As
complicações políticas e policiais que cercam o presidente e seu clã se
avolumam e projetam turbulências ainda maiores que em 2019.
A maior das ameaças
por Orlando Silva, no GGN
Os ataques cada vez mais destemperados de
Bolsonaro e seus principais auxiliares à imprensa, aos jornalistas, ao
parlamento, ao Supremo e a quase tudo aquilo que ainda lembra a
institucionalidade democrática brasileira são evidências de que vivemos
tempos anormais – e muito perigosos.
Aqueles que acreditaram que Bolsonaro seria
moderado pelo exercício do poder deram com os burros n`água e agora
percebem, perplexos, que estamos diante de um presidente autoritário por
convicção e com aspirações a déspota. O “teste de estresse”
institucional permanente, conforme apontou Sergio Fausto, diretor da
Fundação FHC, em entrevista ao Valor Econômico, é o modus operandi do
bolsonarismo, com vistas a solapar a democracia e não a aperfeiçoar.
A tática consiste em atacar sempre e em
várias frentes. Havendo reação à altura, ensaia-se um arremedo de recuo a
pretexto de má compreensão ou distorção daquilo que foi dito.
Mantendo-se em ofensiva permanente, Bolsonaro pode desviar o foco de
assuntos que lhe são desfavoráveis, como a estranha morte do miliciano
da cozinha de sua família, e avançar linhas rumo ao arbítrio,
transformando as aberrações em “novo normal” da política.
Vou exemplificar para tornar mais nítido. O
país mal se recuperou da grotesca e misógina afirmação do presidente
sobre a repórter Patrícia Campos Mello – caso claro de quebra de decoro,
diga-se – e seu braço direito, General Augusto Heleno, resolveu voltar
suas baterias contra o parlamento: “Não podemos aceitar esses caras
chantageando a gente. Foda-se”, disse. Na mesma semana, dois golpes
contra colunas mestras da democracia, a imprensa livre e o legislativo
independente.
O
ministro-chefe do GSI, inclusive, é reincidente em seus rompantes
antidemocráticos. Basta lembrarmos que o general participou das
manifestações de nítido viés fascista, em meados do ano passado, que
tinham entre suas pautas o fechamento do STF e do Congresso, ou da
contemporização quando Eduardo Bolsonaro ameaçou o país com a reedição
do AI-5, entre outras posturas absurdas.
É muito preocupante o tipo de relação
estabelecido pelo governo e figuras provenientes das forças armadas.
Atualmente, os postos mais importantes do 1º escalão, aqueles do entorno
do presidente, são exercidos por militares. As Forças Armadas
desempenham importante papel institucional, são uma carreira de Estado,
respeitadas pela sociedade. Esse valor simbólico, recuperado décadas
após o término da ditadura, pode ser maculado ao deixarem que a
instituição seja confundida com as idiossincrasias do presidente ou do
governo.
O ano não será nada fácil para o país e
para o governo. Os sinais apontam que a economia continuará se
arrastando, sem a prometida retomada vigorosa. As complicações políticas
e policiais que cercam o presidente e seu clã se avolumam e projetam
turbulências ainda maiores que em 2019. Acoado e sem resultados a
mostrar, a tendência é que Bolsonaro e seus sequazes se tornem mais
agressivos e flertem com a ruptura.
Os otimistas dizem que as instituições
estão funcionando, mas talvez a prudência recomende o questionamento no
lugar da afirmação: funcionarão por quanto tempo? Daí a necessidade
premente de unir as forças políticas e a sociedade para defender o país
da maior das ameaças.
Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB-SP
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