Tarcísio repetiu a jogada de Paulo Guedes com precatórios, tirando dos pobres para entregar aos ricos
O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, é administrativamente medíocre. Mostrou no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), transformando-o em balcão de negócios para empresas ligadas a militares. Mostrou-se no Ministério de Infraestrutura de Bolsonaro, deixando as estradas federais na pior condição em décadas, segundo estudos da Confederação Nacional dos Transportes.
No governo de São Paulo tem colocado em prática o aprendizado com o bolsonarismo.
Primeiro, no campo dos grandes negócios ocultos.
No final do ano passado, repetiu a jogada de Paulo Guedes com precatórios, na melhor prática de como tirar dos pobres e entregar aos ricos. De um lado, deixou atrasar precatórios do estado – em geral precatórios alimentícios. De outro, fez aprovar uma lei permitindo o pagamento de ICMS com precatórios.
O jogo é simples. Apertado, o pequeno titular de precatórios vende seus direitos com enormes deságios – que chegam a 50%. O escritório de advocacia ou instituição financeira adquire e vende, depois, para empresas quitarem seus débitos em ICMS.
Foi o mesmo método adotado pelo ex-Ministro Paulo Guedes: de um lado, atraso no pagamento de precatórios; de outro, abertura para sua utilização em negócios públicos. É uma versão um pouco mais sofisticada da famosa “caixinha de Ademar”, utilizada pelo ex-governador Ademar de Barros.
O segundo ponto é no aparelhamento da Polícia Militar. Em editorial de hoje, após uma abertura elogiando Tarcísio, a Folha trata o fato como se fosse um mero caso de empreguismo na área pública. Não se deu conta que se trata de uma corporação armada, da qual foram expelidos todos os comandantes legalistas e aberto espaço para transformação uma corporação de Estado em uma milícia.
Os massacres de Guarujá precedem a milicialização da PM de São Paulo, da mesma maneira como ocorreu no Rio de Janeiro. E de modo semelhante ao da rebelião da PM do Ceará, contida de modo quase heróico por Cid Gomes.
A reação de Tarcísio às críticas – “não estou nem aí” – ou sua menção ao suposto apoio que recebeu de empresários da baixada santista demonstram claramente sua intenção. Sem controle algum do Ministério Público Estadual, sem limites impostos pela Justiça paulista, o que impedirá setores da PM de se aliarem a organizações criminosas, como ocorre no Rio de Janeiro?
A enorme burrice institucionalizada do país – e da mídia – impede qualquer análise prospectiva, mesmo em temas óbvios. O carro, sem freios, caminha em direção ao abismo, e ficam todos olhando, aparvalhados. Quando despenca é aquele frenesi: como aconteceu?
O terceiro ponto de Tarcísio foi tirar a gratificação de professores que trabalham em áreas críticas e, pior que isso, acabar com o apoio que o Estado dava a alunos com deficiência na rede escolar. Havia uma seleção de apoiadores, com cursos de pedagogia, incumbidos da assistência a todas as crianças com deficiência na sala de aula.
Um dos grandes avanços civilizatórios brasileiros – a educação inclusiva – foi transformado em ação familiar: família que quiser, tem que pagar pela pessoa que irá apoiar seu filho, sem ter a menor orientação sobre quem está apto ou não a apoiar.
Repito o que já disse em outros momentos: Tarcísio é a maior ameaça à democracia, maior até que Bolsonaro. Primeiro, por ser genuinamente oriundo do segmento militar. Depois, por não ter o histrionismo de Bolsonaro. Terceiro, porque terá o apoio de parte da mídia para convencer a população de que ele é dom Sebastião da Terceira Via.
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