'Produção petrolífera de orientação nacionalista, queda de juros e PAC rumo à Rota da Seda são determinantes para o Brasil', escreve o colunista César Fonseca
O cerrado cerco neoliberal do mercado financeiro, que dá, hoje, as cartas na política do petróleo, no âmbito da Petrobrás, impondo-lhe orientação antinacionalista, com apoio total da mídia conservadora, alinhada às petroleiras internacionais, favorecidas pela mudança de rumo imposta pelos golpistas de 2016, empurra Lula para a orientação oposta, nacionalista, na defesa do PETRÓLEO É NOSSO, como fator fundamental de união nacional e mobilização popular.
As bandeiras lulistas desenvolvimentistas em 2024, de resistência ao neoliberalismo, são, portanto, a soma de fatores indispensáveis à Industrialização nacional, cuja nova fase é lançada nessa segunda feira: 1 – produção petrolífera sob orientação nacionalista, 2 – queda taxa de juros Selic e 3 – PAC rumo à Rota da Seda.
Politicamente, trata-se de 3 determinantes decisivos para promover união nacional, envolvendo orientações ideológicas convergentes ao desenvolvimentismo, seja esquerda, direita, centro-esquerda e centro-direita.
Exclui-se dessa orientação, apenas, o radicalismo fascista ultradireitista apoiado pela financeirização econômica da Faria Lima, organicamente, antidesenvolvimentista e antinacionalista.
NOVO TEMPO
O presidente, em Pernambuco, deu a partida à nova estratégia nacionalista, que levantou a ira dos inimigos da Petrobrás, ao defender investimentos nas refinarias projetadas pela estatal petroleira; tal postura lulista representará desafio ao Congresso de maioria conservadora, que ficará entre dois polos: de um lado, a mobilização popular pelo PETRÓLEO É NOSSO, alavancado pelo discurso pró-investimento em refinarias, e, de outro, o cerco dos inimigos, capitaneado pela mídia direitista ultraneoliberal anti-Brasil.
Sem apoio no legislativo, no mercado financeiro e na mídia, Lula será obrigado a buscar apoio nos que historicamente sempre se constituíram nos exércitos de defesa da empresa criada por Getúlio Vargas, ou seja, o poder popular, força motriz desenvolvimentista.
A história comprovou esse apoio das massas ao nacionalismo varguista, logo que se suicidou como gesto político de resistência contra os que chamou de inimigos do interesse nacional.
Os adversários de agora da nacionalização do petróleo, que se iniciou em 1938, logo depois da Revolução de 1930, consolidando-se com a criação da Petrobrás em 1953, que levaria Getúlio ao suicídio em 1954, são os mesmos de sempre, alinhados aos interesses das petroleiras internacionais, em especial as americanas, fechadas com os barões da mídia tupiniquim(Globo, Estadão, Folha).
ARMA DE RESISTÊNCIA
A contenção dos adversários foi possível, nos anos de 1950 em diante, graças à campanha nacionalista do PETRÓLEO É NOSSO, ultrapassada, no entanto, a partir dos anos 1980, pelo neoliberalismo, conduzindo, na Era FHC, pelo Consenso de Washington.
A consolidação da orientação washingtoniana se daria, praticamente, com o golpe de 2016 que derrubou Dilma Rousseff e colocou no poder o presidente entreguista Michel Temer, do MDB.
De lá para cá, a empresa, sob comando neoliberal, abandonou planos de investimentos antes impulsionados pelos governos petistas de Lula e Dilma, para adotar política de preços antinacionalista e prioridade não aos investimentos, mas à distribuição de dividendos aos acionistas privados, sintonizados com a política de desinvestimento e privatizações.
Nessa situação vantajosa para os privatistas neoliberais se encontra a empresa nesse momento, incomodada pelo novo discurso nacionalista lulista.
A orientação presidencial de retomada de investimentos em refinarias, certamente se desdobrará em políticas de preços de interesses do consumidor e da indústria nacional, para ser mais competitiva na exportação que será favorecida por estímulos tributários.
Trata-se de opção fundamental em lugar da que vigora de isentar de impostos a exportação de produtos primários e semielaborados(lei Kandir) que destrói a Federação e bloqueia a industrialização.
