Do Canal de Samuel Borelli:
A CHACINA PATROCINADA POR CLAUDIO CASTRO destroçou a conjuntura e embaralhou a agenda nacional. Senão vejamos. Até o final de semana, Lula reinava absoluto nas redes e mídias, a partir da reunião com Donald Trump, na Malásia. Nada se sabia de concreto acerca das negociações e o jogo sequer começara, mas o campo gravitacional petista já cantava vitória a plenos pulmões. As exaltações se davam em torno da postura corporal e da maneira de sentar do presidente brasileiro diante do líder do Império. A “química” entre ambos foi depositada na conta de Lula e de seu inegável talento negociador. Mensagem implícita: depois dessa, as eleições presidenciais do ano que vem seriam um passeio.
NA TERÇA-FEIRA, A CARRUAGEM começou a virar abóbora. Sem lideranças nacionais viáveis e momentaneamente desarticulado, o extremismo reacionário jogou sangue no ventilador. Apesar disso, essa gente conta com capilaridade social, maioria parlamentar, sólidos apoios externos, e representantes no próprio governo.
O BESTIAL MASSACRE, impulsionado pela métrica de “narcoterrorismo” e animado pela vitória eleitoral de Milei no domingo, implodiu o esquema petista. Narcoterrorismo é termo utilizado pelo trumpismo para justificar a ofensiva militar contra Venezuela e Colômbia, provocação sobre a qual Lula pouco se pronuncia.
A FRÁGIL HEGEMONIA de uma vaga ideia de soberania dá lugar à mais do que concreta matança, com direito a sinais de tortura e cabeças cortadas. Uma ação alucinante, mal planejada e letal enquadra parte da grande mídia, várias alas do PT (Quaquá, Rui Costa e outros governadores e lideranças regionais) e a base aliada no Congresso (Alcolumbre puxa a fila).
O PRESIDENTE LULA, que não entra em bolas divididas, decidiu se calar e colocou seu ministro da Justiça à frente das trincheiras. Ricardo Lewandovsky, apesar do sólido currículo acadêmico e de sua experiência como ministro do STF, não é homem da política, nada tem a ver com esquerda e carece de habilidade de articulação. Apesar da PEC da Segurança Pública tramitar no Congresso e propor integrar as políticas de segurança pública dos estados e municípios com a União, o governo revela-se incapaz de lidar com situações de emergência que não sejam aprofundar o ajuste fiscal. De olho em sondagens nas redes, que mostram ligeira maioria da opinião pública favorável à matança, a administração federal se rende ao senso comum. Notas do presidente da República e da ministra de Direitos Humanos parecem saídas da pena de Rolando-Lero. Nada dizem e não defendem ou se contrapõem a nada ou a ninguém. A extrema-direita percebe a deixa e vai para o embate: nove governadores declaram apoio ao celerado do Palácio Guanabara.
DESLOCADO PARA O RIO DE JANEIRO, o ministro da Justiça é a personalização do recuo ao conceder entrevista ao lado de Claudio Castro, anunciando ações conjuntas. A cena entrará para a história como uma perfeita tradução de capitulação política (é sintomático que no mesmo momento o governo aprovava na Câmara um pacote com cortes de R$ 15 bilhões em programas sociais). Se já não existe polarização nos pressupostos dos projetos econômicos de governo e oposição – com graus e intensidades distintos ambos advogam o binômio austeridade & privatização -, uma frente ampla se completa na mal-denominada política de segurança. Castro mata e o governo federal fala em endurecer a legislação, sancionando proposta de Sergio Moro (!) aprovada no Congresso. Consenso nacional, enfim!
DISPUTA DE HEGEMONIA a quente é isso: o fascismo consegue fazer a opinião pública crer que sua sede de sangue representa a defesa dos interesses gerais da sociedade. “Paz e porrada”, na admirável síntese de Washington Quaquá, prefeito de Maricá e vicepresidente nacional do Partido dos Trabalhadores, é o que o Brasil precisa. A extrema-direita desloca a barbárie para o centro da agenda eleitoral. Levará a faixa quem se mostrar mais troglodita contra pobres, pretos e periféricos, em ações tão espetaculares quanto inúteis para a segurança pública.
