sexta-feira, 17 de abril de 2020

O pacto do "presidente" com a morte, por Ricardo Lodi, reitor da UERJ


    "É difícil saber o que leva o mandatário a trilhar por esse caminho destinado a condenar a morte milhares de brasileiros.  Talvez a falta de empatia com os destinos dos seus governados, o que ficou simbolizado pelo gesto de cumprimentar uma eleitora após limpar o nariz."




Do site de estudos jurídicos Justificando:


 Segunda-feira, 13 de abril de 2020

O pacto do presidente com a morte


Por Ricardo Lodi, reitor da UERJ

É desesperador ver que o isolamento social vai sendo derretido, a partir da campanha diuturna do presidente da república pela aglomeração de pessoas pelas ruas do Brasil.  Pelo período de incubação, essa conta vai chegar daqui a uma semana. E, pelos números já disponíveis, a desgraça vai se abater mais tragicamente nas camadas mais pobres da população, onde a palavra de um presidente tem um peso mais decisivo diante da pouca informação científica sobre a doença, conforme já revelaram as últimas pesquisas de opinião. 
 É difícil saber o que leva o mandatário a trilhar por esse caminho destinado a condenar a morte milhares de brasileiros.  Talvez a falta de empatia com os destinos dos seus governados, o que ficou simbolizado pelo gesto de cumprimentar uma eleitora após limpar o nariz. Ou ainda seja apenas o descontrole mental de alguém que está a anos luz das responsabilidades que o momento exige. 
Mas, sem prejuízo das hipóteses acima, o meu palpite é que o desespero do presidente se deve ao fato de intuir que o espírito de coesão social necessário para que a sociedade brasileira possa vencer o vírus compromete os alicerces do bolsonarismo. É sabido que o presidente só cresce em ambiente de confronto com o outro, identificando um adversário a ser destruído. E o vírus, carecendo de características antropomórficas, não reúne as condições de ocupar esse espaço no imaginário bolsonarista.  
 Como não reúne condições de liderar o povo todo por um objetivo comum, insiste no confronto, sua única jornada possível.
 Com isso, celebra um pacto com a morte dos seus concidadãos, indiferente aos resultados humanos da sua estratégia pela sobrevivência política.
 Quando, daqui a poucos dias, os números se multiplicarem e se transformarem em nomes de pessoas conhecidas de cada um, deverá ser o seu fim. 


Ricardo Lodi é reitor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Advogado.

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