quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Moro é um replicante, por Homero Fonseca



 Foram justamente os recentes vazamentos do The Intercept que provocaram um curto-circuito no cérebro artificial de Sérgio Moro, obrigando-o a pedir licença do cargo e correr para os EUA, a fim de ser “reenergizado” 




Por
Homero Fonseca


 
 Foto Lula Marques

Moro é um replicante, por Homero Fonseca, no GGN

Comecei a desconfiar há algum tempo, mais exatamente ao assistir ao depoimento do ministro da Justiça no Senado, no dia 19 de junho passado. As respostas repetidas mecanicamente, como uma gravação; os gestos maquinais; o olhar fixo no nada; as ventas franzidas e a voz… ah, a voz de Sérgio Moro. Enquanto ele era juiz e não dava entrevistas, ninguém nunca tinha escutado aquela voz… inumana. Alguém conhece um único ser humano sobre a face da Terra que tenha aquela voz? Essa é a única imperfeição séria no robô Nexus-6 (de última geração) construído secretamente pelo Tyrrel Laboratory Corp., de Los Angeles, em 1998.

Aquela performance no Senado me levou a observar mais detidamente o suposto juiz e a me aprofundar nas pesquisas. Ainda estou no início das investigações, mas alguma coisa posso adiantar. Não tenho provas, mas robustos elementos de convicção. Vamos lá.

 Sérgio Fernando Moro nasceu em 1º de agosto de 1972 em Maringá, no Paraná, descendente de italianos do Vêneto, filho de dona Odete Starke Moro e do professor de Geografia, Dalton Áureo Moro, ilustre militante do PSDB na cidade paranaense. Era uma criança inteligente e carinhosa, embora introspectiva. Não tinha boa saúde, daí não haver sido aceito nos escoteiros, seu sonho à época. Sua adolescência foi modelar, por isso mesmo não registrando nenhum episódio digno de nota, exceto pelo fato de nunca haver se masturbado, mesmo diante das revistas Playboy contrabandeadas pelos amiguinhos. Depois da primeira comunhão, todo domingo ia à missa e comungava. Formou-se em Direito pela excelsa Universidade Estadual de Maringá, em 1995. Era um aluno brilhante, mas calado. Escrevia muito bem seus trabalhos, não apenas dominando perfeitamente a Língua Portuguesa mas até arriscando-se na Poesia (um único amigo a quem deixou ler seus sonetos disse que eram passáveis, mas ele, por timidez, nunca os publicou ou mostrou a mais ninguém). Em 1996, tornou-se professor adjunto de direito processual penal da UFPR. Data daí seu interesse acadêmico por corrupção, lavagem de dinheiro e outras falcatruas.


Sérgio Fernando nunca expressava opiniões políticas. Em 1985, aos 13 anos, assistiu a uma majestática manifestação da TFP — Sociedade em Defesa da Tradição, Família e Propriedade contra o fim da ditadura militar e a eleição de Tancredo Neves. Ficou fascinado pelos estandartes e paramentos da entidade da ultradireita católica. Desde então tornou-se adepto fervoroso da organização e leitor compulsivo de seus catecismos, panfletos, artigos e livros.
Foi esse perfil discreto e superconservador que fez Moro ser convidado pelo Departamento de Estado dos EUA em 1998 para um curso intensivo para juristas latino-americanos na Harvard Law School, onde travou estreitas relações com jovens ligados à extrema direita americana, como Jason Kessler, da Unity and Security for America, e até líderes estabelecidos, como David Duke, da Ku Klux Klan. Suas raras qualidades — inteligência, disciplina e perseverança — e suas firmes convicções ideológicas logo chamaram a atenção dos órgãos de inteligência americanos. Aquele juiz brasileiro desconhecido de 26 anos era o homem certo, no lugar certo, na hora certa. Ele era uma estupenda promessa de uma profícua, duradoura e receptiva colaboração jurídico-política entre o Brasil e os EUA.
Então aconteceu um imprevisto, conforme me foi revelado por uma fonte anônima de uma agência secreta americana: um infarto fulminante abateu o aplicado juiz-aluno, em Boston. O nefasto acontecimento foi abafado e o Departamento de Estado acionou o Tirrel Laboratory Corp., que estava numa fase avançada do ultrassecreto Projeto Nexus-6 de fabricação de replicantes praticamente perfeitos. Uma verba de 2,5 bilhões de dólares foi destinada para o desenvolvimento urgente de uma réplica do jovem brasileiro, por uma equipe de 201 cientistas, liderados pelo engenheiro geneticista J.F. Sebastian, um gênio na criação de robôs virtualmente humanizados. Esse superesforço científico-financeiro permitiu a criação de um replicante idêntico ao futuro Justiceiro de Curitiba, num tempo recorde.
Inicialmente os cabelos do replicante eram louros e os olhos azuis, mas logo a equipe de programação foi informada e corrigiu o deslize. Apenas dois defeitos não puderam ser sanados a tempo, pela pressa do projeto: a voz do replicante e uma leve disfunção lexical, por algumas falhas na tradução do inglês para o português no programa de conversação. O assessor especial da CIA para acompanhar o projeto, Don Eery Peacock comentou à época: “Creio que não haverá problemas com o replicante. Os brasileiros não têm uma cultura de ceticismo, de modo que acreditam facilmente em qualquer coisa. Ninguém notará esses pequenos problemas”. E o robô foi despachado. A família estranhou a voz, mas o novo Moro explicou ter contraído um vírus poderoso e desconhecido que atacou severamente sua laringe e nada mais falou nem lhe foi perguntado.