NA TERÇA (28), O MINISTRO Lewandovsky produziu uma inesquecível pérola em coletiva no Ceará: “O problema do crime organizado é que ele é organizado”. Poderia completar com “Enquanto isso, nós batemos cabeça”. Daqui até outubro de 2026, o fascismo, empoderado internacionalmente, seguirá tumultuando o processo eleitoral. A pior maneira de encarar esse caminho será ir à luta de salto alto.
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
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Reinaldo: Romaria macabra da extrema direita ao Rio prova a matança político-eleitoreira
Do Brasil 247:
Operação policial na favela da Penha, no Rio de Janeiro - 28 de outubro de 2025 (Foto: REUTERS/Aline Massuca)
As cenas brutais da megaoperação policial nos Complexos do Alemão e da Penha, a mais letal da história do Rio de Janeiro, são o retrato do colapso de uma política de segurança pública que insiste em confundir eficácia com violação ao Estado Democrático de Direito. O que se vende como “combate ao crime” é, na prática, um projeto político de poder sustentado pela violência e pela morte: a necropolítica.
Essas operações não têm planejamento, inteligência nem resultados. São encenações trágicas que buscam transformar o medo coletivo em apoio eleitoral. É o populismo punitivista em sua forma mais cruel: o Estado que aparece nas favelas não para garantir direitos, mas para exibir cadáveres como troféus.
A cada incursão, o crime organizado volta mais forte. Os “chefes” de morro, facilmente substituídos, não são o elo mais forte de uma cadeia que termina nos gabinetes refrigerados da elite econômica e política — os verdadeiros donos do crime, blindados pela impunidade e por conexões com o poder. Enquanto isso, os corpos que tombam são, quase sempre, de jovens negros e pobres.
Não há política de segurança pública possível sem a observância dos direitos fundamentais da população. A favela continua sendo território abandonado: sem escola decente, sem saneamento, sem oportunidades. O Estado que deveria garantir serviços e dignidade chega apenas de fuzil em punho.
Ao deixar um vazio de cidadania, o poder público abre espaço para que o crime organizado se torne o “Estado paralelo” — oferecendo transporte, gás, lazer e até crédito. Nas comunidades, o tráfico preenche o vácuo deixado por décadas de omissão estatal. Cada caveirão que entra destrói pontes, sem construir nada em seu lugar.
Enquanto as forças locais seguem no ciclo da bala, a recente Operação Carbono Oculto, conduzida pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público de São Paulo, mostrou o que é resultado efetivo: desarticulou a máfia dos combustíveis e as fintechs usadas pelo PCC para lavar bilhões de reais — sem disparar um único tiro. E vale observar que a operação não foi na favela, mas na Faria Lima.
É por esse caminho que o país precisa seguir: rastrear o dinheiro, atingir o topo da pirâmide criminal e enfraquecer suas estruturas econômicas. O verdadeiro combate ao crime se faz com investigação, cooperação institucional e investimento em inteligência, não com tanques em vielas e helicópteros atirando sobre escolas e casas.
Isso não significa que mais cedo ou mais tarde, algum enfrentamento territorial não seja necessário. Mas ele deve ser precedido pela fragilização econômica das facções e pela articulação entre as forças de segurança, sob coordenação da União, uma vez que o crime organizado já ultrapassou há muito as fronteiras estaduais.
Nesse sentido, é fundamental a aprovação da PEC da Segurança Pública, que busca integrar forças e priorizar a inteligência, é um passo importante, mas insuficiente se não vier acompanhada de políticas de inclusão.
A violência cotidiana é o sintoma de um Estado que trocou o social pelo policial.
O que falta não é mais bala — é mais Estado. Um Estado presente, que garanta educação, emprego e cultura. Que dispute corações e mentes com o crime organizado oferecendo dignidade, emprego e renda, e não caveirões, balas e mortes.
Enquanto o poder público continuar ausente e a pobreza for tratada como inimiga, o ciclo da barbárie seguirá se repetindo — aplaudido por quem confunde vingança com justiça e sangue com poder.
