"Para quem imaginou que a irresponsabilidade na pandemia, o ódio ao meio ambiente, a agressividade contra adversários, o golpismo e o apego ao dinheiro vivo eram o máximo de bizarrice dessas figuras, os acontecimentos dos últimos meses provaram que ainda faltava conhecer outras características abjetas."
Bolsonaro, Trump e a República dos Vermes
A Biologia ensina que existem algumas formas de vida que só são completamente conhecidas quando flagradas em situações excepcionais.
Os vermes, por exemplo.
Sabemos que existem, mas só conseguimos observá-los em detalhes se o fizermos em laboratório, com ajuda do microscópio.
Esse tipo de método, sabemos agora, faz sentido também para os humanos — principalmente para certo tipo de políticos. Sob determinadas circunstâncias, alguns espécimes dessa classe se revelam em sua plenitude. É uma espécie de biologia política.

O ex-presidente Jair Bolsonaro com os filhos Flávio, Carlos, Eduardo e Jair Renan (Foto: Reprodução)
O melhor exemplo é o de Jair Bolsonaro, sua família e seus simpatizantes. Para quem imaginou que a irresponsabilidade na pandemia, o ódio ao meio ambiente, a agressividade contra adversários, o golpismo e o apego ao dinheiro vivo eram o máximo de bizarrice dessas figuras, os acontecimentos dos últimos meses provaram que ainda faltava conhecer outras características abjetas.
Diante da possibilidade cada vez mais concreta de que vá para a cadeia como punição pela conspiração contra as instituições democráticas do Brasil, Bolsonaro resolveu apelar. Bancou a estadia do filho Eduardo nos Estados Unidos, para, com apoio do neto de um ditador do regime militar brasileiro, fazer intenso lobby contra o próprio país junto ao governo norte-americano. O objetivo é que a intervenção de Donald Trump consiga livrá-lo do xilindró.
Esses “patriotas” que atuam contra a própria Pátria para salvar a pele são um caso estarrecedor. A situação extrema revelou a totalidade de sua natureza.
Assim como os vermes, citados no início do texto.
Há mais semelhanças. Pela biologia convencional, vermes são “animais invertebrados, rastejantes ou escavadores com corpos moles”. Pode haver melhor definição para Bolsonaro e sua patota? São espécimes que parecem não ter coluna — algo indispensável para quem quer aparentar um mínimo de dignidade. Se curvam a qualquer um que julguem ter mais poder, seja Putin, Netanyahu ou Trump.
No desespero, Bolsonaro se curvou até a Alexandre de Moraes (“Eu gostaria de convidá-lo para ser vice em 26”).
Esse prazer de rastejar, logo se viu, é amplamente compartilhado por todos os políticos que querem tirar vantagem do bônus eleitoral do bolsonarismo, sem o ônus da imagem negativa que Bolsonaro tem para outros públicos.
A chantagem tarifária de Donald Trump contra o Brasil, influenciada pelo lobby de Eduardo e Paulo Figueiredo, trouxe à luz outros invertebrados.
O governador Tarcísio de Freitas, por exemplo, correu para elogiar a sobretaxa que Trump anunciou para os produtos brasileiros, mesmo com todo o prejuízo que isso causa a empresários e trabalhadores de seu país. Pegou tão mal que ele mudou de posição. Pouco depois, lamentou sem criticar o presidente dos EUA (óbvio). E num segundo momento passou a responsabilizar o governo Lula pelo descalabro trumpista.
A solução sugerida por Tarcísio a uma plateia de farialimers não poderia ser mais sabuja: a capitulação.
“Ele (Trump) vive da economia da atenção. Ele gosta de sentar, botar um chefe de Estado ao lado dele e dizer: ‘olha, consegui uma vitória’. Por que não entregar uma vitória para ele, fazer um gesto?”, declarou candidamente o governador, em meados de agosto.
Outros pretendentes da direita à Presidência seguem o mesmo figurino. Caiado, Ratinho Jr. e Zema culpam a vítima (Lula) e sugerem que o Brasil se humilhe diante do agressor (Trump).
Como não poderia deixar de ser, uma parte da imprensa (felizmente minoritária, dessa vez) também defende a sabujice, a humilhação, e culpa o presidente brasileiro por não negociar com o norte-americano que o ofendeu.
Aí está um efeito colateral positivo que podemos atribuir às turbulências causadas por Bolsonaro e Trump: dotados de “corpos moles”, seres “escavadores” da política brasileira estão agora expostos ao sol.
É a República dos Vermes.
Vistos assim, tão nitidamente, fica evidente que esses políticos são totalmente desprovidos de algo que deveria ser fundamental para a função que exercem: honra.
Essa é mais uma semelhança com os vermes da biologia convencional. A grande diferença é que os seres microscópicos não seguem padrões morais, apenas são o que são.
Já os vermes de gravata, esses sim, são a melhor justificativa para a existência dos vermífugos.
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