Alvo de fúria de "patriotas" ao fazer humor sobre o Rio, o caricato personagem dos EUA não entende os bolsonaristas que apoiam o tarifaço
Do ICL:
Pobre Homer, não está entendendo nada.
O patriarca da família Simpson até deve achar normal, em se tratando de Donald Trump, a interferência da Casa Branca no Brasil.
O que não entra na sua cabeça, aposto, é o fato de uma imensa legião de brasileiros portar bandeira dos EUA em manifestações. E o pior dos piores: apoiar o tarifaço de 50% sobre as nossas exportações.
Homer pode até pensar que se trata de um comportamento suicida induzido por um Jim Jones tropical. Ora, apoiar uma medida que leva ao desemprego e ao desmantelo da própria economia?
Só pode ser coisa de um povo ludibriado por um pastor apocalíptico como naquele episódio macabro de Jonestown. Só pode ser.
Podre e rude Homer. Haja cerveja para tentar pensar melhor e compreender o incompreensível. Não entra na sua cuca a ideia bolsonarista de apoiar o Trump para derrotar o Brasil.
Ora, Homer bebe, mas tem memória. Até 2002, ele recorda, o povo daqui não aceitava nem certas gracinhas de desenho animado tirando onda com o país.
Homer recorda que, por muito menos, os Simpsons provocaram revolta em parte da população brasileira, mexeram com a Xuxa e uniram todas as autoridades contra a intromissão dos norte-americanos.
Parece uma piada do Homer, mas aconteceu na realidade, em abril 2002. Tudo isso por causa do lançamento do episódio “Blame it On Lisa”, título que faz uma paródia com o filme “Blame It on Rio” — “Feitiço do Rio”, na versão nacional exibida nos cinemas.
O desenho animado mostrou uma paisagem carioca repleta de macacos, jiboias e um ambiente violento para os humanos. Sob a alegação de que a cidade teria prejuízos, por causa do episódio, como a redução do número de visitantes, a diretoria da Riotur ameaçou processar na Justiça a produtora Fox Cable International, tv responsável pela série.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, mesmo sem ter visto o desenho, protestou, por intermédio do porta-voz do Palácio do Planalto, contra “as visões distorcidas sobre o Brasil”. Em programas de rádio e televisão ao estilo “povo fala”, brasileiros anônimos também ergueram seu brado retumbante contra a família dos Simpsons.
Exibido no país pelo SBT, o episódio é repleto de clichês sobre a cultura latino-americana: todas as personagens jogam futebol e se deslocam para o trabalho em uma fila ao ritmo da conga. Na “samba school”, os brasileiros aprendem a lambada e a “penetrada”, um ritual que faz com que o sexo se pareça com uma cerimônia religiosa.
Na trama, Homer, o chefe da família, acaba sendo sequestrado por um taxista clandestino (não licenciado pela prefeitura) e vai parar, pasme, lá na Amazônia. Durante o clímax, os cabos do bondinho do Pão de Açúcar arrebentam, causando um grave acidente. Haja aventura no balneário..
O roteiro não perdoa nem a artista Xuxa Meneghel, representada na série pelo personagem “Xoxchitla”, uma famosa apresentadora de um programa infantil chamado “Teleboobies” (literalmente tele-peitos).
Em reação à revolta dos brasileiros, o produtor-executivo do programa, James L. Brooks, divulgou uma nota oficial dizendo: “Pedimos desculpas à adorável cidade e ao povo do Rio de Janeiro. E se isso não resolver a questão, Homer Simpson se oferece para enfrentar o presidente do Brasil no programa Celebrity Boxing da Fox”.
Pobre Homer, não está entendendo nada.
Não entenderá jamais este país que apoia o bolsotrumpismo — com tarifaço e tudo — e fecha questão contra um episódio de humor sobre o Rio de Janeiro.
Cadê o patriotismo que estava por aqui?, reflete Homer, com saudade do Brasil.
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