Do Canal de José Kobori:
O problema de segurança pública afeta sempre as classes mais pobres. No vídeo de hoje, José Kobori faz uma reflexão sobre a Megaoperação Policial Contra o Crime Organizado no Rio de Janeiro.
(...) Depois de planejar e pôr sua contenção nas ruas e posta a trágica contabilidade, o governador do Rio, Cláudio Castro, buscou culpar quem não foi chamado para esta operação. Disse: "O Rio está sozinho" e confessou como o governo federal não aceitou pedidos anteriores para operações de garantia da lei e da ordem, as GL, em outras ocasiões, abre aspas para o governador. "Desta vez não foram pedidas forças federais", fecha aspas. Portanto, sem solicitar ajuda federal.
O governador Cláudio Castro lançou 2.500 policiais civis e militares numa caçada humana com inevitável resultado, trágico, catastrófico. (...)
Do Canal do analista político Bob Fernandes:
Do Jornal GGN:
Ofensiva da ultra-direita tenta classificar facções como terroristas para justificar ações extraconstitucionais e cooperação com EUA.
Foi a operação mais desastrada da história de uma polícia historicamente violenta. Na última contagem 64 mortos, dos quais quatro agentes de segurança, mais de 80 presos e um governador perdido.
No início, Cláudio Castro quis passar a impressão de uma ação preparada durante meses.
A operação mobilizou 2.500 agentes, tendo como alvo líderes do Comando Vermelho. Segundo ele, a ação foi planejada para ocorrer majoritariamente em áreas de mata, para minimizar riscos aos moradores das comunidades.
Castro declarou que o estado está “sozinho nessa guerra” e que o governo federal teria negado apoio ou participação nas operações, incluindo o uso da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), instrumento constitucional para participação das Forças Armadas.
No decorrer do dia, uma a uma, suas declarações foram sendo desmentidas pelos fatos. Nunca houve pedido de GLO (Operação de Garantia da Lei e da Ordem).
O que ocorreu foi a morte da médica da Marinha Gisele Mendes, em dezembro de 2024, atingida por uma bala perdida dentro do Hospital Naval Marcílio Dias, na Zona Norte do Rio. Na ocasião, a Marinha colocou blindados cercando o hospital, para proteger a área, dentro do limite legal de 1.400 metros em torno de instalações militares.
Em janeiro de 2025, Castro formalizou pedido ao Ministério da Defesa, solicitando blindados da Marinha. Mas a Advocacia Geral da União indicou que o uso de blindados só poderia ocorrer no contexto de uma GLO.
O que está por trás dessa chacina é algo mais grave. Trata-se de uma ofensiva dos governadores de ultra-direita, tentando caracterizar uma situação de caos para enquadrar as organizações criminosas em organizações terroristas.
A designação abre caminho para que as agências de segurança norte-americana tratem a organização como “ameaça à segurança nacional” e utilizem instrumentos de contraterrorismo, como interceptações, ligações com iniciativa militar ou forças especiais.
Também dá legitimidade política para que o Estado invoque quadro de “emergência nacional” em que ações extraordinárias podem ser justificadas.
Veja o que diz a Rand Corporation, um think tankl especializado em pesquisa aplicada em temas de segurança nacional, política internacional, defesa:
“Designar esses grupos como terroristas disponibiliza novas ferramentas legais e políticas que podem ser a chave para deter as ambições de expansão global das organizações criminosas transnacionais (…).
“A nova designação de terrorismo confere ao governo dos EUA autoridade legal para processar indivíduos que auxiliam ou trabalham para essas organizações, mesmo que esses indivíduos estejam localizados fora das fronteiras dos EUA”
E o que diz a Casa Branca?
“As atividades dos cartéis ameaçam a segurança do povo americano, a segurança dos Estados Unidos e a estabilidade da ordem internacional no Hemisfério Ocidental. Suas atividades, proximidade e incursões no território físico dos Estados Unidos representam um risco inaceitável à segurança nacional dos Estados Unidos (…)
É política dos Estados Unidos garantir a eliminação total da presença dessas organizações nos Estados Unidos e sua capacidade de ameaçar o território, a segurança e a proteção dos Estados Unidos por meio de suas estruturas extraterritoriais de comando e controle, protegendo assim o povo americano e a integridade territorial dos Estados Unidos”.
