terça-feira, 1 de outubro de 2019

Tudo que foi realizado contra os trabalhadores e o país deve ser anulado e o prejuízo ser reparado pelos que se locupletaram. Por Francisco Celso Calmon





"O projeto golpista tem por objetivo maior estabelecer um Estado policial de inspiração ideológica fascista, amparado num Judiciário e num Ministério Público Federal conservador e punitivista, numa mídia oligopolizada (sempre a serviço dos interesses geopolíticos dos EUA …), tendo como braço armado do golpismo a Polícia Federal, e o Legislativo como protagonista parlamentar do script desenhado pelos chefes internos e externos desse ataque ao Estado de direito e a nossa democracia."


Do GGN:

Tudo que foi realizado contra os trabalhadores e o país deve ser anulado e o prejuízo ser reparado pelos que se locupletaram.



Casamatas explodem

por Francisco Celso Calmon

Em abril de 2016 escrevi um pequeno artigo para o livro A Resistência ao Golpe de 2016, que fora organizado por Carol Proner, Gisele Cittadino, Marcio Tenenbaum e Wilson Ramos Filho. Esse livro, escrito por 105 autores, foi o primeiro a fazer o contraponto com a narrativa dos golpistas, e serviu como instrumento catalizador, através de seu lançamento em todas as principais cidades do Brasil, para o combate ao golpismo. 
Reproduzo parte do artigo, tanto pelo seu prognóstico, lamentavelmente, acertado, mas, sobretudo, pelo receio de que caminhemos sob o eixo equivocado da conciliação, na qual o lado perdedor continuará a ser as mesmas vítimas desse golpismo.  
A conjuntura não caiu do céu.
Quando Jânio Quadros renunciou e as classes dominantes do Brasil impediram o vice-presidente, João Goulart, de assumir a presidência, e o arranjo do parlamentarismo, em lugar de uma ruptura frontal à Constituição, foi a solução conciliatória temporária, até que, por meio de um plebiscito, no qual o povo brasileiro optou majoritariamente pelo presidencialismo, Jango recuperou as funções plenas da presidência, e foi também o sinal para articularem o golpe de 64. 
Quando Aécio Neves, derrotado pela Dilma Rousseff, se insurgiu, com seu partido e aliados, ao resultado do pleito, inclusive acusando-o de fraude, não comprovada, e persistiu numa postura não republicana e civilizada de fazer política, estava dado o sinal de que haveria um processo golpista. 
A direita conservadora e golpista do Brasil, em regra, emite prenúncios de plano golpista, entretanto, o espírito democrático e a ingenuidade fazem com que a esquerda perceba tardiamente o significado desses sinais. Mormente quando se orienta por uma matriz de conciliação de classes.
Na conjuntura sinistra que o Brasil vive, na qual a democracia caminha para uma microcefalia democrática, que irá equivaler a décadas de retrocesso histórico, a reação das forças democráticas e progressistas veio tardiamente em função da divisão histórica desse campo político. 
O projeto golpista tem por objetivo maior estabelecer um Estado policial de inspiração ideológica fascista, amparado num Judiciário e num Ministério Público Federal conservador e punitivista, numa mídia oligopolizada (sempre a serviço dos interesses geopolíticos dos EUA …), tendo como braço armado do golpismo a Polícia Federal, e o Legislativo como protagonista parlamentar do script desenhado pelos chefes internos e externos desse ataque ao Estado de direito e a nossa democracia.
A reorganização do poder no plano internacional, com o Mercosul e Unisul no continente e com os Brics, colocaram os EUA como ator, talvez, menos visível, desse golpismo.   
As armas desses chefes são a extorsão e a chantagem. Através de espionagem e investigações formaram armazéns logísticos, nos quais estão estocados “os crimes” de muitos personagens dessa conjuntura, e por meio dessas armas subjugam àqueles que porventura ousam reagir, mas que têm contas a ajustar – telhados de vidro.  Como têm muita dinamite estocada, há sempre o risco de explodir e levar aos ares essas casamatas.
As revelações do site The Intercept abriram a tampa do fétido esgoto da lava jato e os primeiros a aparecer na espuma putrefata foram os ratos corruptos e corruptores da força-tarefa de Curitiba e em seguida os fariseus arrependidos, mas nem tanto.
As casamatas estão explodindo e deve haver ainda muita dinamite estocada e novas explosões de memórias, como a do homicida potencial, Rodrigo Janot, poderão ocorrer. Seu livro é um libelo de incriminação a si e a grande parte dos quadrilheiros do golpe. 
Romero Jucá, Eduardo Cunha, Renan, General Villas Boas, Toffoli, Adélio Bispo, Queiroz e tantos outros têm muito a revelar, senão no presente, no futuro diante de uma nova Comissão da Verdade.
A economia travada é como o fogo brando que estimula aos poucos a fritura do Estado policial, e como não há no horizonte sinais de melhoria, pode ser que, analogicamente à ditadura militar, estejamos diante do início do fim desse golpismo.
A ditadura militar no seu ocaso entregou os anéis, mas não os dedos. Seus crimes e entulhos atravessaram a jovem democracia até chegarem aos dias de hoje com o desmonte do Estado democrático de direito. A lição do passado é não repetir um “pacto” no qual os golpistas fiquem salvaguardados de suas imensas responsabilidades pelos crimes contra o povo trabalhador e o país. 
Tudo que foi realizado contra os trabalhadores e o país deve ser anulado e o prejuízo ser reparado pelos que se locupletaram.
Lula deverá ser solto com o pedido de desculpas do Estado, indenizado e recuperar plenamente seus direitos usurpados pela quadrilha – com Supremo, com tudo. Fora desse eixo a nação brasileira não encontrará o caminho da paz social e do crescimento econômico. 
Francisco Celso Calmon é Administrador, Advogado, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017)

Nenhum comentário:

Postar um comentário