quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A funcionária do BNDES que defendeu a moralidade pública e o procurador falastrão que se calou, por Luis Nassif



Esta semana foi afastada uma funcionária do BNDES, porque queria impedir prejuízos para o banco.

Do GGN:




O visitante vai a uma rinha assistir uma briga de galo e resolve apostar. Pergunta para um dos presentes quem era o galo bom, para ele apostar. O sujeito aponta um galo branco. Começa a briga e o galo preto acaba com o galo branco.
O visitante reclama:
– Uai, você não disse que o galo branco era o bom?
– Disse. Ele é o galo bom. Mas quem ganha as brigas sempre é o galo malvado.
O galo bom se chamava José Eduardo Cardozo. A cada avanço da Lava Jato, dizia que era republicano, que não iria intervir, que o governo Dilma nada devia em relação à corrupção, que a operação livraria o país e o governo dos corruptos.
Com o galo bom comandando o terreiro, os pintinhos se alvoroçaram e passaram a cantar de galo. Não apenas os pintinhos do Ministério Público, mas do Tribunal de Contas, da AGU, da CGU, da Polícia Federal. E apoiaram a eleição do galo malvado.
Aí, entrou o galo malvado e os pintinhos se recolheram.
Nos tempos do galo bondoso, alguns pintinhos, no auge da falta de limites, pediram – e foi concedido pelo juiz carijó – a condução coercitiva de quarenta funcionários do BNDES. Uma humilhação pública com a cobertura ostensiva da Globo, sem que nenhuma irregularidade deles fosse identificada.
Esta semana foi afastada uma funcionária do BNDES, porque queria impedir prejuízos para o banco. O presidente ordenou a venda de todas as participações acionárias do BNDES. Há duas maneiras de fazê-lo. A primeira, desovando gradativamente no mercado para impedir a depreciação das cotações. A segunda, fazer uma venda pública. Aí contrata-se um banco ou corretora, paga-se comissão, obtém-se um preço menor.
A primeira alternativa é boa para o banco; a segunda, boa para os intermediários. A técnica que foi contra a operação é funcionária de carreira. O presidente, que insiste na operação prejudicial ao banco, é homem de mercado cujo maior mérito é ser amigo dos Bolsonaro.
Compare essa moça com os procuradores que ordenaram a condução coercitiva dos funcionários do BNDES. Não tem poderes de Estado. Está submetida a um presidente de banco ligado aos Bolsonaro. Paira sobre os funcionários do banco as ameaças do próprio Ministério Público Federal, com seus ataques indiscriminados que levaram o banco ao chamado “apagão das canetas”, o receio de assinar qualquer coisa que pudesse ser criminalizada pela ignorância rotunda dos procuradores.
Mesmo assim, demonstrou absoluta responsabilidade institucional, recusando-se a avalizar uma operação prejudicial ao banco. Aliás, funcionário de BNDES é concursado, o que torna mais difícil a demissão. Imagine-se no que se transformaria o banco – e o serviço público – com o fim dos concursos e da estabilidade.
Pergunto, quem foi mais corajoso e responsável em relação ao combate à corrupção: a funcionária anônima do BNDES ou o procurador Anselmo Lopes, que tentou criminalizar todas as operações do BNDES, humilhou publicamente quarenta funcionários e, agora, se cala ante essa investida contra a moralidade do banco?
No artigo “Justiça de transição para juiz, procurador e Fantástico por assassinato de reputação”, descrevi dois assassinatos de reputação infames: um, a prisão dos quarenta funcionários do BNDES; outro, a criminalização de um funcionário aposentado do BNDES, visto como agente infiltrado da JBS.
Em toda empresa em que o BNDES se torna sócio, ganha o direito de nomear um membro no conselho de administração. O BNDES nomeou um funcionário aposentado. Era um representante do BNDES na JBS. Os procuradores informaram o Fantástico que se tratava de um representante da JBS para influenciar o BNDES. O funcionário era apicultor. Simularam uma entrevista com ele, sobre abelhas, para o apresentarem como criminoso para dezenas de milhões de pessoas. Quando percebeu a armadilha, o funcionário virou as costas e saiu indignado. E a câmera acompanhando, registrando a fuga do “criminoso”. Não foi em passado remoto. Foi outro dia mesmo, 21 de maio de 2017.           
De repente, um procurador vazio, ignorante em relação a questões básicas de mercado, a ponta de não saber o papel de um membro de conselho de administração, se torna fonte preferencial da mídia para assuntos de mercado.
Passou a defender head hunters para os cargos de diretoria do banco. Qual seria o comportamento de um executivo, contratado do mercado, ante a investida do presidente do banco, afetando diretamente os interesses da instituição?
Nem o culpe. Era apenas um frangote em um terreiro em que os galos bons, Rodrigo Janot e José Eduardo Cardozo, abdicaram de sua responsabilidade de comandar e orientar.

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