Portanto não é coincidência que, no momento em que a aproximação de Donald Trump com Lula desarma o discurso bolsonarista, Flávio Bolsonaro sugerindo aos EUA bombardear a baía da Guanabara.
Governadores de perfil conservador estão tentando reclassificar facções como grupos terroristas, o que teria implicações jurídicas e diplomáticas:
Cláudio Castro usou o termo “narcoterrorismo”.
Romeu Zema (MG) e Tarcísio de Freitas (SP) apoiam a equiparação legal.
O deputado Danilo Forte (União Brasil) apresentou projeto de lei para classificar facções como terroristas.
O governo do Rio enviou relatórios aos EUA tentando incluir o CV como grupo terrorista.
Nos próximos dias, o Rio de Janeiro viverá uma guerra civil, com a polícia e o CV procurando vingar seus mortos. E com a constatação óbvia de que a maioria das vítimas não tinha relação com o Comando Vermelho.
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Uma investigação do DCM revela ligações entre as campanhas eleitorais de Nikolas Ferreira a cartéis de combustíveis, indivíduos condenados e investigados por crimes econômicos e fraudes fiscais em Minas Gerais.

Por trás da trajetória meteórica de Nikolas Ferreira, da favela Cabana do Pai Tomás em Belo Horizonte ao Congresso Nacional em Brasília, parece ocultar-se muito mais que um suposto fenômeno de redes sociais.
Enquanto a ultradireita o celebra como prova de meritocracia de um jovem de periferia e a esquerda atribui sua ascensão ao poder da ultradireita nas redes sociais, as conexões que apadrinharam Nikolas Ferreira permanecem ofuscadas por explicações óbvias.
Uma extensa investigação do DCM envolvendo fontes, documentos eleitorais, judiciais e contratos privados do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) revela uma rede de relações com indivíduos envolvidos em atividades ilícitas/ em Minas Gerais na sua ascensão politica.
De partida, o maior doador individual da campanha de Nikolas Ferreira é Ronosalto Pereira Neves, empresário do grupo varejista Mart Minas, que confessou envolvimento em esquema de repasses ilícitos relacionados ao ex-senador Aécio Neves e à JBS. Investigado em 2018 na Operação Ross da Polícia Federal.
Ronosalto admitiu ter realizado uma “transação financeira” a pedido de Joesley Batista que gerou R$ 1,1 milhão em dinheiro vivo—montante retirado diretamente em sua empresa por gerente da JBS, conforme reportagem do jornal O Globo.
Mas essa não é a única aliança obscura em sua ascensão política. Em suas campanhas eleitorais, Nikolas Ferreira utilizou-se repetidamente de endereços e infraestrutura fantasma de um arranjo societário com várias empresas condenadas por ilícitos contra a ordem econômica na maior operação contra cartéis de postos de combustíveis da história de Minas Gerais.
A Operação Mão Invisível resultou na condenação em 2019 de diversas empresas desse grupo no esquema que ficou conhecido como “Máfia do Combustível”: uma rede corporativa ilícita envolvida em cartel, fraudes, manipulação de preços, sonegação fiscal e outras operações ilegais.
Seus sócios também foram autuados pessoalmente por fraudes fiscais pelo Conselho de Contribuintes de Minas Gerais e por uma série de ilícitos, incluindo manipulação de bombas de combustíveis, sonegação de impostos, fraude de livros contábeis e fiscais, gerenciamento de caixa oculto entre outros ilicitos.
Para além destas condenações, os mesmos indivíduos se encontram atualmente também sob investigação criminal, sob sigilo do Ministério Público de Minas Gerais.
Documentos de prestação de contas eleitorais e contratos privados revelam que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) estruturou suas campanhas de 2020 para vereador e de 2022 para deputado federal em um endereço peculiar em Belo Horizonte: Avenida Silva Lobo, 667.
