Do Jornal GGN:
Conexão entre agentes de segurança do RJ e máfias que controlam o jogo do bicho vem dos tempos da ditadura
A rede hierárquica das milícias combina ex-militares da época da ditadura e bicheiros, em uma teia de influências e interesses que desenham o panorama singular das milícias no Rio de Janeiro e a relação com os porões da ditadura.
Convidado do programa TV GGN 20 Horas, no Youtube [assista abaixo], o jornalista Rafael Soares, em seu livro recém-lançado, “Milicianos: Como agentes formados para combater o crime passaram a matar a serviço dele”, explica que na época da ditadura militar, já havia uma conexão entre os agentes de segurança do Rio com as máfias que “controlavam e controlam até hoje o jogo do bicho e as máquinas caça níqueis”, o que ilustra a relação entre a contravenção e a período de repressão.
Um dos personagens que exemplificam a conexão é o conhecido capitão Guimarães, ou Ailton Guimarães Jorge, ex-militar brasileiro e fundador da Liesa e escolas de samba. “Um dos grandes bicheiros da alta cúpula do bicho”.
“O cara era agente da repressão na ditadura, atuava para o [jogo do] bicho, virou bicheiro. Um dos grandes nomes do bicho. Assim como ele, existem vários. E essa prática, esse uso de agentes públicos pelo crime organizado, acabou sendo arraigada e mais profunda do que em outros estados”.
Estudioso do tema há dez anos e morando no Rio, Soares analisa em seu livro que as milícias do estado tiveram e ainda têm esse destaque porque produz criminosos em série, justamente pela política de segurança do Rio ter heranças da ditadura, uma política de confronto, e “é uma política que acabou produzindo mão de obra para o crime”.
O paralelo com a morte de Adriano da Nóbrega com a ditadura
Os porões da contravenção também estão ligados à figura de Adriano da Nóbrega. O jornalista Sérgio Ramalho contou ao GGN sobre as investigações que deram origem ao livro “Decaído: a História do Capitão do Bope Adriano da Nóbrega e Suas Ligações com a Máfia do Jogo, a Milícia e o Clã Bolsonaro”.
Morto em 2020 após o assassinato da ex-vereadora e ativista Marielle Franco, tornando-se um dos principais suspeitos de envolvimento no crime, as circunstâncias que envolvem a morte de Nóbrega traçam um paralelo com regimes autoritários.
“Adriano não era conhecido como o chefe de um grupo de matadores. Ele tinha se tornado uma figura muito conhecida nesse subterrâneo do crime no Rio, no jogo das milícias desses grupos paramilitares e dessas relações com grupos políticos. Então, ele já era conhecido, tanto que quando eu conto essa história da ameaça, de ele ter sido contratado para contratar uma pessoa para matar, já mostrava ali um um viés do que ele já vinha fazendo, ele já não era simplesmente o cara que ia apertar o gatilho, ele também já contratava, ele já tinha terceirizado parte disso”.
Ramalho cita ainda as investigações do caso, que desde o início já foram conturbadas pelas divergências entre policiais, entre a delegacia de homicídio e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
“Um dos pontos principais do levantamento foi o depoimento gravado com o Orlando Curicica, preso numa penitenciária federal. O Orlando Curicica tinha sido citado numa história meio que bolada, depois a própria PF aponta que aquela versão apresentada [cai], que até acusavam um outro vereador do RJ, Marcello Siciliano como mandante e o Orlando Curicica como o contratante dos matadores. Me cai por terra essa investigação. Mostra-se que isso teria sido forjado para incriminar um outro grupo e tirar o foco do que estaria por trás. O Adriano aparece o tempo inteiro, e até a morte dele ele não era conhecido como o chefe de um grupo de matadores”.
Assista as entrevistas completas abaixo:
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