segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Em época de trevas, um trágico conto de Natal brasileiro: O que faz um maçom grau 33 junto a corruptos? Texto de Armando Coelho Neto, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol


Há interesses obscuros e paralelos por trás da tramoia contra o patrimônio e soberania nacional.

O que faz um maçom grau 33 junto a corruptos? Conto de Natal

por Armando Rodrigues Coelho Neto, no GGN

Nada é exatamente o que é. Parece depender de interpretação. Por vezes é preciso mudar de posição e linguagem, trazer tudo para o mesmo plano, para saber o que algo possa ser. Corrupção é um bom exemplo. Corrupção não parece ser corrupção. Verbetes da web dizem que corrupção corresponde à ideia de decomposição, desvio, conduta errática. Na lei, seria suborno, fazer algo em troca de vantagem – dinheiro, prestígio etc. O que está corrompido sofreu desvio de finalidade. Desviar seu sentido corrompe a própria palavra corrupção. Isso é manipular sentido. Aprofundar essa ideia? Nem pensar!
Corrupção corrompida não é um jogo de palavras. Corromper esse sentido é ser corrupto. Os heróis corruptos do Brasil dão a essa palavra o sentido que lhes convém. O atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, por exemplo, dá a essa palavra o sentido que lhe convém. Daí não vê corrupção nas revelações feitas pelo The Intercept. Vê corrupção na forma (divulgação) e, cinicamente se defende com uma frase do laboratório eleitoral da quadrilha do Bozo: “não vou comentar matéria produto de crime”. Mas, curiosamente, comentou matéria produto de crime, quando ele próprio deixou vazar áudios editados (manipulados) da Presidência da República. Moro não vê corrupção nisso nem nas suas relações promíscuas com o Ministério Público para fraudar sentença contra Lula.
Como encantador de burros, Moro virou ídolo fingindo combater a corrupção. Dos outros, claro! A sua e da Farsa Jato como um todo seguem impunes. A título de combater a corrupção (dos inimigos), quebrou empresas, defendeu a aprovação de lei que legitimasse tudo de errado que fez. Quis até criar seu próprio AI 5, legislando em causa própria. Suas centenas de conduções coercitivas foram declaradas ilegais pelo STF. Se seus atos de ofício em processo que já não presidia passam batidos. Nada disso foi ato corrompido? Corrupção?
O TRF 4, enquanto manto sagrado que dá selo de garantia, legalidade e canonização das falcatruas do ex-juiz, nada vê de errado no acima exposto. No vale tudo para condenar Lula, até deu munição ao movimento de sem-terra e sem-teto, ao aceitar a tese de que a propriedade é de quem ocupa. O TRF-4 correu contra o tempo para tornar Lula inelegível. Furou a fila dos processos, e de quebra, onde estava escrito pode, o TRF leu deve (prender antes da última instância). Já quando o STF decidiu que o réu deve ser o último a ser ouvido, o TRF4 discordou.
(Fato inovado invalida sentença. Assim o diz a doutrina, assim o disse o STF. Ninguém pode ser condenado por fato do qual não se defendeu. Há, no mínimo cerceamento de defesa e nulidade presumidas. Tudo “normal” nesse limiar de fascismo em que se pretende alterar cláusula pétrea por meio de lei).
O moralismo corrupto não vê corrupção na leitura corrompida da Constituição Federal. Não vê conduta errática seja em Moro, seja na sua caixa de ressonância (TRF4). O jeton de Sérgio Moro há tempos é conhecido. Ganhou cargo de ministro, notoriedade, promessa de vaga no STF e a simpatia do seu chefe (Trump). Tudo combinado bem antes, conforme o vice Mourão. Qual o jeton do TRF4? Que promessa aleatória inespecífica ganharia? Não se sabe, por enquanto.
Fato: para “combater” a corrupção, corromper o ordenamento jurídico é válido. Se os fins justificam os meios, posso concluir que roubar, se é que Lula roubou para tirar milhões de brasileiros da miséria, também é válido, não? Há muita subjetividade corrompida na ideia de corrupção, por parte da corrupção oficial. O Brasil emprestar dinheiro para construir um porto em Cuba é corrupção. Entregar parte do território nacional (Alcântara) para o Trump em troca de nada não é corrupção.
Há interesses obscuros e paralelos por trás da tramoia contra o patrimônio e soberania nacional, não vistos na Globo, que sequer vê corrupção nela, como suposta sonegadora de imposto. Nem nos pretensos trambiques sobre os direitos de transmissão das Copas do Mundo da vida. O JN não viu corrupção no kit gay anunciado por Bozo no JN, que a Globo, mesmo podendo, nunca desmentiu.
O JN nunca viu mão dupla na corrupção e falava de corruptos sem corruptores. Alguns desses corruptos, supostos anunciantes dela própria. Tratava o tema como quem fala de homossexuais passivos como se não houvesse ativos – se é que essa metáfora apelativa faz algum sentido ou é politicamente correta. O STF está intimado a decidir conforme a opinião que ele próprio, via Moro em conluio com a Globo, ajudou a formar. Assim segue o golpe, e quem nunca assumiu o golpe não vai assumir a fraude da eleição presidencial de 2018.
Concluindo, corrupção virou a leitura corrupta feita por corruptos, sobre qualquer ato assinado pelo Partido dos Trabalhadores. Apenas isso. Nesse contexto corrupto de moralismo sem moral, não sei o que faz um maçom grau 33 (Mourão), ladeado de tantos corruptos, sob a névoa de mistérios da Casa 58 no Condomínio Barra Pesada, nem sob o lodo do tráfico de drogas na aeronave da Presidência.
Melhor escrever um conto de Natal: era um homem humilde nascido numa estrebaria. Seu “trabalho” era apenas tentar formar consciência, pregar amor ao próximo, igualdade; condenava a exploração do homem pelo homem, questionava o mercantilismo nos templos. Como Seu “trabalho” não gerava lucro poderia ser tratado como vadio, vagabundo. Preso e condenado quedou-se livre. Suas ideias cruzaram séculos. Até hoje é um forte nome nas pesquisas de opinião…
Corrupção? Presto mais atenção nos juízes do que no rótulo de “condenado”.
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

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