Trata-se de um posto de gasolina desativado há anos, uma espécie de lote abandonado em estado de evidente deterioração e sem qualquer infraestrutura. Em 2022, junto com o deputado estadual Bruno Engler (PL-MG), Nikolas inaugura ali o que chamaram de “QG Bolsonaro”, a sede de suas campanhas.
Esse espaço que pertenceu ao antigo posto Jéssica. Desde 2013, encontra-se registrado formalmente como um novo posto: o Veneto Comércio de Combustíveis Ltda (CNPJ 19.446.904/0001-73), com atividade econômica declarada de “comércio varejista de combustíveis”. Entretanto, desde seu novo registro, o posto Veneto nunca chegou a operar, constando somente em contratos sociais e registros junto a Receita.
“Este posto nunca funcionou realmente, existindo apenas a estrutura física completamente desativada e abandonada, inclusive sem bombas. Qualquer morador da região sabe disso. Esse registro era só no papel para alguma finalidade que desconhecemos, ” relatou uma das fontes ao DCM.
Ao investigar quem são os proprietários do Posto Veneto cedido a Nikolas em todas as suas campanhas, tem-se algo mais perturbador que um posto inativo/fantasma: os sócios da Du Pape Empreendimentos.
Uma série de documentos oficiais de órgãos de controle demonstra que o “grupo empresarial” proprietário da Du Pape Empreendimentos S.A., controlado por Ciro Augusto Bergomi Picarro e Augusto Joaquim Picarro, acumula histórico consistente de práticas ilícitas organizadas no mercado de combustíveis em Minas Gerais, envolvendo desde fraude fiscal, manipulação fraudulenta de bombas de gasolina e caixas clandestinos.
Documentos da Advocacia-Geral da União e do CADE revelam que outros postos ativos controlados na atualidade pelos sócios da Du Pape — o Posto Fórum Ltda (CNPJ 02.879.461/0001-01), o Posto Floramar Ltda (CNPJ 20.159.968/0001-72) e o Posto Brilhante Ltda (CNPJ 25.822.974/0001-81) — foram alvos da Operação Mão Invisível, condenados por formação de cartel, uma das infrações mais graves à ordem econômica.
A Operação, de magnitude sem precedentes em Minas Gerais, foi deflagrada pela força-tarefa da Polícia Federal, Ministério Público de Minas Gerais, Agência Nacional do Petróleo e CADE.
Não se sabe se os sócios da Du Pape eram os proprietários originais desses três postos à época da condenação ou se adquiriram deliberadamente CNPJs já investigados por cartel — hipótese que também levantaria questionamentos, pois, no direito brasileiro, a sucessão empresarial implica a transferência de passivos e dos efeitos administrativos e civis da condenação — incluindo multas, sanções econômicas e restrições impostas por órgãos como CADE, ANP ou pelo fisco estadual.
Assim, a transferência de CNPJs, aquisições e reorganizações societárias nesse contexto poderia eventualmente indicar aparente finalidade de ocultação.
Contudo, a Procuradoria Federal Especializada junto ao CADE concluiu a existência de “cartel hardcore“: uma formação de crime econômico organizada, estável e coordenada de manipulação de preços, com monitoramento e punição de quem não obedecia às regras sob risco de represálias comerciais ou isolamento no abastecimento, atuando com práticas típicas comumente associadas ao crime organizado; arranjos societários de faixada que operam por práticas corporativas ilícitas. É a partir dessa rede corporativa ilícita, segundo registros públicos e documentos de campanha, que Nikolas Ferreira estruturou toda suas bases eleitorais.
O processo CADE nº 08700.010769/2014-64, em 2019, impôs multas a esses três postos de combustíveis de Belo Horizonte por infração à ordem econômica e cartelização de preços.

Na esfera federal, o CADE enquadrou os três postos por conduta coordenada no varejo de combustíveis — e a régua do dano veio em negrito: Posto Floramar Ltda., multa de R$ 1.136.338,07; Posto Brilhante Ltda., R$ 860.855,20; e Posto Fórum Ltda., R$ 556.976,18.
A conta não parou no carimbo: com atualização e execução, os valores inflaram no passivo — o Floramar aparece com R$ 1.606.713,85 em dívida ativa; o Brilhante, R$ 1.217.197,60; e o Fórum figura com saldo remanescente de R$ 787.530,90.
