quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Cunhistão: Uma fábula moderna




Era uma vez uma raposa muito esperta que havia sido eleita líder de um grupo de raposas, quase por unanimidade.

Para suas apoiadoras, a raposa-líder era como uma deusa: conseguia planejar sucessivas invasões bem-sucedidas de galinheiros, proporcionando um banquete às suas comandadas.

Para suas opositoras, nem tanto: elas eram obrigadas a ficar no final da fila nas invasões e tinham de se contentar com os restos do banquete.

Essas raposas perceberam algo errado com a raposa-líder: ela parecia estar engordando muito, nos últimos tempos. Uma das opositoras resolveu seguir a raposa-líder, um dia, sem ser vista. E descobriu que ela possuía um galinheiro particular, administrado pelas raposas da própria família.

Guardou a informação comprometedora e, na primeira reunião, denunciou a raposa-líder ante todo o grupo de raposas.

A raposa-líder jurou inocência. Então, a líder das opositoras sugeriu que todas as presentes a acompanhassem imediatamente até o local do crime, para se certificar da validade da denúncia, não dando tempo para que a raposa-líder escondesse as evidências.

Quando lá chegaram, comprovou-se a verdade.

A maioria das raposas, escandalizada com a falta de solidariedade da raposa-líder, exigiu a sua renúncia imediata. Mas ela alegou ter sido eleita legitimamente e que só poderia perder a função ao final do devido processo.

E assim foi feito. No dia em que as raposas votariam pela cassação ou não da raposa-líder, ela pediu a palavra.

— Caras amigas raposas, tenho uma importante notícia a dar. Fiz um acordo com os leões e… combinamos uma ação que, tenho certeza, será do agrado de todas.

Fez-se o suspense entre as raposas.

— Quando eu assim lhes ordenar, eles comerão todos os donos dos galinheiros desta região. Feito isso, nós cuidaremos dos galinheiros para todo o sempre.

Um murmúrio crescente de surpresa, admiração e júbilo seguiu-se a essa fala.

— Mas há uma condição.

O murmúrio cessou. A atenção era total.

— Vocês terão de esquecer o meu galinheiro particular e me tomarão como líder para o resto da minha vida.

De início, houve um silêncio constrangedor. Então, uma das raposas gritou:

— Apoiado!

E logo os gritos de apoio se tornaram mais numerosos e fortes, dominando todo o lugar da reunião.

– Então vamos à vitória!, gritou a raposa-líder.

Poucos segundos depois, suas apoiadoras a carregavam em triunfo, fazendo uma espécie de volta olímpica.

Ao final da reunião, a líder das opositoras se encontrou com a raposa-líder. E confessou, desolada:

— Eu não entendo. Não esperava esse comportamento delas. Tinham jurado que votariam pela cassação.

E a raposa-líder, com olhar matreiro, sentenciou:

— Miga, só você ainda não sabe que, para quem não tem caráter, os fins justificam os meios.

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Está fábula é dedicada:

À jornalista da GloboNews que virou cheerleader de bandido.

Ao âncora-vampiro que, afinal, sorriu, ao festejar a ação de um achacador, corrupto, sonegador e chantagista.

E a todos aqueles que foram às ruas exigir a queda da Presidenta porque eram “contra a corrupção”, e hoje apoiam o corrupto-mor da República.


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