sexta-feira, 11 de outubro de 2019

A aristocracia do Grande Capital e seu moralismo tosco e golpista liquidando um bem sucedido esforço de projeção do Brasil no mundo, por Andre Motta Araujo





Através de EMPRESAS DE INTERESSE NACIONAL liquidamos um grande movimento de projeção do Brasil em nome de um moralismo tosco de porta de igreja que trouxe prejuízos incalculáveis ao País como potência.


A aristocracia do Grande Capital

por Andre Motta Araujo

Nestes tempos de teorias conspiratórias é interessante uma crônica sobre a aristocracia do grande capital produtivo que nasce no Século XIX e chega até nossos dias. São dinastias enraizadas no apogeu do capitalismo industrial, a nobreza do capitalismo pela sua categoria social e resiliência histórica.
Como são uma aristocracia experiente de guerras e crises econômicas, passam por gerações atrás das cortinas da História para não ser foco de ataque, a eterna discrição e o cuidado em não ostentar a riqueza vulgar dos novos ricos do capitalismo arrivista sem classe e tradição.
KRUPP
A dinastia dos canhões nasce em 1811, em Essen, coração do Rhur industrial, tornou-se a maior produtora de aço da Alemanha, fabricante de artilharia, depois locomotivas e guindastes de portos, mais conhecida pelos grandes canhões da Grande Guerra de 1914, incluindo o canhão ferroviário Betha, o maior da História até então. A dinastia Krupp von Bohlen und Halbach chegou à Segunda Guerra em pleno apogeu, com 87 fabricas em 1940, mais o controle de 142 empresas por toda a Europa ocupada pelo Terceiro Reich, com cerca de 210 mil empregados, incluindo prisioneiros de guerra.
Com o fim da Guerra, o chefe da firma e da família, Alfried Krupp, foi julgado e considerado culpado pelo Tribunal de Nuremberg, mas a família manteve o controle do grupo, agora concentrado em aço e maquinaria industrial. O único filho e herdeiro de Alfried Krupp era seu filho Arndt, que faleceu em 1986 no Brasil, onde vivia há muitos anos no Rio de Janeiro, passando o controle do grupo para uma fundação.
A Krupp fundiu-se em 1999 com a Thyssen, outra dinastia industrial alemã, surgindo a THYSSENKRUPP A.G., maior empresa alemã de aço e máquinas de grande porte. No Brasil a Thyssenkrupp é a principal fabricante de elevadores.
Na fábrica Krupp de Campo Limpo, na região de Campinas, a avenida da fábrica tem o nome de Alfried Krupp.
O Brasil tornou-se, na década de 30, o maior cliente da Krupp com a compra de 1.180 canhões pelo Exército brasileiro.
Na onda de industrialização dos anos JK, a Krupp instalou uma subsidiária no Brasil, a METALÚRGICA CAMPO LIMPO, produzindo material ferroviário.
THYSSEN
Outro grupo símbolo da indústria alemã, com uma saga interligada à própria História do País, fundada no começo do Século XIX, tornou-se importante fabricante de aço. O titular Fritz Thyssen foi o primeiro grande financiador de Hitler e do Partido Nazista ainda nos anos 20, depois rompeu com Hitler em 1938 por discordar da perseguição aos judeus. Foi preso no campo de concentração de Dachau, depois da guerra foi processado em tribunais alemães, conseguiu sair livre e mudou-se para a Argentina em 1950, onde faleceu. Deixou um grande grupo e uma enorme família enobrecida por casamentos.


