quarta-feira, 5 de junho de 2019

Roberto Campos Neto, Paulo Guedes e o fundamentalismo supersticioso no Banco Central que criou o monstro da dívida pública, por Luis Nassif



Repito: não há a menor possibilidade da economia sair da recessão, com pessoas do nível de Campos Neto e Paulo Guedes à frente.

Do Jornal GGN:



A entrevista do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto aos repórteres Alex Ribeiro, Sérgio Lamucci e Cristiano Romero, é a comprovação final do travamento que a cegueira ideológica impôs ao debate econômico.
Roberto Campos, avô, era um liberal empedernido, mas, enquanto Ministro, se movia com sentido prático na solução de problemas. Sabia chutar a gol.
Em economia, o multiplicador fiscal mede os impactos da alteração dos gastos governamentais sobre a renda nacional. Ou seja, para cada 1 real de aumento nos gastos, de quanto será o aumento na renda, devido aos efeitos sobre o consumo.
Trata-se de um indicador relevante para balizar políticas econômicas.
Vamos ver como Roberto Campos, o Neto, trata o tema.

A fábula do avião

Eu sempre uso o exemplo do avião. Imagine que uma turbina é o mundo privado e a outra é o mundo público. Eu vou desligar a turbina do mundo público, mas, com credibilidade, vou ligar a turbina privada e vai ter uma transferência de energia de uma para a outra, ou de potência, e o avião vai continuar na mesma velocidade. A transferência de uma para a outra se dá na confiança, na credibilidade. A gente olha os índices de confiança, que até caíram recentemente, mas eles estavam relativamente altos. Isso dava a certeza de que, bom, o público vai desligar, mas com o novo governo, com credibilidade, com uma agenda positiva, essa energia, essa potência, vai se transferir. Isso não ocorreu na forma esperada.
Mas o sonho esbarra na vil realidade. E o pobre Roberto Campos Neto bate a cara na montanha:
E há um tema que a gente tinha olhado no passado e acho que cresceu em importância. É difícil de quantificar, e a gente está olhando muito aqui.
Valor: Qual?
Campos: É a complementaridade entre o setor público e o setor privado. A gente está tentando fazer um trabalho para quantificar isso. Quando você conversa com os diversos setores, entende que muitos setores ao longo desses últimos anos passaram a fazer negócios com o governo de um modo ou de outro. A complementaridade entre o público e o privado subiu muito.
Ele está, obviamente, se referindo ao multiplicador fiscal. E comprovando que deve ser maior que um, a julgar por suas observações. Mas, ao perguntar, os repórteres usaram a palavra maldita: fiscal. E Campos Neto corre para explicar que o gato que eles estão vendo, tem rabo de gato, pelo de gato, mia, mas não é gato.
Campos: Eu não chamaria de multiplicador [fiscal], eu diria a dependência do mundo privado no mundo público maior do que a gente imaginava. Eu não gostaria de falar de multiplicar fiscal porque fiscal tem outras implicações. Mas eu diria que essa complementaridade, olhando hoje, é bastante alta.
E qual o tamanho dessa dependência, que na ciência econômica é chamada de multiplicador fiscal?
É, a gente está tentando quantificar e ver mais ou menos qual é o impacto. O diretor Carlos [Viana, de Política Econômica] está trabalhando nisso, mas o importante para a gente é mostrar que há esse efeito e que esse efeito se mostra mais importante do que a gente achava no passado (…) Se tem alguma indústria, alguma área produtiva, que estava fazendo negócios ou com Estados ou com municípios, também teve um impacto é muito grande. Teve essa trombada fiscal, essa parada no motor público muito rápido, acho que isso também explica parte…
Alvíssaras! Finalmente a autocrítica de um homem público racional, que se baseia em dados da realidade para admitir a importância de uma política fiscal pró-ativa?
Mas não pode mexer no fiscal. Então se mexe nos juros, não? Também não.
Eu vou chegar nos juros, mas o papel dos juros hoje – na verdade, não é dos juros, é da credibilidade. O que a gente precisa ter é credibilidade. Saindo um pouco do tema do crescimento, indo para o tema do papel do BC, o principal papel do BC é ter credibilidade, manter os preços constantes, manter a inflação sob controle, com credibilidade, e ancorar a inflação num período mais longo.
Se baixar a taxa Selic, mesmo com as expectativas de inflação absolutamente sob controle, vai que as expectativas mudem. Então se mantém as taxas de juros, se mantém a política fiscal, se mantém a economia em recessão e o desemprego em níveis recordes. Porque, assim, haverá a retomada da confiança do empresariado e a segunda turbina do avião começará a funcionar, mas cavando buraco na terra, porque até lá o avião terá caído por insuficiência de combustível.
No céu ou no inferno, Roberto Campos, o Avô, deu uma cambalhota.
Repito: não há a menor possibilidade da economia sair da recessão, com pessoas do nível de Campos Neto e Paulo Guedes à frente.

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