"Em suas memórias, Wainer fala dos jornais de então e você parece estar lendo coisas sobre os jornais de hoje. As mesmas táticas golpistas, a mesma avidez em derrubar um governo fora de seu controle, a mesma brutalidade nos métodos desonestos de manipular a opinião pública. Wainer conta sobre o que ele chama de “Conspiração do Silêncio”. Ela residia, como sugere o nome, em silenciar sobre as coisas boas do governo e berrar ininterruptamente denúncias, fundadas ou não."
texto de Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo
Acabo de reler, décadas depois, Minha Razão de Viver, o livro de memórias do jornalista Samuel Wainer.
A conclusão doída a que cheguei é que de Vargas a Lula (e Dilma) o Brasil não mudou virtualmente nada.
É notável a semelhança entre a caçada que a plutocracia fez a Getúlio, entre 1950 e 1954, e a que faz agora contra Lula e Dilma.
Wainer acompanhou o cerco a Getúlio de uma posição privilegiada. Era um jornalista e amigo de extrema confiança de GV.
Na tentativa de criar um contraponto ao massacre ininterrupto da imprensa, Wainer, com o aval de Getúlio, criou o primeiro e mais relevante jornal popular brasileiro: a Última Hora.
Em suas memórias, Wainer fala dos jornais de então e você parece estar lendo coisas sobre os jornais de hoje.
As mesmas táticas golpistas, a mesma avidez em derrubar um governo fora de seu controle, a mesma brutalidade nos métodos desonestos de manipular a opinião pública.
Wainer conta sobre o que ele chama de “Conspiração do Silêncio”. Ela residia, como sugere o nome, em silenciar sobre as coisas boas do governo e berrar ininterruptamente denúncias, fundadas ou não.
Um exemplo: durante anos seguidos, a Petrobras cresceu fabulosamente. Não foi notícia. Quando a Petrobras entrou em crise, como de resto todas as companhias de petróleo do mundo, isso virou primeira página de todos os jornais e revistas.
Wainer fala no “analfabeto político”, aquele que vê qualquer coisa no jornal e acha, automaticamente, que é verdade. Saiu na Folha, ou no Estadão, ou no Globo? Batata.
Jamais foi difícil, para os barões da imprensa, manobrar os crédulos. Getúlio, um estrategista brilhante, tentou se defender do ataque incessante da mídia com um novo jornal progressista.
A Última Hora foi um sucesso extraordinário, mas era um lutador contra uma matilha. Wainer foi objeto de uma perseguição feroz: queriam fechar o jornal apenas porque ele não nascera no Brasil.
Ele veio para o país aos dois anos. Cresceu no Bom Retiro e se tornou tão brasileiro quanto você e eu. Mas o fato de haver nascido na Bessarábia virou o argumento pelo qual a direita, liderada por Lacerda, tentou destruí-lo.
Você nota que motivos ridículos para massacrar alguém, como cerveja e uma canoa de lata, não são uma novidade na cena política nacional.
A maior diferença entre os dias de Vargas e estes nossos é a existência de uma coisa que barão da imprensa nenhum tem o poder de controlar: a internet.
Sites independentes como o DCM e as redes sociais funcionam como um contraponto imensamente mais poderoso do que a Última Hora foi mesmo em seu melhor momento.
Não há mais como manter uma “Conspiração do Silêncio”. A internet não deixa.
Assuntos que a imprensa ignora, como a abjeta Paraty House dos Marinhos, acabam chegando ao conhecimento de milhões de brasileiros pelos sites independentes e pelas redes sociais.
Críticas a protegidos da mídia como o juiz Sérgio Moro multiplicam-se na internet, o que permite a muitas pessoas formar um juízo que não tenha como base apenas a opinião dos donos de jornais e revistas.
De Getúlio a Lula e Dilma, o Brasil continua o mesmo sob um aspecto, repito: a plutocracia continua a sabotar a democracia.
Fica claro nas memórias de Wainer.
O fato novo, e que faz muita diferença, é o florescimento da Era Digital.
Ficou muito mais difícil, se não impossível, os barões da imprensa manipularem os brasileiros como se fôssemos um rebanho de idiotas.
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