sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Trump, eleições no Brasil e a ascensão do fascismo neoliberal, por Aline Piva



O fascismo neoliberal é a expressão máxima de uma cultura política que “erode a memória, substitui a emoção pela razão, abraça o anti-intelectualismo” e o individualismo, enquanto, ao mesmo tempo, instrumentaliza medos e preconceitos profundamente enraizados no tecido social.

Por Aline Piva

Não deixa de ser significativo que membros da administração Trump tenham buscado falar com Bolsonaro depois da facadaNão deixa de ser significativo que membros da administração Trump tenham buscado falar com Bolsonaro depois da facada
Muitas vezes, fenômenos aparentemente desconexos, como as políticas de Trump ou os cenários para as eleições no Brasil, podem possuir chaves explicativas comuns. E uma delas é o fenômeno classificado pelo acadêmico canadense Henry Giroux como “fascismo neoliberal”. Para ele, o fascismo neoliberal é caracterizado pela substituição de preceitos básicos do contrato social pela lógica brutal do individualismo, banalizando valores democráticos, e entorpecendo a sensibilidade dos indivíduos com a desgraça coletiva – tudo se resumo a uma questão de trabalhar duro para garantir o seu, e os outros que sofram as consequências de suas próprias fraquezas. E segue: para que esse processo tenha sucesso, é imprescindível que o pensamento crítico seja substituído por percepções individuais de mundo, onde os fatos históricos são relativizados para justificar a desumanização do outro. O “cinismo substitui a esperança”, e através de uma mistura de “amnésia social, justiça punitiva e teatro de crueldade”, ações que seriam exasperantes são “cada vez mais aceitas por segmentos do público que recusam ou são incapazes de conectar problemas e preocupações privados com forças sistêmicas mais amplas”.

O fascismo neoliberal é a expressão máxima de uma cultura política que “erode a memória, substitui a emoção pela razão, abraça o anti-intelectualismo” e o individualismo, enquanto, ao mesmo tempo, instrumentaliza medos e preconceitos profundamente enraizados no tecido social.

A violência estrutural é reduzida à tal “polarização”; políticas imperialistas que induzem crises devastadoras são justificadas pela retórica da “segurança nacional”; decisões de organismos internacionais só são acatadas quando são convenientes. É por isso que os Estados Unidos, por exemplo, se reservam ao direito de torturar prisioneiros ou atacar uma cidade síria com fósforo branco ou ameaçar com sanções membros de organismos multilaterais que ousem investigar suas “táticas” de guerra. É por isso que vemos demonstrações de apologia à violência dos mais diversos matizes sendo encaradas com uma naturalidade assustadora – a banalização do mal, como diria Hannah Arendt. Não deixa de ser significativo que membros da administração Trump tenham buscado falar com Bolsonaro depois da facada, enquanto, salvo engano, o atentado a tiros à caravana de Lula ou o assassinato de Marielle não receberam a mesma atenção.

Quando as articulações sociais que visibilizam o sofrimento humano são destruídas, e o individual prevalece sobre o coletivo, tudo é passível de ser justificado ou relativizado. Cabe a nós nos perguntarmos quem ganha com isso.

Veja a análise em vídeo:



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