segunda-feira, 16 de março de 2015

Quem comanda a nau da insensatez?

  "Não existe possibilidade legal de se revogar o mandato de um governante que se tornou impopular, e esse não é o caso do governo Dilma. Não existe possibilidade legal de se revogar o mandato de um governante que apresenta maus resultados econômicos, e esse, mais uma vez, não é o caso do governo Dilma. Se houvesse essa possibilidade, FHC teria sido retirado do cargo antes do término do seu 2º mandato."

Quem está no leme da nau da insensatez?

O acontecimento deste fim de semana de manifestações que embaralhou as cartas do nosso jogo político foi a CUT, a UNE e o MST terem tingido a Avenida Paulista de vermelho. Ele também dá a dimensão do risco da mão que está sendo jogada. Tudo de que não precisamos é de um “croupier” temerário.
É de golpe que se está falando.
Por Sérgio Saraiva
Quando a imprensa mainstream, repercutindo pessoas tais como FHC, deixa transparecer que o impeachment da presidente Dilma é uma possibilidade de transição democrática, ainda que extrema, em função de uma deterioração da sua capacidade de governabilidade, é de golpe que se está falando.
Não existe possibilidade legal de se revogar o mandato de um governante que se tornou impopular, e esse não é o caso do governo Dilma. Não existe possibilidade legal de se revogar o mandato de um governante que apresenta maus resultados econômicos, e esse, mais uma vez, não é o caso do governo Dilma. Se houvesse essa possibilidade, FHC teria sido retirado do cargo antes do término do seu 2º mandato.
A Lei 1.079 de 1950, a "Lei do Impeachment", não deixa dúvidas: um presidente só perde o mandato se julgado e condenado pelos crimes de responsabilidade definidos nessa própria lei. Se alguém se interessar, o texto da lei está aqui.
E, havendo provas desse crime, qualquer cidadão pode denunciar a presidente perante a Câmara dos Deputados. Hoje, nas manifestações em São Paulo, havia 210 mil que poderiam fazê-lo. Mas com provas de delitos de responsabilidade, jamais apenas com uma insatisfação manifesta.
Logo, quando nutrem na população a ideia de que manifestações populares contra o governo podem servir de argumentos para um impeachment, é de golpe que estão falando.
Mas esse golpe agora teve seu preço muito elevado.
Onde encontrar os espaços de convivência?
Que a Globo é uma especialista na promoção de eventos não há dúvida. O carnaval, o campeonato brasileiro de futebol e a São Silvestre são exemplos do que é capaz de fazer em termos de organização de grandes públicos. E a audiência de suas novelas há décadas é exemplo de como é capaz de criar produtos que prendam a atenção desse público e o convença a consumi-los. Que tem capacidade de obter patrocínio financeiro para tais eventos é coisa que as contas bancárias de seus controladores reafirmam alguns milhões de vezes.
Que, com tal capacidade de organização e patrocinadores de peso, ainda que não nomeados, seria colocado um grande público nas manifestações de 15 de março era algo em relação ao qual também não havia porque se duvidar. Foram 210 mil pessoas na Paulista, rapidamente transformados em 1 milhão com a ajuda da contagem enviesada realizada pela polícia do Alckmin.
A grande surpresa, no entanto, deste fim de semana de manifestações é a CUT, a UNE e o MST, entre outros movimentos, terem tingido a Avenida Paulista de vermelho. Foram, em uma sexta-feira chuvosa e de dia útil, 41 mil pessoas que a contagem enviesada da polícia do Alckmin transformou em apenas 12 mil.
Independente dos números e de suas diferenças, o fato é que houve muita gente nas ruas dos dois lados. Esse é o tamanho do risco a ser administrado.
Povo na rua derruba governo, sim. Mas depois de um penoso processo de desgaste.
Que gerem na nossa burguesia a esperança que podem colocar o governo Dilma abaixo no grito é uma irresponsabilidade, a partir do momento em que os movimentos sociais de apoio a esse governo se redescobrem capazes de, com uma estrutura muito menor, também arregimentar multidões.
Em 1964 não foi diferente em termos de radicalização popular, mas, então, os canhões tomaram uma posição em favor de um dos lados. Não me parece que haja clima para esse tipo de desempate.
Logo, teria que vir das nossas lideranças políticas a negociação que encontrasse os espaços de convivência democrática que nos permitisse a transição de 2015.
A oposição, apoiada pelos meios de comunicação de massa, está radicalizando a situação à espera de um impossível terceiro turno. A situação, aparentemente a reboque dos acontecimentos, foi surpreendida mesmo pelas ruas ao seu favor. No Congresso, seus líderes estão lutando para escapar da Lava Jato, e, nesse caso, a radicalização política poderia ser-lhes até útil como uma perversa cortina de fumaça.  E o Judiciário, tomado de ira santa que, não raro, transborda em voluntarismo.
Onde estão nossos líderes?

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