No âmbito estadual, o Conselho de Contribuintes de Minas Gerais concluiu pelas fraudes operacionais: entradas e saídas desacobertadas de ICMS/ST, manipulação de encerrantes (os totalizadores das bombas) e descumprimentos no SPED.
O pacote sancionatório veio completo — imposto devido, multa de revalidação e multas isoladas — com destaque para o Acórdão 25.141/25/3ª (28/02/2025), que tornou o lançamento procedente contra o Posto Floramar e alcançou os administradores Ciro Augusto Bergomi Picarro e Augusto Joaquim Picarro. Blindagem societária, aqui, virou papel de seda.
É, neste particular, mais uma vez, que chama a atenção que o Posto Veneto, sede das campanhas eleitorais de Nikolas Ferreira, tenha se originado diretamente do antigo Posto Jéssica — estabelecimento também condenado por cartel de combustíveis pelo CADE e que ainda se encontrava em fase de investigação no momento em que foi adquirido pela empresa Du Pape e rebatizado como Veneto.
Por outro lado, já sabidamente como sócios administradores dos postos,o Conselho de Contribuintes de Minas Gerais (CCMG) responsabilizou pessoas físicas de Ciro Augusto Picarro e Augusto Picarro por fraude fiscal deliberada e organizada, com dolo e simulação para mascarar operações e reduzir indevidamente o pagamento de tributos.

Os dois foram pessoalmente coobrigados pelos ilícitos praticados nos postos sob seu controle, que incluíam sonegação, adulteração de registros de venda com o propósito deliberado de ocultar o volume real de combustíveis e manutenção de caixas paralelos.

Em junho de 2024, a situação se agravou, o Ministério Público de Minas Gerais abriu o Procedimento Investigatório Criminal (PIC) nº 02.16.0079.0054569/2023-29, voltado a infrações de ordem econômica e tributária. Entre os representados estão Ciro e Augusto Picarro e a própria Du Pape Empreendimentos S.A.
As intervenções políticas e campanhas massivas de desinformação em mídias sociais de Nikolas Ferreira contra os mecanismos de regulação e fiscalização financeira do Estado desenham e geram claros questionamentos acerca de um quadro inquietante de interferência quando contrastados com suas associações com pessoas e arranjos societários persistentemente envolvidos em infrações de alta gravidade e extensão a ordem econômica. Seria acidental essa infiltração na política de “empresas” operando mediante um padrão de práticas ilícitas e fraudes, coordenadas e persistentes?
O primeiro aspecto que chama atenção nos documentos é o formato jurídico escolhido para o aluguel do imóvel da Avenida Silva Lobo, 667.
Nas campanhas de 2020 e de 2022, Nikolas Ferreira formalizou a ocupação por meio de um “CONTRATO DE LOCAÇÃO RESIDENCIAL”, apesar de se tratar de um espaço comercial entre dois CNPJs e com uso declarado como exclusivamente de comitê eleitoral, ao custo de R$ 10.000,00 em cada campanha (vereador em 2020 e deputado federal em 2022).
É sintomático o fato de outro político aliado, com histórico consistente de atuação pró-interesses de postos de combustíveis e intensas campanhas de desinformação a esse respeito, o deputado estadual Bruno Engler (PL-MG), ter se tornado beneficiário do contrato de Nikolas Ferreira com a Du Pape. Nikolas firma um contrato de cessão de uso gratuito de comitê eleitoral beneficiando Engler.

Engler é notório por seu engajamento militante em campanhas pela redução de impostos sobre a gasolina e outros derivados.
Ele foi autor de projeto de lei para alterar a base de cálculo do ICMS para combustíveis em Minas Gerais para favorecer os operadores de postos de gasolinas. Engler também impulsionou uma série de campanhas com informações falsas nas redes sociais sobre o preço dos combustíveis nos governos Bolsonaro e Lula e na própria Assembleia de Minas Gerais, desmentidos pelo Estado de Minas.
