sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Juliana Dal Piva: Mauro Cid chorou ao ser confrontado por Alexandre de Moraes sobre plano de assassinato elaborado por militares golpistas

 Juliana Dal Piva

Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

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Cid chorou ao ser confrontado por Alexandre de Moraes sobre plano de assassinato

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro havia omitido da PF trama para matar Lula, Alckmin e Moraes

iclnotícias:

A coluna apurou que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, chorou ao ser questionado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre suas omissões em depoimentos à Polícia Federal durante sua colaboração premiada. Em especial, quando questionado sobre o plano que previa os assassinatos do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do próprio ministro.

Cid já havia chorado ao falar do plano em depoimento à PF, após a deflagração da Operação Contragolpe. O militar havia desmaiado durante outro depoimento no STF quando foi informado de que seria preso após áudios dele indicarem que o militar estava quebrando sigilo da delação.

Cid não havia mencionado o conhecimento sobre o plano para a PF durante os depoimentos prestados para a colaboração premiada já assinada no ano passado. Por isso, a PF decidiu convocá-lo para depor novamente e, depois disso, também enviou um relatório ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, sobre as omissões para que fosse revisto o benefício previsto para o colaborador.

Por lei, quem assina uma colaboração precisa confessar todos os crimes, apresentar provas e ainda apontar todo o conhecimento sobre os demais envolvidos. Não são permitidas omissões, mentiras ou mesmo a quebra do sigilo do acordo.

Desde o início dos depoimentos, a PF sabia que Cid vinha omitindo dados. Periciando o celular dele, os investigadores tinham verificado uma série de áudios e documentos que demonstravam que o tenente não estava falando tudo que sabia. Contudo, eles aguardaram o momento da conclusão do inquérito para citar as omissões já que suspeitava que Cid estivesse vazando dados, o que é apontado no relatório final da PF.

Cid é visto como agente de ‘contrainteligência’

Um dos investigadores descreveu Cid para a coluna como um agente de contrainteligência dentro da investigação. A PF aponta no relatório final de inquérito ter encontrado um documento na sede do PL indicando que Cid estava relatando a pessoas próximas ao general Braga Netto, também investigado, detalhes do que estava contando nos depoimentos.

Na mesa do coronel Peregrino, assessor de Braga Netto, a PF achou um documento em que os investigadores apontam ser “perguntas a Mauro Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial”. As respostas parecem vir do tenente e relatadas por um terceiro, porque usam verbos na terceira pessoa do plural como “aliviou” ou “não falou nada”.

No documento, o interlocutor quer saber se a investigação descobriu algo sobre a narrativa construída em torno da distorção do artigo 142 da Constituição, usado pelos golpistas para tentar justificar uma intervenção das Forças Armadas na vida política, promovendo a ruptura democrática. “Minuta do 142. Existia documento físico?”, pergunta o interlocutor não identificado. “Eles sabem de coisas que não estavam em lugar nenhum (e-mail, celular, etc.)”, responde, em vermelho, a pessoa que a PF acredita ser Mauro Cid ou a pessoa que falou com ele.

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