quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Leonardo Sakamoto: Bolsonaristas tentam golpe no Legislativo para dar golpe no Judiciário

 

  "A chantagem em si, representada pela ocupação, já seria a antítese da democracia. Mas o conteúdo defendido por eles é extremamente didático para a compreensão da natureza da ação: querem anistia a todos os que tentaram um golpe de Estado entre 2022 e 2023, o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, relator dos julgamentos dos golpistas, e o fim do foro privilegiado para garantir que os processos contra quem tentou um golpe voltem à estaca zero."


Da coluna de Leonardo Sakamoto, no UOL:

Opinião

Bolsonaristas tentam golpe no Legislativo para dar golpe no Judiciário

Sabe o que acontece quando apoiadores de golpistas se vendem como revolucionários? Poderíamos gastar milhares de caracteres discutindo isso do ponto de vista da Ciência Política, mas é mais fácil sugerir aos leitores do UOL que vejam as cenas da invasão bolsonarista das mesas diretoras da Câmara e do Senado hoje para impedir o funcionamento no Congresso enquanto não for votado o que eles querem.


A chantagem em si, representada pela ocupação, já seria a antítese da democracia. Mas o conteúdo defendido por eles é extremamente didático para a compreensão da natureza da ação: querem anistia a todos os que tentaram um golpe de Estado entre 2022 e 2023, o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, relator dos julgamentos dos golpistas, e o fim do foro privilegiado para garantir que os processos contra quem tentou um golpe voltem à estaca zero.


Ou seja, os bolsonaristas estão tentando dar um golpe no Poder Legislativo para poderem dar um golpe no Poder Judiciário e assim limpar a barra dos seus líderes, que tentaram dar um golpe no Poder Executivo.

Se os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, não fizerem o que eles desejam, deputados e senadores da extrema direita apontam que não vão arredar o pé, impedindo a votação de temas importantes como a isenção do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5 mil por mês.


E prometem que, se Motta sair do país, a vice-presidência da Câmara, que está nas mãos de um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, irá colocar a anistia em votação. Se o presidente da casa aceitar isso, estará em conluio com aqueles que tentam transformar o seu mandato na Casa da Mãe Joana.


Jair esticou propositadamente a corda da Justiça, descumprindo as cautelares impostas a ele pelo Supremo Tribunal Federal. Cavou uma decretação de prisão domiciliar, o que vem sendo usado por seus aliados para tocarem fogo no parquinho. A resposta do bolsonarismo mostra planejamento desse processo.


Para além da vitimização, que levou os bolsonaristas a invadirem novamente o Congresso Nacional (quase dois anos e sete meses após a outra invasão, de 8 de janeiro de 2023) e deve levar mais seguidores às ruas nos próximos protestos, a prisão domiciliar pode impulsionar mais sanções contra o Brasil pelos Estados Unidos — com mais ataques às instituições nacionais, mais tarifas e mais problemas aos cidadãos brasileiros.

Nesta quarta (6), passam a valer as tarifas de 50% impostas por Donald Trump aos produtos brasileiros. Mesmo com a grande lista de exceções, as punições ainda causarão desemprego e fechamento de empresas. Entre as justificativas para elas, o governo norte-americano deixou muito claro que está o julgamento de Bolsonaro.

Ou seja, na véspera do tarifaço, a extrema direita resolveu reforçar a chantagem norte-americana contra o Brasil, confirmando que sua lealdade é ao seu grupo político e seu patriotismo a uma família. E não ao país.

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