O jurista ouvido pela reportagem explica que as regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) exigem que a despesa esteja condizente com o objeto contratado e devidamente comprovada, inclusive por questões de transparência quanto à finalidade do gasto e à regularidade tributária do imóvel e da real natureza contratual.
Se as investigações da Operação Mão Invisível já haviam revelado a engrenagem criminosa de cartel e fraude fiscal que alimentou o império no setor de combustíveis, uma nova camada do mesmo enredo expõe a face socialmente mais corrosiva dessa estrutura: a violação sistemática dos direitos trabalhistas.
Documentos do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (TRT-MG) comprovam que Ciro Augusto Bergomi Picarro e Augusto Picarro acumulam mais de 180 processos trabalhistas ativos em Belo Horizonte, Contagem, Betim e Nova Lima — um número que, por si só, os colocam entre os grandes litigantes individuais demandados na Justiça do Trabalho em Minas Gerais.
Esse dado transforma a percepção de Ciro Picarro e de Augusto Picarro de um meros empresários sob investigação tributária e já condenados em dezenas de processos trabalhistas em algo mais profundo: agentes econômicos estruturalmente devedores, cuja operação empresarial se mantém por meio da inadimplência reincidente e deliberada de obrigações salariais e previdenciárias.
Segundo a fonte do DCM, inclusive, nenhum dos postos de gasolina, possuem ativos para quitar as suas dívidas, sendo necessário, até mesmo, buscar penhora de “gasolina” para tentar honrar as obrigações trabalhistas devidas aos empregados.
As ações relatadas envolvem, em sua maioria, não pagamento de verbas rescisórias, FGTS e contribuições previdenciárias, além de dispensas sem quitação e execução frustrada de sentenças — configurando o padrão clássico de quem utiliza sucessões empresariais e encerramentos formais para mascarar o mesmo núcleo de gestão.
Essa dimensão trabalhista reforça o que o próprio Conselho de Contribuintes de Minas Gerais já havia apontado no âmbito fiscal: a presença de dolo e simulação na condução das empresas ligadas aos Picarro. A reincidência em esferas distintas — fiscal, econômica e trabalhista — revela uma consistência delituosa, onde a fraude não é acidente, mas método.
O deputado Nikolas Ferreira operou uma campanha massiva de desinformação em suas redes sociais, atacando o Pix e a regularização fiscal, incentivando deliberadamente o uso de dinheiro vivo.
Em publicações de tom alarmista, o parlamentar distorceu sistematicamente a Instrução Normativa nº 2.219/2024 — que ampliava o envio de informações agregadas por fintechs para fins de fiscalização, com o objetivo de combater fraudes e lavagem de dinheiro.
Nikolas alegava, de forma maliciosa e alarmista, que haveria “fiscalização indiscriminada” de Pix e contas, o que gerou pânico artificial.
A repercussão contribuiu, de acordo com autoridades de forma decisiva para inviabilizar a norma, que justamente visava coibir esquemas de lavagem de capitais e sonegação fiscal — representando uma vitória direta para estruturas criminosas que dependem da opacidade financeira para operar.
A ironia se tornou evidente quando a Operação Carbono Oculto expôs a sofisticada infiltração do PCC no sistema financeiro formal, confirmando precisamente os riscos que a norma criticada e que Nikolas buscou inviabilizar a sua aprovação pretendia mitigar. O conteúdo desinformativo do deputado voltou a circular.
Em face dessa campanha, o deputado Rogério Correia (PT-MG) protocolou, em agosto de 2025, na Procuradoria-Geral da República, uma notícia-crime solicitando a abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar quatro possíveis crimes cometidos por Nikolas Ferreira: divulgação de informações falsas ou incompletas sobre instituições financeiras (art. 3º da Lei 7.492/1986), favorecimento indireto à lavagem de dinheiro (Lei 9.613/1998), obstrução de investigações de organizações criminosas (Lei 12.850/2013) e até mesmo associação para o tráfico de drogas (Lei 11.343/2006), caso se comprove vínculo entre a desinformação disseminada e a movimentação de recursos ilícitos do PCC.
A peça argumenta que o resultado objetivo de sua conduta beneficiou concretamente organizações criminosas, independentemente da existência de vínculo direto, ao sabotar mecanismos de rastreamento financeiro.
