sultan Al Saud na Jordânia.

A quinta etapa permitiu que aviões da Air India sobrevoassem o território saudita a caminho de Israel, e aviões de passageiros israelitas sobrevoassem o espaço aéreo saudita.

Entrou-se agora na sexta fase, através da diplomacia oficial, tendo os Estados Unidos como intermediário. O que levou as autoridades palestinas a irem a Riade para expor suas reivindicações no acordo de paz.

  • reabertura do consulado americano em Jerusalem Oriental e do escritório da OLP em Washington.
  • elevar o nível do representante palestiuno na ONU, de observador a membro;
  • congelamento da construção de novos assentamentyos israelenses, transferindo o território da zona C (sob controle total de Israel) para a zona B (sob constrole civil palestino).

A questão palestina

A questão palestina é tão central que o Ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, mais os Ministros do Egito e Jordânia, lideraram uma reunião extraordinária, à margem da Assembléia Geral da ONU, com participação de 50 Ministros de Relações Exteriores, visando promover uma solução de criação de dois Estados, Israel e Palestina, baseada na Iniciativa Árabe da Paz, junto com um “pacote de paz” a ser oferecido a israelenses e palestinos.

A Arábia Saudita definiu três questões principais para a aceitação do acordo. Uma delas, justamente, foi a questão palestina.

Israel teria muito a ganhar, se cedesse. Teria acesso ao petróleo árabe, mercado para seus produtos tecnológicos, conseguiria normalizar relações com todos países árabes, passaria a fazer parte do corredor econômico ferroviário, que vai da Índia, passando pelo Oriente Médio, até a Europa.

O presidente americano Joe Biden tentou convencer os israelitas e atender as reivindicações dos palestinos. Mas Netanyahu está preso aos compromissos com a extrema-direita que se opõe a qualquer concessão à Palestina.

Por isso mesmo, a paz local só seria possível quando um moderado assumisse o governo de Israel.

Enquanto os EUA debatem-se nesses dilemas, a diplomacia chinesa avança em todas as frentes. A China oferece uma central nuclear civil para a Atrábia Saudita. Em dezembro de 2022, Xi viajou para a Arábia Saudita, assinando vários acordos bilaterais sobre tecnologia, infra-estrutura e segurança. Os sauditas aderirão ao BRICS em 1o de janeiro de 2024 e em 2021 Riade tornou-se parceiro da Organização de Cooperação de Xangai. A China tornou-se o maior comprador do petróleo saudita e ambos negociam para pagar em yuan.

A conclusão da Eurasia Review é que os Estados Unidos são considerados, por muitos analistas, uma potência em declínio no Oriente Médio.

A ofensiva do Hamas pode ter sido uma pá de cal na pax americana. [link para Instagram aqui]

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