O ramo Thyssen Bhornermiza, com nacionalidade húngara e holandesa, foi representada por um personagem emblemático da alta sociedade europeia na segunda metade do Século XX, o Barão Heini Thyssen casou-se  cinco vezes, a 4ª vez com uma brasileira, Denise Shorto, com quem teve um filho e, na 5ª, com a ex-Miss Espanha Carmen Cervera, que herdou a maior parte de sua coleção de arte, maior coleção privada da Europa, parte da qual permitiu a criação do Museu Rainha Sofia em Madri. A familia Thyssen ainda mantém o controle do Grupo Thyssenkrupp, com 670 empresas e faturamento de 50 bilhões de Euros em 2018, é a maior fabricante de elevadores da Europa e do Brasil, onde também tem siderúrgica.
SCHNEIDER
Considerada a Krupp francesa, por sua imensa produção de artilharia pesada na Primeira Guerra nas usinas de Le Creusot. Fundada em 1836 como forjaria, fabricou de canhões a tanques e material elétrico pesado. Chegou a nossos dias como um grupo sólido, está bem implantado no Brasil com as chaves e disjuntores Telemecanique, Merlin Gerin  e Square D, é grande também nos EUA. O grupo tem 144.000 empregados e faturou 24 bilhões de Euros em 2018.
SIEMENS
Grande grupo alemão fundado em 1847, está no Brasil desde 1867, quando instalou a linha telegráfica do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, portanto no Brasil há 152 anos. No regime nazista teve participação em todo o processo de rearmamento, com acusações sobre o fornecimento de fornos para os campos de extermínio, da qual a companhia se defendeu. O grupo tem 670.000 empregados e em 2018 faturou 83 bilhões de Euros. A família Siemens ainda é grande acionista do grupo. A Siemens teve acusações de corrupção nos EUA e pagou pesadas multas.
VESTEY
A família que inventou a frigorificação da carne no Século XIX e com isso possibilitou o desenvolvimento da Argentina como a maior produtora e exportadora de carne bovina entre 1890 e 1930. Os Vestey chegaram a ter, em 1923, 3.000 açougues na Inglaterra e tinham seus próprios navios para transportar carne da Argentina e da Austrália para a Europa, a BLIE STAR LINE, com frota de 120 navios, transportando carne, carga geral e passageiros.
O grupo existe até hoje, é muito sólido e de propriedade privada da familia Vestey. O chefe é Lord Vestey, de 78 anos. A família tem grandes fazendas no Brasil e Argentina. Há um artigo antigo meu sobre a família, com mais detalhes [aqui].
UNILEVER
Uma das maiores multinacionais do mundo, a empresa que inventou a margarina, chegou a ter grandes extensões de terra na África para o plantio de palmeiras, a base de seus alimentos, e sabões era o óleo de palma. Seu líder for Lord Leverhulme. Presente em todo o mundo, a Lever House, em Nova York, é um prédio emblemático na cidade. Grande no Brasil há quase 100 anos, hoje fatura 60 bilhões de Euros e emprega 170 mil pessoas, empresa símbolo de bens de consumo e alimentação, tem base jurídica na Inglaterra e na Holanda, empresa inovadora em propaganda, não sai de moda.
A LÓGICA DO CAPITALISMO DE ELITE
Os grupos tradicionais do grande capitalismo precedem o neoliberalismo vulgar dos anos 70, são empresas que atravessaram guerras, grandes crises econômicas e políticas, ocupação de países, quedas de governos e de regimes, rupturas institucionais e golpes de Estado, seu grande know how é a sobrevivência em quaisquer condições, é uma expertise muito própria que não se ensina nas escolas moderninhas de administração de empresas.
Do ponto de vista político foram pontas de lanças de seus países-sede, cujos Estados sempre as protegeram de cruzadas moralistas, são consideradas em seus países patrimônio nacional, mesmo sendo empresas privadas, MAS que representam o interesse MACRO de seus países em quaisquer circunstâncias. Foi por essa razão que sobreviveram, seu interesse privado se confunde com o interesse nacional porque geram empregos e trazem divisas para seus países-sede, por isso jamais foram perseguidas em suas bases nacionais e em cada história existem graves acusações de malfeitorias. Krupp, Thyssen por sua aliança ao nazismo, Schneider por colaboracionismo com os alemães, Siemens pelos fornos dos campos de extermínio, Lever pela exploração da África negra e com todo tipo de acusações. Mas em nenhum caso, cruzadas moralistas em seus países, tocaram nas empresas porque o interesse nacional precede questões éticas ou assim apresentadas como alegações de grupos ideológicos contra a própria existência de grandes empresas de interesse nacional.
Na história dos primórdios do grande capitalismo não há moral alguma, as várias Companhias das Índias colonizavam territórios ocupados por povos antigos, tomavam terras, faziam escravos, os corsários ingleses, franceses e holandeses tomavam na mão grande navios espanhóis para roubar seu ouro, os piratas não eram fora da lei em seus países de origem, ao contrário, portavam CARTAS DE CORSO assinadas pelo seu Rei, que era sócio na pirataria.
Assim formou-se a base de capital do imperialismo europeu, por empresas e grupos representando o interesse de seus Estados que os protegiam.
AS EMPRESAS DE INTERESSE NACIONAL
A liquidação das empreiteiras brasileiras, empresas fundamentais para a projeção dos interesses do Brasil no exterior, foi um processo na contramão da trajetória de expansão dos grandes países. Através de EMPRESAS DE INTERESSE NACIONAL liquidamos um grande movimento de projeção do Brasil em nome de um moralismo tosco de porta de igreja que trouxe prejuízos incalculáveis ao País como potência. Ao lado das Forças Armadas e das demais Instituições de Estado, as EMPRESAS DE INTERESSE NACIONAL são instrumentos da projeção do Estado no mundo.

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