segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Barroso achava que era Rui Barbosa mas virou “D. Solange” da censura. Por Fernando Brito



 "(...) ele mostrou que está disposto a mandar “às favas os escrúpulos de consciência” e assumiu plenamente o papel de “cassador” dos direitos políticos de Lula."



Publicado originalmente no Tijolaço
POR FERNANDO BRITO, jornalista e editor do blog Tijolaço
O ministro Luiz Roberto Barroso já mostrou que é o candidato mais forte ao posto de Jarbas Passarinho do século 21.
Também ele mostrou que está disposto a mandar “às favas os escrúpulos de consciência” e assumiu plenamente o papel de “cassador” dos direitos políticos de Lula.
Agora, vai além e ameaça tirar do ar a propaganda da coligação do PT onde se observe recalcitrância sistêmica e generalizada de um candidato inelegível, sem o abrigo do artigo 16-A, de se fazer presente, das mais variadas e insistentes formas, na propaganda eleitoral paga pelo contribuinte em expediente que se presta a desorientar o eleitorado quanto a aquilo que já decidido pela Justiça Eleitoral”.
O que são “variadas e insistentes formas”?
Lula não aparece como candidato, que é o aquilo proibido pela Justiça Eleitoral – esta, sim, ao arrepio do “abrigo do artigo 16-A” da lei eleitoral – mas como personagem político e apoiador de Haddad, além de personagem que está vivo nos sentimentos do povo e da lembrança de seus governos.
É isso o que Barroso quer proibir.
Sai, então, da posição do ex-ministro do regime militar e baixa à posição de “Dona Solange”. Para quem é mais novo, Solange Teixeira Hernandes, diretora do Departamento de Censura Federal  da PF, era a encarregada de “cortar” palavras e imagens consideradas “inconvenientes”  em músicas e filmes.
Era ela quem decidia o que era  capaz  de “desorientar o eleitorado”. Por exemplo: dizer que “da barriga da miséria, nasci brasileiro”, não podia. E virou “na barriga da miséria, nasci batuqueiro” na música “Deus dará”, do Chico Buarque. Que, aliás, passou a se assinar “Julinho da Adelaide” para, como sugere Barroso, não caracterizar  “recalcitrância sistêmica e generalizada ” do compositor.
Pois é isso que a “Solange togada” encarnada por Luiz Roberto Barroso quer fazer.
Abandona o princípio de que a Justiça tem poder sobre os atos, jamais sobre as opiniões.
Delas, Barroso não é dono e é interessante perguntar se o famoso “cala a boca já morreu” de sua colega Cármem Lúcia vale para Lula e o PT.
Está evidente que o ministro gosta é de uma versão da frase clássica: “quem manda na sua boca sou eu”.

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