segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Finalmente, vai caindo a ficha sobre o risco Bolsonaro, por Luis Nassif


  É o que acontece com a constatação tardia e, agora, na moda – de que a família Bolsonaro está montando um grupo paramilitar com os escalões inferiores da polícia e com seus aliados milicianos. Daqui a pouco, se não houver uma ação firme das instituições, haverá a adesão de empresas de segurança, dos garimpeiros e clubes de tiro.

Do GGN:

New york, USA - August 18, 2017: Microsoft excel menu on laptop screen close-up
Nos anos 90, já havia identificado esse modelo de propagação da notícia.
A primeira onda é dos especialistas, que enxergam novos fatos ou novas maneiras de analisar uma questão. Ficam sozinhos por algum tempo até aparecer uma segunda onda, de analistas de primeira linha assimilando e difundindo os conceitos pioneiros.
O caso vai ganhando forma e, então, é assimilado pelo analista fast-food, o que responde exclusivamente às demandas do momento. Esparrama dos jornais para as rádios e TVs. O fast food pega a bandeira e sai desfilando pela avenida.
É o que acontece com a constatação tardia e, agora, na moda – de que a família Bolsonaro está montando um grupo paramilitar com os escalões inferiores da polícia e com seus aliados milicianos. Daqui a pouco, se não houver uma ação firme das instituições, haverá a adesão de empresas de segurança, dos garimpeiros e clubes de tiro.
No caso atual do Brasil, a onda inicial, de minimização dos arroubos de Bolsonaro, se deveu a dois elementos.
O primeiro, a má consciência coletiva do período anterior, de escandalização visando preparar o clima de confronto, tempos em que até mudanças em perfis de jornalistas em Wikipedia eram tratados como atentado à imprensa e compras de tapioca com cartão corporativo como crimes contra o patrimônio público.
Se fosse aplicar para o período Bolsonaro o critério da proporcionalidade, o estoque de adjetivação seria insuficiente. E poderia desmascarar o ativismo midiático do período anterior.
O segundo ponto a explicar a leniência com Bolsonaro foram as tais reformas. Dar corda a Bolsonaro seria um risco calculado para se obter a destruição final de qualquer forma de estado de bem-estar. Depois, ele seria jogado de volta à jaula. Só agora descobrem que a fera pouco se lixa para o chicote do domador-mídia.
Esses movimentos, de minimização do risco Bolsonaro, foram potencializados por uma nova praga que assola o país, os analistas políticos online – e não está se falando dos terraplanistas, mas de analistas com currículo.
Antes, eram fontes em permanente disponibilidade para a mídia, sempre dispostas a observações de senso comum, cobertas com o creme de leite dos currículos, sobre temas do momento. Agora, as demandas do Twitter obrigam a várias intervenções diárias. Como o desafio é ganhar curtidas e adesões, o analista não enfrenta as ondas. Só faz apostas pró-cíclicas, de confirmação da onda. E não poder mostrar dúvidas: o Twitter exige certezas cegas; dúvida é sinal de fraqueza.
Cria-se o cenário estático. Tipo, o futuro é o retrato do presente. Se as instituições seguraram hoje os Bolsonaros, significa que segurarão amanhã. Como eles gostam de dizer: é um dado, como se o conhecimento científico fosse decorrência da descrição estática do fato.
Análises de cenário exigem duas características básicas, que vão muito além do conhecimento das pesquisas eleitorais. Uma, o conhecimento e discernimento para identificar as forças determinantes, entender seus limites e potencialidades; pesquisas eleitorais são apenas um dos elementos de análise O segundo, a imaginação criadora de tentar prever a resultante final desse jogo de forças. São qualidades que não se aprende na escola.
Não é tarefa fácil. A maneira de separar o especialista do chutador é através da análise das premissas utilizadas e das conclusões finais. Não se trata de mero conhecimento especialista sobre pesquisas de opinião, mas da capacidade de entender múltiplos cenários, o dos diversos grupos de militantes bolsonaristas, dos fatores de impacto na opinião pública, os efeitos da economia, a maior ou menor coragem do STF e chegar intuitivamente à resultante final.
E não se trata de conclusões taxativas, mas de alertas, sinalizações. Tipo, se nenhum desses fatores for alterado, o carro irá em direção ao precipício.
É por isso que alertas de Marcos Nobre, filósofo, conseguem ir muito além das conclusões de cientistas políticos que se alimentam exclusivamente de pesquisas eleitorais e de fatos do momento.
Espera-se que a constatação do risco Bolsonaro estimule decisões dos demais poderes. Antes que o poder das milícias se torne irreversível.


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