"No fundo, tudo não passa de um jogo. Grupos de mídia são empresas com interesses comerciais, políticos e uma influência sobre o chamado mercado de opinião muitas vezes colocada a serviço de grupos econômicos ou políticos.
É quase infinita a capacidade do “homo boobus” se deixar influenciar. Do diretor Sidney Lumet, o filme “Rede de Intrigas” tornou-se um clássico, especialmente na cena em que um âncora ensandecido (Peter Finch) coloca uma cidade inteira a gritar das janelas dos apartamentos."
O texto a seguir é de Luis Nassif e foi retirado do Jornal GGN/Luis Nassif Online:
O “homo boobus” e a capivara de Eduardo Cunha
SEX, 13/03/2015 - 06:00
ATUALIZADO EM 13/03/2015 - 06:00
Tenho um amigo, maestro em cidades do interior.
Ontem ele colocou no seu Facebook um protesto devido ao fato dele e seus músicos não terem
recebido o combinado de alguma prefeitura. Não deu detalhes maiores.
Seu desabafo ficou coalhado de comentários que explicam o nível atual da discussão política.
De Jops – Esta é a tal pátria educadora que prometeram e estão fazendo exatamente o contrário.
De Clineide – ridícula essa situação que aliás condiz com a esfera federal e seus desmandos horrendos.
De Pedro Moacyr – um sistema político que não zela pela sua história, suas tradições e sua raça está fadado ao fracasso.
De Patrícia – Este é o Brasil do PT.
De João Mattoso – Este é o nosso país! Você é mais um a falar sobre incoerências, descasos, injustiças, que passaram a fazer parte da nossa vida.
De Luiza – Valorizam políticos hipócritas, desvalorizam professores e artistas.
As manifestações do próximo dia 15 contarão com a participação do chamado “homo boobus”, ou homem inferior, como era denominado o leitor médio de jornais nos anos 20 pelo notável cronista H. L. Mencken – autor do clássico “O livro dos insultos”. E dos quais se têm bons exemplos acima.
Ao longo da sua história, os veículos de comunicação de massa lograram trabalhar com dois recursos complementares em cima do “homo boobus.”
O primeiro poderíamos chamar de O Mito do Vampiro. Trata-se de desenhar os adversários como monstros invencíveis, ameaçadores, sem nenhuma característica humana.
O segundo é o Mito dos Homens Bons. Nesse caso, são construídos personagens campeões da ética e da moralidade, que defenderão a sociedade dos vampiros.
No fundo, tudo não passa de um jogo. Grupos de mídia são empresas com interesses comerciais, políticos e uma influência sobre o chamado mercado de opinião muitas vezes colocada a serviço de grupos econômicos ou políticos.
É quase infinita a capacidade do “homo boobus” se deixar influenciar. Do diretor Sidney Lumet, o filme “Rede de Intrigas” tornou-se um clássico, especialmente na cena em que um âncora ensandecido (Peter Finch) coloca uma cidade inteira a gritar das janelas dos apartamentos.
Não é muito diferente o que ocorreu nos últimos dias com panelaços e outras bobagens. É evidente que Dilma Rousseff conseguiu implodir o segundo governo em poucos meses e merece toda sorte de crítica técnica – sem descambar para esse discurso de fim de mundo que não corresponde à realidade.
Pior é a maneira como está sendo poupado o notório Eduardo Cunha, presidente da Câmara – que, ontem, recebeu apoio vergonhoso de deputados de todos os partidos, em suas verrinas contra o Ministério Público Federal.
Eduardo Cunha é conhecido desde os tempos de PC Farias. Sua vida é uma enorme capivara, com processos por todos os lugares por onde passou. A ex-vereadora Cidinha Campos (do Rio) chegou a denunciar relações dele com o traficante Abadia. Na Câmara, tornou-se o escoadouro de todos os lobbies econômicos.
O pior resultado da polarização política atual foi sua ascensão. E a maior prova de que, para os jornalões, denúncia não é instrumento de aprimoramento: é apenas uma arma em defesa de interesses.
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