Peça 1 – a queda da indústria em 2019

A indústria caiu 1,1% em 2019, em cima de uma base já deprimida.
Não são apenas os resultados conjunturais que assustam. Há uma política deliberada que poderá destruir o que resta do parque industrial brasileiro.
Não se viu uma manifestação de classe do setor, especialmente das duas federações mais relevantes, a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).

Peça 2 – o fim do BNDES e da Petrobras

Ambas as instituições são peças centrais na industrialização brasileira, o BNDES como financiador, a Petrobras como indutora de industrialização, com suas parcerias tecnológicas e poder de compra.
No caso do BNDES, além da redução do funding, houve o encarecimento dos custos do financiamento, para se aproximar dos valores praticados pelo mercado.
Não se viu uma manifestação relevante da parte das associações do setor.

Peça 3 – o fim da reserva de mercado para as compras públicas

Na última reunião do Fórum Econômico Mundial, e na tentativa de acordo com a União Europeia, Paulo Guedes acenou com o fim da reserva de mercado das compras públicas para empresas nacionais.
Agora, se fala em redução tarifária geral para importações, sem negociação de contrapartidas.
Não se ouviu uma manifestação sequer das associações do setor.

Peça 4 – o fim do sistema de inovação

Peça central de competitividade, através do MEC (Ministério da Educação), o governo Bolsonaro avança célere na destruição do sistema brasileiro de pós-graduação e do papel das universidades como polos de inovação.
Não se viu uma reação sequer das associações de classe.

Peça 5 – o quadro mundial

Além do advento da China e da Ásia como grandes potências globais, está em curso um processo acelerado de industrialização de países africanos, sob influência da China. Em breve Etiópia, Nigéria e outros países estarão competindo com empresas brasileiras, em uma quadra da história na qual não existe um projeto sequer de defesa da indústria do país.

Peça 6 – o quadro interno

A queda dos juros e a desvalorização do câmbio, por outro lado, criou um impasse para industriais. Durante décadas, eles compensavam a perda de competitividade com câmbio apreciado, facilitando a importação e a maquiagem, e juros altos, permitindo ganhos financeiros.
Agora, não se tem nem um, nem outro.

Peça 7 – novas lideranças

Hoje em dia, FIESP e FIRJAN não são mais presididas por industriais. Paulo Skaf, da FIESP, vive de rendas; Jorge Hilário Gouvea, da FIRJAN, vive de investimentos.
Gouvea é descendente do grande João Pedro Gouvea Vieira, que nos anos 40 assumiu o grupo Ipiranga e sempre fio uma voz respeitada em defesa dos interesses da indústria e do país.
Assim como muitos outros industriais, a família vendeu a empresa, tornou-se investidora, sem relação mais com a indústria, mas não abriu mão da representação política.
É por isso que em São Paulo e no Rio de Janeiro começam a se articular industriais sérios, visando a renovação dos comandos e a eleição de industriais autênticos, compromissados com a indústria e com o país.
Não haverá mais industrialistas como Roberto Simonsen, Horácio Lafer, Antonio Ermirio, Villares, Bardella, Paulo Cunha, Gerdau. Mas está na hora da indústria encontrar uma nova geração, mais desprendida e corajosa do que presidentes que usam as federações como escada apenas.


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