O replicante assumiu integralmente a vida de Sérgio Fernando Moro, inclusive concluiu a jato o mestrado (2000) e o doutorado (2002) na UFPR. Esse impressionante desempenho acadêmico não impede certos erros básicos no manejo do vernáculo, como escrever “conge”, “vim” (vier), “houvessem” (verbo impessoal), sem falar dos tropeços nas crases, dos escorregões na regência verbal e da ignorância sesquipedal em figuras de linguagem mais sofisticadas como um assíndeto ou uma zeugma. Como a maioria dos seus partidários comete as mesmas incorreções, não percebem as inconsistências na linguagem de um portador dos títulos de mestre e doutor.[1]

Sendo sua vida útil de apenas quatro anos, pelo menos de três em três anos o clone de Moro tem de voltar ao Tirrel Laboratory para se “reenergizar”. Dotado de sofisticada inteligência artificial, às vezes toma decisões erradas por não compreender perfeitamente certas dimensões humanas, como a política: daí ter aceitado se exonerar do cargo de juiz, onde mandava e desmandava, e assumido o Ministério da Justiça do Governo Bolsonaro, expondo à luz do dia sua ideologia e sujeitando-se a críticas, contraditórios e convocações parlamentares. O replicante também não entende conceitos humanos, demasiados humanos, como ética e coerência. Daí suas atitudes contraditórias, a colisão entre suas declarações e a completa desvalorização de sua palavra (é a favor de usar meios ilícitos para pretensamente fazer justiça, como na liberação das gravações ilegais de Dilma e Lula, mas contra os vazamentos do Intercept, justamente porque foram obtidos de forma ilícita); declarou rotundamente numa entrevista que não poderia exercer cargo político por incompatibilidade com seu trabalho de juiz, mas aceitou — acreditando na promessa de ser indicado para o STF — o Ministério da Justiça do governo que ajudou a eleger, autodenunciando sua parcialidade etc.etc.etc.).
Foram justamente os recentes vazamentos do Intercept que provocaram um curto-circuito no cérebro artificial de Sérgio Moro, obrigando-o a pedir licença do cargo e correr para os EUA, a fim de ser “reenergizado” (trocar certos chips responsáveis pelas funções de raciocínio e comportamento) em regime de urgência. Mandado de volta ao Brasil, tem suportado até agora, com raro estoicismo para um robô, as revelações do Intercept e os achincalhes públicos do seu chefe Bolsonaro, inclusive a insinuação de troca-troca com o ministro Ricardo Salles, que ele, como replicante, não entendeu muito bem, apenas esboçando um sorriso amarelo programado pelo doutor J.F. Sebastian para ocasiões como aquela.

[1] Só existe um meio de descobrir se alguém é um replicante ou um ser humano: é o chamado Método Voight-Kampff, consistente no uso de uma máquina semelhante a um polígrafo que mede funções corporais, como movimento da íris, ritmo da respiração e frequência cardíaca, enquanto o investigado responde a uma bateria de 36 perguntas aparentemente banais, porém relacionadas com empatia e memória afetiva (os replicantes recebem um implante de memórias fictícias, mas essas não possuem tais conotações eminentemente humanas). Somente os funcionários do Tirell Laboratory Corp., em Los Angeles, dispõem dessa ferramenta.


Nenhum comentário:

Postar um comentário