quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A contradição fatal no populismo de direita brasileiro, por Andre Motta Araujo





Regimes de direita, para ter lógica interna, são necessariamente nacionalistas e estatizantes, é a sua legitimação histórica. Se foram "neoliberais", "entreguistas" e "colaboracionistas" de uma outra potência estrangeira, serão regimes fantoches.


Do Jornal GGN:


A contradição fatal no populismo de direita

por Andre Motta Araujo

O GLOBALISMO É A ÚLTIMA ETAPA DO NEOLIBERALISMO
Há uma contradição insanável entre os chamados “populismos de direita”, qual sejam as plataformas de Trump, Boris Johnson, Bolsonaro e outros, e o neoliberalismo à moda de Chicago. Os populistas de direita são contra o GLOBALISMO, mas o “neoliberalismo de Chicago só pode existir no mundo globalizado. Portanto, os “populistas de direita” não podem combater o GLOBALISMO e ao mesmo tempo apoiarem o neoliberalismo, o processo é um só.
Os clássicos regimes de direita do Século XX, o FASCISMO italiano e o NAZISMO alemão, eram completamente ESTATIZANTES e não regimes liberais de mercado. É da essência dos regimes de direita fortalecer, e não DESMONTAR o Estado como querem os neoliberais. São ideias contraditórias.
A Itália fascista tinha todos os grandes bancos como entes estatais, o ISTITUTO PER LA RECONSTRUZIONE INDUSTRIALE, o célebre IRI controlava 400 empresas, as ferrovias, os estaleiros, a eletricidade eram estatais assim como o grupo de armamentos ANSALDO, no Terceiro Reich a Hermann Goering Weke AG era a maior empresa da Alemanha,  truste estatal de siderurgia, estaleiros e material bélico.
Já no Brasil de 1964, o regime militar criou ou manteve o aparato estatal  que já vinha da Era Vargas, expandiu enormemente a PETROBRAS, a ELETROBRAS, criou a EMBRAER, a EMBRAPA, a petroquímica estatal, grandes siderúrgicas, a EMBRATEL, a TELEBRAS e mais de 110 novas estatais.
Poderiam contra-argumentar com o Chile de Pinochet e seus neoliberais de Chicago, mas é preciso conhecer a história completa e não apenas a mitologia, Allende estatizou 800 empresas, Pinochet na sua primeira fase desestatizou a maioria, era a fase Chicago que durou pouco. Com a queda do Ministro da Fazenda Sergio de Castro foram embora os “Chicago boys”, a grande estatal do Chile, a CODELCO, que explora a maior riqueza do País, o cobre, continuou estatal, a fase “Chicago” no regime Pinochet foi de curta duração.
Regimes de direita, para ter lógica interna, são necessariamente nacionalistas e estatizantes, é a sua legitimação histórica. Se foram “neoliberais” e “colaboracionistas” de outra potência, serão regimes fantoches, gendarmes ou capitães do mato de outros interesses ou potências, como foi o direitista regime de Vichy na França sob o jugo alemão, ente 1940 e 1944, ou pior ainda, o neofascismo como polícia do mercado financeiro.
O FASCISMO INVENTOU AS ESTATAIS
O conceito de empresa estatal é uma invenção do Fascismo. Antes do fascismo mussoliniano, o capitalismo se encarregava de construir ferrovias, portos, eletricidade, telefonia, siderurgia, os grandes grupos estavam no apogeu, Krupp, Thyssen, Siemens (Alemanha) Rockefeller, Carnegie, Morgan (EUA), Schneider. Wendel (França), Vickers Armstrong, Mond, Tate, Vestey (Inglaterra), Empain (Bélgica), Wallenberg (Suécia) Putiloff (Russia). No Brasil, o americano Percival Farqhuar implantava ferrovias, portos, bondes, energia elétrica, telefones, o Estado se limitava a defesa e justiça.
Na Itália empobrecida pela Grande Guerra e com indústria incipiente foi o Estado que bancou o desenvolvimento econômico e social pela criação de empresas estatais, um banco de fomento, o 1º do mundo, para o sul pobre, a CASSA PER IL MEZZOGIORNO, foi o Estado que desenvolveu a outrora paupérrima Itália, que por sua fraqueza econômica fez emigrar entre 1870 e 1914 cerca de 6 milhões de seus cidadãos.
A IMENSA CONTRADIÇÃO
É inconciliável o BOLSONARISMO com o NEOLIBERALISMO, ou manda um ou manda outro. Um regime de direita, abstraindo considerações morais, éticas e civilizatórias, só é operacional com um ESTADO FORTE e anti neoliberal, como Vargas entendeu perfeitamente com o Estado Novo, um regime de direita reproduzindo o Estado fascista italiano, chegando a flertar com o nazismo e que tratou antes de mais nada em fortalecer o Estado e não enfraquece-lo como pretende o plano Guedes de economia, um Estado Mínimo abrindo espaço para um mercado onipresente. NÃO DÁ CERTO. É uma combinação ideologicamente conflitante nas suas raízes.
Neoliberalismo hoje é um processo globalizante que independe de soberanias, ai está a OCDE, a ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, cúpula do globalismo mundial, cujo diretor geral é um mexicano, é uma entidade símbolo do ambientalismo e de causas universais onde não prevalecem as soberanias e sim o globalismo. O Brasil quer entrar?  Que contradição, mais uma, a OCDE é contra os próprios fundamentos dos populismos de direita, ela é a catedral dos humanismos e da expressão civilizatória de um mundo sem fronteiras.
Estamos vivendo no Brasil em um mar de contradições políticas, sociais e históricas, que em algum momento terão que ser resolvidas.
AMA

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