Lula visou, essencialmente, no seu discurso, as vantagens comparativas desenvolvidas pelo nacionalismo petroleiro varguista-lulista capaz de garantir a alavancagem da indústria brasileira, graças ao acelerado desenvolvimento científico e tecnológico colocados a serviço da produção e da produtividade.
A reversão histórica não está fora de cogitação: o PT e o PTB, sob orientação nacionalista, autorizado a renascer pela justiça eleitoral, podem se unir e criar o neonacionalismo latino-americano.
ALIANÇA DOS INIMIGOS INTERNO E EXTERNO
O poder midiático conservador, serviçal dos interesses dos que defendem o status quo petroleiro tupiniquim pós-golpe neoliberal de 2016, reagiu a uma só voz contra os propósitos lulistas.
A arma que empunhou foi a de tentar ressuscitar a Operação Lava Jato que nasceu, justamente, para defender a privatização da Petrobrás, armando, em sintonia com Departamento de Justiça dos Estados Unidos, arapucas jurídicas para condenar a estatal brasileira e suas aliadas prestadoras de serviços de engenharia.
O molde de ação que o imperialismo acostumou adotar se espalhou: judicialização internacional.
Como as poderosas multinacionais do mundo, que fazem concorrência com as multis americanas, são registradas nas bolsas de valores dos Estados Unidos e, por isso, respondem, em escala global, à legislação dos Estados Unidos, pagam tributos exorbitantes; são punidas, implacavelmente, com elevadas multas ao fisco americano pelas ações dos procuradores do Departamento de Justiça, cuja prioridade é o interesse do capitalismo de Tio Sam, em primeiro lugar; american first!
O Modus Operandi de Tio Sam está minuciosamente descrito no livro “Arapuca estadunidense: uma Lava Jato Mundial”, Editorial Kotter, 2021, dos autores franceses Frédéric Pierucci e Matthiei Aron.
Eles detalham os mecanismos de ação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos para judicializar a ação contra a multinacional Alstom, gigante francesa da energia nuclear, eletricidade e transporte, maior concorrente da General Eletric no mundo.
As arbitrariedades praticadas pela justiça americana se exorbitam por meio de discricionarismo imperialista, destruindo concorrentes, tributariamente; primeiro, levam os concorrentes dos americanos à prisão, depois, à bancarrota, inviabilizando-os tanto no mercado dos EUA como em todo o mundo.
A Petrobras, registrada nas bolsas americanas, foi alvo de idêntico ataque, graças ao conluio, já descrito por diversos especialistas, entre procuradores americanos e procuradores brasileiros, base operacional da Lava Jato, que impôs à empresa pesadas multas e processos que levaram à prisão funcionários da estatal e diretores de empresas prestadoras de serviços a ela por meio de delações premiadas etc.
CONTRA ATAQUE DE LULA
Lula, no impactante discurso nacionalista em Pernambuco, para anunciar retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, elogiou a atuação histórica de Getúlio Vargas e denunciou, de cambulhada, a corrupção jurídica armada entre a Operação Lava Jato e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, para destruir a Petrobrás.
O titular do Planalto está, agora, diante de fogo cruzado que deseja ver a sua caveira: de um lado, os financistas da Faria Lima, que estão faturando alto com a política de distribuição de dividendos, que bloqueia investimentos e impede crescimento econômico e industrialização nacional; de outro, a mídia venal, aliada dos privatistas, com a intenção clara de inviabilizar o PAC e a governabilidade lulista; é o mesmo processo que derrubou Dilma.
Nesse sentido, Lula está forçado a reafirmar o nacionalismo, que levanta a ira de Washington, quanto mais obtiver o apoio popular e se aproximar dos que se interessam em investir no PAC lulista, como é o caso da China, expresso na visita do Ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Y.
Lula reforçou apoio à China na sua defesa de Taiwan, por uma só China, em oposição à estratégia neoliberal de Javier Milei, na Argentina, que jogou com o interesse de Washington.
O fato é que, depois do discurso nacionalista em Pernambuco, Lula ampliou contencioso com a Casa Branca, o que do ponto de vista do presidente americano, Joe Biden, o aproxima não dos Estados Unidos, mas da Venezuela de Maduro.
Já o encontro de Lula com o representante de Xi Jinping, desdenhado pela mídia antinacionalista, como se fosse algo de menor importância, deixa muitas interrogações sobre o desenrolar dos acontecimentos envolvendo o tripé Brasil-China-Estados Unidos.
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