Resta saber se as autoridades investigarão a fundo essas conexões com os carteis de combustíveis e doadores opacos— ou se Nikolas Ferreira continuará operando na interseção conveniente entre discurso antissistema e interesses do submundo financeiro.
Cláudio Castro, o bolsonarista necropolítico, e a tentativa de salvar a extrema direita por meio de chacinas no Rio de Janeiro

O governo do estado do Rio de Janeiro enviou, há cerca de oito meses, ao governo de Donald Trump um relatório que, segundo fontes ligadas ao governador Cláudio Castro (PL), aponta o Comando Vermelho (CV) como uma organização terrorista com ramificações e atividades nos Estados Unidos. De acordo com informações da CNN Brasil, o documento foi elaborado pela área de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e entregue diretamente ao Consulado dos Estados Unidos no Rio de Janeiro.
O relatório detalha como a facção teria expandido suas operações para a América do Norte, descrevendo também a estrutura de comando e o uso sistemático da violência no território brasileiro. O objetivo, de acordo com interlocutores próximos ao governador, é reforçar a cooperação com autoridades estadunidenses no combate à facção e pleitear sanções econômicas contra as lideranças do Comando Vermelho.
Essas punições seriam aplicadas pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), vinculado ao Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, responsável por congelar bens e restringir transações financeiras de pessoas ou grupos considerados ameaças à segurança nacional.
Caso a medida fosse aprovada, bancos e empresas que mantivessem qualquer tipo de vínculo financeiro com integrantes do CV também poderiam ser alvo de penalidades internacionais.
O envio do relatório coincide com a política adotada por Trump desde o início de seu mandato atual, que prevê o enquadramento de cartéis e organizações ligadas ao tráfico internacional de drogas como Organizações Terroristas Estrangeiras (FTOs, na sigla em inglês).
Essa diretriz é a mesma que embasa as recentes operações militares estadunidenses contra grupos narcotraficantes na Venezuela e na Colômbia.
Em paralelo, o governo brasileiro mantém uma posição diferente. A gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconhece o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) como organizações criminosas de alta periculosidade, mas rejeita classificá-las como terroristas.
A avaliação do Planalto é de que os crimes cometidos por essas facções não têm motivação ideológica, religiosa ou política, requisitos previstos na legislação brasileira para enquadramento no crime de terrorismo.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, abordou o tema na semana passada e destacou que a classificação de grupos terroristas é complexa e frequentemente subjetiva. “Normalmente, a classificação de um grupo ou de uma pessoa como terrorista envolve certo grau de subjetividade”, afirmou.

Para o ministro, a lei brasileira estabelece critérios específicos que diferenciam o terrorismo do crime organizado.
“Para evitar esse subjetivismo, a nossa legislação estabeleceu que grupos terroristas são aqueles que causam grave perturbação social ou política e que têm uma motivação ideológica, entre outros critérios. Isso é diferente das organizações criminosas. Elas são mais fáceis de identificar, porque praticam crimes previstos no Código Penal e em outras legislações específicas. Não têm relação com o terrorismo. São organizações de outra natureza. Não há, portanto, qualquer intenção de confundir esses dois conceitos”, declarou.
Além do impacto político e diplomático, especialistas alertam que a eventual inclusão do Brasil na lista de países com organizações terroristas reconhecidas oficialmente poderia gerar sérios efeitos econômicos. Isso colocaria o país sob maior vigilância financeira internacional, dificultando investimentos e operações bancárias externas.
O governo estadual do Rio não comentou oficialmente o teor do relatório enviado aos Estados Unidos, mas aliados de Cláudio Castro afirmam que o movimento faz parte de uma tentativa de ampliar o intercâmbio de informações e ações conjuntas com órgãos estrangeiros, diante da crescente atuação transnacional das facções brasileiras.
Sobre o necropolítico bolsonarista Cláudio Castro e a tática do caos da extrema-direita:
Do Portal do José:
Reinaldo Azevedo sobre Fascistas bolsonaristas da extrema direita e a necropolítica aplicada no Rio de Janeiro de Cláudio Castro